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Petroinfelicidade manifesta

Há alguns meses briguei com um amigo de longa data por causa da Petrobras. Ele me disse que era acionista da companhia e que o preço subsidiado do combustível estava reduzindo os rendimentos das ações dele.

Disse-lhe na oportunidade que a Petrobras era uma empresa controlada pelo poder público que explora um monopólio e tem mais obrigações para com o país do que para com seus gananciosos acionistas. Ele ficou irritado e disse-me que os direitos dos acionistas deveriam ser respeitados porque eles capitalizam a empresa adquirindo as ações que a mesma lança no mercado. Encerrei a conversa dizendo-lhe que ninguém era obrigado a ser acionista de uma companhia que dava prejuízo e que ele poderia vender as ações da Petrobras.

Hoje fiquei sabendo que a Petrobras vai aumentar o preço dos combustíveis. Suponho que meu amigo, que me bloqueou no Facebook desde nossa última discussão, esteja satisfeito. As ações dele certamente irão subir e ele poderá receber rendimentos substanciais em razão do aumento do lucro da companhia. Duvido muito, porém, que ele fique satisfeito em pagar mais caro para encher o tanque do carro e da moto dele.

O aumento dos combustíveis é bom para os acionistas da companhia e ruim para os consumidores da Petrobras. Para aqueles que são acionistas e consumidores o resultado pode ser nulo. Uma parte maior dos rendimentos do meu ex-amigo serão devorados  pela própria Petrobras toda vez que ele abastecer seus veículos. Ele é especialista em informática, professor universitário de lógica e um profundo conhecedor de matemática.

Suponho que o Rogério Neves é capaz de calcular exatamente que porção de seus novos rendimentos ele terá que desembolsar para encher os tanques de seus veículos. E não ficarei surpreso se os gastos dele se tornem maiores do que os benefícios que ele receberá da Petrobras em razão do efeito cumulativo do aumento dos combustíveis nos demais produtos que ele mesmo consome.

Assim é a economia. O que parece uma vantagem se torna um fardo. O que parece um fardo, porém, pode ser uma vantagem. A Petrobras manteve os preços dos combustíveis estáveis e baixos por um longo período. Todos ganharam com isto, inclusive os acionistas que são consumidores da companhia. Por isto não darei atenção aos lamentos deles agora que o combustível vai ter seu preço corrigido.

“Vendam suas ações da Petrobras na alta e passem a andar de bicicleta.” Este é o único conselho que dou aos interessados neste momento sejam ou não meus amigos.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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