Opinião

Brasil, o país dos mutilados de alma, por Eduardo Ramos

Brasil, o país dos mutilados de alma

por Eduardo Ramos

Se o mundo não se autodestruir em uma guerra nuclear, é provável que as nações que tenham atingido uma espécie de ápice civilizatório no Direito, na democracia, na justiça social, na capacidade de dar um CHÃO saudável aos seus cidadãos, estudem, por perplexidade e curiosidade, as nações que “não deram certo”, não progrediram, por séculos, sempre atrás nesses quesitos, sempre antros de misérias múltiplas, cinismos, hipocrisias, mentiras, farsas sociais vividas por todos como uma pantomima perversa e doentia.

É certo que estaremos no topo dessa lista deplorável!

Séculos lá na frente, universitários com tecnologias que nem suspeitamos capazes de existir se perguntarão com vergonha, repulsa e horror, como um segmento da sociedade brasileira, nossas Forças armadas, em vez de servirem com dignidade a seu próprio país, seu povo, seus interesses e soberania, curvaram-se tantas vezes a interesses e cobiças de outras nações, deram e/ou apoiaram golpes de Estado, celebraram um juiz de quinta categoria que humilhou e quase levou à morte um certo almirante chamado Othon, digno e sério, como certas mulheres, infelizmente, aceitam e amam homens que as espancam… O que teria feito esses militares festejarem esse juiz, Sérgio Moro, se perguntarão os estudantes, espantados?

Mais ainda: questionarão porque o interesse financeiro mesquinho, o desejo por cargos e poder, os teria cegado para fecharem os olhos a toda a demência e bestialidade de um presidente genocida e absolutamente incapaz de governar seu país. Como puderam trocar por “sopas de ervilhas”, como Esaú, do Velho Testamento, essa dignidade que deveria ser inerente a um homem fardado, quando usa sua farda com a honra que ela merece? Eis algumas das coisas que se perguntarão, é claro, junto com o espanto dos espantos: como foram tão toscos, rasos, fanáticos, em se deixar manipular pelo discurso de que “enfrentavam o velho inimigo de sempre”, os “comunistas”? Pior: liderados, esses militares, por gente como os generais Heleno, o Vilas Boas, o Braga Neto, o Pazuello, pessoas desse nível ético e intelectual… Como se rebaixaram a isso?!?

Se perguntarão esse povos avançados, no futuro, como nossas elites e classes médias celebraram juízes como Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e Bretas. Como se deixaram manipular como Kim Kataguiri e assemelhados, pelas redes sociais? Não estamos falando de homens como Luther King, Buda, Mandela, Gandhi… estamos falando de Kataguiri, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes, Merval Pereira, Eliana Catanhede, Reinaldo Azevedo, Nelson Mota, Rodrigo Constantino, é de gente assim e seus discursos de ódio que estamos falando… E essas sociedades civilizadas do futuro, rirão e chorarão por nós e nossa imbecilidade coletiva catatônica, que nos fez seguir como rebanho a esses “articulistas”.

Rirão, entre divertidos e tristes, com a camiseta usada por nossa classe média: “Eu não tenho culpa, eu votei no Aécio!” – e se perguntarão uns aos outros, se os livros de História não estão errados, se aquilo não era uma espécie de sarcasmo, porque ninguém podia ter orgulho de algo tão patético! Aécio Neves?!?! – e alguns rirão, outros prantearão a insanidade…

E se debruçarão sobre os anos negros “da tal operação Lava Jato”, que “roubou deles o Direito, as garantias individuais fundamentais prescritas na Constituição Federal, os ministros do Supremo Federal, acovardados alguns, cúmplices outros, concedendo poderes ao homem que, por um tempo, foi como que “o imperador de seu país”, o juiz Sérgio Moro”.

E verão, ainda sob um horror total, como tudo aquilo foi festejado como “algo bom e libertador”, pelas classes médias daquele país, até um certo hacker de Araraquara desnudar tudo, mostrando apenas uma pequena parcela da imundície ética, moral e profissional por trás de todo aquele processo perverso e doentio. Uma mistura de sadismo, sede de poder, serviços prestados a uma ideologia e alguns líderes políticos e o massacre cruel e permanente à ideologia, líderes e políticos detestados – a farsa das farsas no mundo-matrix enfermo em que se transformara o trágico país…

E verão milhares de agentes públicos – congressistas, juízes, promotores, militares, etc. – mutilados de alma, além de empresários, barões da mídia e segmentos imensos das elites e classes médias daquele estranho país, todos mutilados de alma, absolutamente indiferentes se sua ignorância, e/ou preconceitos, e/ou fanatismos, e/ou cinismos, e/ou interesses financeiros, provocavam ondas e ondas de fome, desemprego, degradações variadas, humilhações, sofrimentos e a morte de milhões e milhões de seus compatriotas, nas favelas, periferias e grotões do pais.

E a conclusão final dos jovens universitários dessas nações evoluídas do futuro sobre nós, em síntese, seria essa:

“Um país que permite ou celebra Lava Jato, golpes de Estado imotivados, morte impune de um reitor numa operação insana da Polícia Federal, que permite Temer, Bolsonaro, Pazuello, que vende suas estatais e suas riquezas por corrupção, celebra Moro e Joaquim Barbosa, exalta um grupo de procuradores arrogantes, perversos e sedentos de fama e poder, não acaba com a fome e a miséria por pura maldade e indiferença, esse é um país de agentes públicos mutilados de alma, uma sociedade mutilada de alma, uma nação enfim, de alma mutilada…”

E deram o nome final ao seu relatório, esses estudantes, de “Relatório Reitor Cancellier”, em homenagem a uma das vítimas mais trágicas do período mais negro da História desse país, o país das pessoas de almas mutiladas – que foi como eles nos enxergaram e batizaram.

(O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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