Após a decolagem, a tripulação recebeu orientação do ATC para tomar a proa magnética 220. O VOR de Anchorage não estava operacional, pois passava por uma manutenção de rotina. Logo depois, recebeu autorização para voar direto para o VORTAC Bethel. Após Bethel, o 747 deveria entrar na Aerovia Romeo-20, uma das cinco grandes (50 milhas náuticas de largura) aerovias que atravessam o Pacífico Norte da América do Norte para o Extremo Oriente.
A tripulação deveria engajar, no piloto automático, o modo INS (Inertial Navigation System), que faria o avião seguir uma rota de Círculo Máximo (ortodrômica) para Seul. Mas os pilotos colocaram a aeronave para voar no modo HDG (Heading = proa), que faria a aeronave manter uma proa magnética praticamente constante de 245 graus após Bethel, o que teve o efeito prático de desviar o curso do voo para a direita, ao Norte.
Inacreditavelmente, os pilotos deixaram a aeronave manter a proa 245 no modo HDG por cinco horas e meia, sem selecionar o modo INS para seguir a rota planejada, e o avião, voando bem ao norte, acabou se desviando cada vez mais da sua rota planejada e passou a sobrevoar, inadvertidamente, a inóspita mas altamente protegida Península de Kamchatka, território soviético repleto de instalações militares estratégicas, pela sua proximidade com a América do Norte.
Os russos soaram o alarme, ativando unidades de caça Sukhoi Su-15 e Mikoyan Mig-23 próximas. Dois Su-15 (foto abaixo) da base aérea de Dolinsk-Sokol interceptaram o avião. Um piloto de Su-15 avistou o Boeing 747, reportou ter avistado a aeronave, e recebeu ordens para atirar. Disparou dois mísseis ar-ar Kaliningrad K-8, que atingiram o 747 e o derrubaram. O piloto do Sukhoi, Gennadi Osipovich, declarou depois que tinha dado tiros de advertência antes de disparar os mísseis, mas sua alegações nunca puderam ser comprovadas. O Boeing 747 da Korean caiu em espiral no mar, a 55 milhas de distância da ilha de Moneron, a sudoeste de Sakhalin, às 18:27 GMT de 1º de setembro. Nenhum dos 269 ocupantes da aeronave sobreviveu.
Os russo recuperaram as caixas-pretas do KAL 007, mas mantiveram o fato em segredo até que, muitos anos depois da queda do regime soviético, o Presidente da Rússia Bóris Yeltsin as entregou às autoridades coreanas. As caixas pretas acabaram revelando o erro de navegação.
Os russos se defenderam, alegando ter tentado estabelecer contato com o 747 por rádio e não obtiveram resposta. Nenhuma transmissão russa foi ouvida pelas aeronaves ocidentais que voavam na área, entretanto. O piloto do Sukhoi afirmou ainda que avistou a aeronave, e a identificou como sendo um avião EC-135 ou RC-135, que são versões militares do Boeing 707, bastante semelhantes ao Boeing 747, especialmente se vistos de trás ou de baixo. O piloto russo declarou, também, que desconhecia quase completamente as aeronaves comerciais americanas.
É importante notar que, no dia anterior ao incidente, um RC-135 americano tinha efetuado uma missão na região, deixando os militares russos em alerta. E, ainda, o 747 da Koren estava fazendo um step-climb quando foi interceptado, mudando o nível de voo para 4 mil pés acima, o que foi interpretado pelo piloto russo como uma “manobra de evasão”.
Depois da tragédia, o Presidente Reagan tomou a decisão de disponibilizar o sistema de navegação por satélites GPS – Global Positioning System para aeronaves civis, assim que o sistema estive totalmente concluído, pois um sistema assim poderia, sem dúvida, ter evitado o erro de navegação que acabou provocando o abate do KAL 007.
Fotos: Airliners.net, Wikipedia, Revista Time.
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25 anos de outro voo comercial erroneamente abatido
Esse ano fez 25 anos (3/07/1988) da derrubada do Voo 655 da Iran Air (IR655). Ele perfazia a rota comercial entre Teerã e Dubai quando foi abatiudo por um míssil anti-aéreo disparado a partir da embarcação USS Vincennes, da Marinha dos EUA, resultando na morte de 290 passageiros, dentre os quais 66 crianças. Conforme as autoridades norte-americanas, o Vincennes identificou erroneamente a aeronave iraniana como um caça militar em procedimento de ataque. Não tenho conhecimento de uma capa da Times a respeito dessa tragédia.
Um aviao comercial cubano foi derrubado (também sem muita repercussão no mainstream) em 1976, matando mais de 70 pessoas. A queda foi em decorrência da explosão de uma bomba colocada no avião por terroristas anti-castristas sediados em Miami. Os EUA negaram-se a extraditá-los para Cuba.