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Tragédias paralelas: Rússia dos anos 1990 e Brasil dos anos 2020

Em 17 de dezembro de 2016 publiquei aqui mesmo no GGN minhas observações sobre a economia nem-nem de Michel Temer https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/keynesianismo-neoliberalismo-e-a-economia-nem-nem-do-usurpador.

Desde então o quadro não mudou. Os investimentos internacionais desejados por Henrique Meirelles não chegaram. O isolamento diplomático do Brasil não foi rompido por José Serra. Com ajuda da grande imprensa, regiamente subornada com verbas publicitárias estatais, Michel Temer tenta manter o clima de otimismo. Mas a verdade nua e crua é o fracasso do governo dele.

A luz no fim do túnel é apenas uma lâmpada que sinaliza menos atividade industrial, maior desemprego e o empobrecimento visível da população brasileira. Não falta muito para o desespero se transformar em ação. Afinal, a fome é sempre um adversário político que não pode ser contornado pelo governante que a provocou.

Quando assumiu, Michel Temer disse que estava construindo uma ponte para o futuro. Oito meses depois, o futuro construído por Temer é semelhante àquele que germinou na Rússia após a queda da URSS.

Na década de 1990 o objetivo de Boris Ieltsin era:

“…conduzir a Rússia para a economia de mercado. Quando se encontra em posição de força, ele promove a liberação dos preços e as privatizações, mas é contido pelas consequências econômicas e sociais dessas medidas: inflação gigantesca, alta de preços, desemprego, etc.” (História do Século XX, volume 3,  Serge Berstein e Pierre Milza, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 2007, p.368)

Apesar de um recuo tático, após as eleições de 1993, Bóris Ieltsin:

“…impõe uma via intermediária de desenvolvimento econômico que conciliaria as reformas preparatórias à adoção da economia de mercado e traria a inflação para uma média mensal de 3% e 5%. Essas reformas são indispensáveis para preservar a confiança do Ocidente, que ajuda financeiramente a Rússia, e para manter o custo social abaixo do patamar que provocaria uma convulsão social. Essa política começa a dar resultados em 1995.” (História do Século XX, volume 3,  Serge Berstein e Pierre Milza, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 2007, p.369)

O sucesso da mudança de curso, porém, foi medíocre.

“De fato, a grande vítima das reformas econômicas parece ser a sociedade russa. A renda caiu 12% em 1995. Mais de um quarto da população, que equivale a 40 milhões de pessoas, vive abaixo do nível de pobreza, e o número de pobres aumentou 12% em 1995. O desemprego, que as estatísticas oficiais dizem ser de 8% da população economicamente ativa, mas que se acredita estar na casa dos 14%, também está em alta e a esperança de vida dos russos não chega a 60 anos de idade.”  (História do Século XX, volume 3,  Serge Berstein e Pierre Milza, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 2007, p.369)

Apesar da rápida deterioração da economia brasileira o tripé da miséria (Michel Temer/Henrique Meirelles/José Serra) demonstra estar obsedado pelas idéias neoliberais. Eles pretendem sacrificar os brasileiros e o Brasil para provar que estão certos mesmo que os fatos demonstrem que eles estão errados. Nesse sentido, o tombo do nosso país pode ser maior e mais doloroso do que aquele que foi enfrentado pela Rússia.

Todavia, o que desponta no horizonte do país não um duplo do eficiente Vladimir Putin e sim o genocida Jair Bolsonaro. Se Lula for afastado da disputa presidencial (como querem os jornalões, os tucanos e a parcela do PMDB comandada por Temer), as chances do ex-militar falastrão chegar ao poder serão muito grandes. Alea jacta est… já estamos atravessando a pinguela nem-nem de Michel Temer em direção ao programa “menos educação e mais chacinas” do novo führer tupiniquim. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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