“Xadrez de como a Globo caiu nas mãos do FBI”: dois acréscimos

O relato de Luis Nassif intitulado “Xadrez de como a Globo caiu nas mãos do FBI” é bastante esclarecedor sobre o que ocorre de sujo no mundo do futebol, tendo o Brasil como epicentro. Faria, porém, dois acréscimos de informações ao apresentado.

Um se refere ao mandado de busca e apreensão, no dia 6 de junho último, na residência do vice-presidente da CBF e prefeito de Boca da Mata (AL), Gustavo Feijó. A operação da Polícia Federal, intitulada “Bola Fora”, investiga financiamento ilegal de campanha para o pleito de 2012 paga pela entidade ao cartola – algo em torno de R$ 500 mil. Ele se candidatava pela primeira vez ao município e ano passado foi reeleito.

O assunto era público desde outra operação, chamada “Durkheim”, realizada em 2012, pela PF, na casa do então presidente da Federação Paulista de Futebol e vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero.

Não se tem notícia dos desdobramentos dessa operação realizada no início de junho último, aparentemente banal e fora do tempo – se não envolvesse a CBF. A promessa de ajuda da entidade à eleição de Gustavo Feijó partiu do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira – a revelação consta em e-mails trocados entre Feijó e Del Nero, encontrados em arquivos eletrônicos pela PF na operação de 2012.

O segundo acréscimo refere-se à figura de Kleber Leite, acusado pelo FBI no chamado caso FIFA, assim como outros apontados no relato de Nassif. Kleber Leite exercia na CBF o mesmo papel que J. Hawilla: agenciava contratos em competições da entidade com patrocinadores e emissoras de televisão por meio de sua empresa, a Kléfer.

Nessa empresa, inclusive, a PF chegou a apreender documentos e equipamentos eletrônicos. A operação ocorreu na noite do mesmo dia em que aconteceram as prisões dos dirigentes da FIFA na Suíça (incluindo José Maria Marin), em 27 de maio de 2015. O assunto foi tratado pela mídia na época (veja aqui).

Consta que a ação foi um pedido dos Estados Unidos. O FBI acusa Kleber Leite de dividir pagamentos de propinas e direitos de transmissão da Copa do Brasil com a Traffic, de J. Hawilla, preso nos EUA e principal delator do esquema.

Kleber Leite cresceu seus negócios na CBF no final do longo mandato de Ricardo Teixeira à frente da entidade – o cartola deixou a confederação em 2012, assumindo Marco Polo Del Nero (por isso que Gustavo Feijó, citado na história anterior, cobrava de Del Nero ajuda na campanha prometida por Teixeira, já que o primeiro havia assumido o lugar do segundo).

Romário tentou de todas as formas convocar Kleber Leite para falar à CPI do Futebol no Senado sobre suas operações. Porém, o requerimento de convocação nunca conseguia ser aprovado, com forte atuação da bancada da CBF na comissão. 

Kleber Leite, no entanto, atendeu ao chamado de uma obscura CPI intitulada “Máfia do Futebol”, criada na Câmara ano passado em paralelo a de Romário. Nela, ele se defendeu das acusações.

Assim como Ricardo Teixeira, Kleber Leite segue no Brasil aparentemente sem ser importunado.