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Suzana Singer defende jornalismo de alcova

 

Esse ano tivemos um exemplo de dignidade jornalística. Na inglaterra.

Um dos diretores da BBC pediu demissão, porque deixou escapar num programa, que nem era de sua responsabilidade direta, lamentáveis ilações acerca de um parlamentar.

A dignidade veio na forma de um pedido de desculpas e de demissão por parte de George Entwistle. Logo depois da crise instalada e rapidamente desfeita com a atitude louvável do diretor, a própria BBC dedicou bons momentos à discussão sobre os limites do jornalismo. Mostrou maturidade, poder de autocritica e respeito à sociedade.

Agora um exemplo de indignidade no jornalismo.

Seguindo a Veja, a Folha de S. Paulo investe contra a vida privada de Lula. Com motivações políticas e na tentativa de atingir o ex-presidente levanta uma série de ilações, especula sobre o que teria ocorrido em viagens oficiais, tenta adivinhar o que teria sido dito nos supostos telefonemas, assim como brinca com o que pensaria a esposa do ex-presidente.

O que Suzana Singer defende parte de três hipóteses.

1. Lula tem um caso

2. O caso tem influência política 

3. Tal influência levou a facilidades para cometer ilícitos

Só com muito esforço e pouco estoicismo, é possível alguém assertar de forma tão convicta que a ligação entre as três hipóteses já está dada. Num exercídio de lógica básica, diríamos que, mesmo que a primeira fosse provada, as outras duas poderiam não ser verdadeiras.

Sabemos que jornalistas não se preocupam muito com lógica (mas sim com narrativas interessantes, que tornam a lógica muito enfadonha).

Pior: a primeira hipótese não encontrou até agora qualquer comprovação. O que há são ilações feitas pela própria imprensa, fofoca, malediências, jogo de intrigas, especulações. E só. Falta provas no sentido exato do termo.

Poderia concordar com Singer, que não é tão despreparada assim para o cargo, mas infelizmente devo dizer que ela está defendendo ilações e não fatos. E ilações sobre a vida privada são o exemplo mais lamentável de jornalismo de alcova.

Singer sabia que pessoas sérias, leitores críticos não iriam gostar do que viram. A pressa, antes mesmo de receber as críticas, de defender o jornal mostra que Singer tornou-se nesse episódio menos ombudsman e mais assessora de imprensa.

Se a ocupante do cargo acredita que ilações sobre a vida íntima, com risco de grande prejuízo á vida familiar das pessoas citadas, é dever da imprensa, é porque está confundindo seu papel.

Mostra ainda que o cargo não tem nenhum valor real, é apenas simbólico, visto que as críticas mais consistentes já há tempo vêm de fora do jornal ou de colunistas como Jânio de Freitas.

Singer vem se notabilizando por defesas apaixonadas das más práticas dos Frias. Quem não se lembra das suas posições sobre o caso Dilma-Dops?

Se Suzana Singer ocupa um cargo simbólico, incapaz de perceber que o jornalismo de alcova é um mal para a sociedade e não um bem, não só a ombusdman deve ser interpelada, mas o ideal mesmo seria extinguir a função.

Suzana, mais assessora que ombudsman, poderia sim aprender mais com exemplos de dignidade no jornalismo. Poderia ler e reler o caso BBC. Se tiver paciência, poderia também ler alguns artigos científicos, e algumas obras de iniciação á lógica.

Em tempo: Contam-me que, num curso para trainées na Folha, Singer criticou duramente o livro de Amaury Ribeiro Jr sobre a Privataria Tucana, dizendo que o texto não trazia qualquer prova: apesar dos mais de 100 documentos oficiais que ele trazia.

Se ela considera ilações como provas, e provas como ilações, é porque talvez não possa ser nem assessora – que também, embora não precise muito da lógica, demanda certo rigor jornalístico.

Uma sugestão é que se candidate a uma vaga de secretária de Otávio Frias. Ali pode cumprir melhor, de forma competente, e sem disfarce, as ordens do chefe.

 

 

Redação

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