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Rafael e Ricardo, dor e sadismo

Pensando em dois casos, o de Rafael Braga e o de Ricardo Nascimento (o carroceiro assassinado pela PM em Pinheiros),  lembro-me da assustadora  relação entre prazer, sadismo, opressão e assassinato.

O que se passou na mente dos PMs que assassinaram Ricardo? Posto que ato descabido, houve, naquele momento, gozo? O gozo da potência total? Sentiram prazer, os policiais? Ao voltar para casa, no seu íntimo, sentiu-se mais forte, o assassino? Orgulhou-se? Excitou-se?    Entre os que condenaram Rafael a onze anos de prisão por porte de 0,6 gramas de maconha e uma e pouco gramas  de cocaína (se é que eram dele, pois poderiam ser “plantadas”) ,  não haverá neles algo de verdadeiramente sádico? Esse sadismo que goza com a desgraça do humilhado.  O prazer de ver  a humilhação, o desamparo – tão mais grande quanto mais injusta a condenação –  na expressão  – no brilho do olhar mesmo-  da  presa de seu poder?

Sim, poder. O afrodisíaco daqueles que Dyonisus  não beijou a face. A bad trip.

Já perceberam a analogia entre o estupro e o assassinato?  Ou com a fria condenação hipócrita? Quanto calor não haverá nas mãos – ou no peito, ou,…-  de quem assina uma pena?  

O gozo de ver o desespero no olhar do outro. O gozo daquele que é um ninguém, que precisa humilhar e maltratar para ser alguém.  Somente naquele momento ele  consegue se sentir “valorizado”, pois tem toda a atenção de sua vítima.  Temos muitos destes “eles” entre nós.

Como professor universitário, conheci colegas que “pisavam” em estudantes que tinham problemas, estavam frágeis. Não usavam armas ou sentenças, mas humilhavam. Com intensidade e consequências  muito distintas, também se sentiam “mais”… mais homens, mais importantes, mais fodões. De certo, de noite teriam um sexo mais selvagem, sendo mais alfas, sendo mais… gorilas.    

Eros e Tânato.

“Às margens do Lago Léman, sentei-me  e chorei”, diz T.S. Eliot.

Choremos por Rafael(que logo o libertem) e Ricardo. Por tudo que há de simbólico neles. Que neles nos reencontremos com nossa humanidade.

 

 

 

 

 

Redação

Redação

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  • Linhas tortas

    Penso que Rafael ainda fará deliciosas caipirinhas desse limão estragado que a vida tem lhe dado desde o nascimento.

    Ele sairá  tão fortalecido quanto saiu a  Dilma Roussef da ditadura.

    Não é possível que tanta injustiça contra uma só pessoa seja obra do acaso.

    Torço por ele.

     

     

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