Opinião

Bolsonaro mandou matar Marielle?, por Ricardo Mezavila

Bolsonaro mandou matar Marielle?

por Ricardo Mezavila

Apesar dos caminhos teimarem em levar algum dos Bolsonaro na direção do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, as investigações, provavelmente, não chegarão a nenhum deles e podem aportar lá atrás, na CPI das Milícias presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo de quem Marielle era assessora parlamentar. 

De certo, há muitas coincidências no caso, como a do miliciano Ronnie Lessa morar em uma casa alugada no mesmo condomínio do ex-presidente, a suposta ligação afetiva entre Jair Renan e a filha de Lessa, o fato de Élcio Queiroz ter dito na portaria do condomínio que iria na casa 58, o porteiro ter mudado o depoimento e o acesso de Carlo Bolsonaro aos arquivos de visitantes da portaria do condomínio Vivendas da Barra no dia do crime. 

Um ano antes do crime, Marielle e Carlos, que também é vereador, se envolveram em uma discussão nos corredores da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O motivo da discussão, segundo testemunhas, foi Carlos ter ouvido de um assessor de Marielle que ele fazia parte de uma família conservadora que “beirava o fascismo”. 

Em depoimento à Polícia Civil o assessor contou: “Ele perguntou: ‘O que você falou?’ Eu disse que apenas estava apresentando o contexto político local para duas pessoas que não eram do Rio. Aí, ele gritou: ‘Mas você me chamou de fascista’. Eu pedi desculpas e disse que só estava apresentando a minha visão. Disse que não foi com a intenção de provocar”. 

Segundo o site UOL, Carlos Bolsonaro teria entrado no seu gabinete. E, em seguida, voltado para o corredor, acompanhado por assessores. Ao ouvir os gritos, Marielle também saiu, com pessoas que trabalhavam em seu gabinete.  

Segundo o assessor envolvido na discussão, ela se aproximou para perguntar o que estava acontecendo. “Esse moleque está me ofendendo. Ele me chamou de fascista“, respondeu Carlos, segundo a versão apresentada pelo assessor. “Aí, a Marielle perguntou: ‘Mas vocês não nos chamam de um monte de coisa?’. Talvez tenha sido o único momento em que ela foi mais incisiva”, lembrou o assessor.  

É muito provável que o mandante seja alguém muito poderoso ligado à milícia. Milícia que entrou na vida política de Jair Bolsonaro através de seu leal amigo, o então policial Militar Fabrício Queiroz. 

Em todas as eleições que participou, Bolsonaro fez campanha entre militares e pensionistas de militares, defendendo, principalmente, o aumento de salários e pensões. Aproveitando a exposição, Bolsonaro estendeu seu discurso contra a ‘bandidagem’, o que lhe garantiu o selo de defensor da família não só entre vovôs e vovós, mas também entre policiais que se sentiram com a missão de exterminar o ‘mal pela raiz’. 

Quando Flávio Bolsonaro foi eleito para a Assembleia Legislativa com apenas vinte e dois anos, foi vendido como o representante político e ideológico dos “guerreiros fardados” que lutavam por espaço e poder nos territórios do Rio, tendo Fabrício Queiroz como principal articulador da rede de apoio. 

A relação dos Bolsonaro com a milícia foi se estreitando a ponto de condecorarem policiais por ‘serviços prestados’ à sociedade. Como foi o caso de Adriano da Nóbrega, ex-policial e chefe do escritório do crime, morto em uma emboscada na Bahia, supostamente por ‘queima de arquivo’. 

Sob Jair Bolsonaro ronda uma atmosfera e herança sem mérito de fato, do falecido delegado e deputado estadual Guilherme Godinho Sivuca, membro da Scuderie Detetive Le Cocq, que tinha como objetivo a repressão ao crime, executando bandidos ao longo do tempo o que ocasionou a sigla EM, no popular, como referente a esquadrão da morte. Sivuca é o autor da lendária frase “Bandido bom é bandido morto”. 

Talvez a participação de algum dos Bolsonaro no crime de Marielle e Anderson, tenha sido a influência que eles têm na polícia do Rio de Janeiro para dificultar as investigações e, posteriormente, como Presidente da República, utilizar o Ministério da Justiça, com Sérgio Moro na pasta, para aparelhar a Polícia Federal, com o intuito de proteger o seu ‘pessoal’. 

Agora que as investigações estão sem as correntes que as impediam de prosseguir, o crime será finalmente solucionado e que os mandantes e executores sintam a pena forte da justiça. 

Ricardo Mezavila, cientista político

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Redação

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