Celso Furtado errou de época, mas acertou no propósito, por Rogério Maestri

Celso Furtado errou de época, mas acertou no propósito

por Rogério Maestri

Uma das críticas mais fortes que vários economistas fazem a Celso Furtado é da previsão da “Pastorização” da Economia Brasileira (retorno a economia pastoril) que ele supôs que os militares em 1964 fariam no Brasil. Porém, naquela época, devido aos excedentes de capital e necessidade de passar parte das atividades que necessitassem, além de mão de obra intensiva a baixo custo, de recursos energéticos e ambientais (para serem degradados), a oligarquia brasileira, alinhada ao imperialismo internacional, repassou parte de seu parque industrial obsoleto ao Brasil.

Os próprios teóricos de “esquerda” negaram veementemente a hipótese de Celso Furtado, principalmente os autores da “Teoria da dependência” em que numa segunda linha encontramos um sociólogo chamado Fernando. Com a entrada em cena de um liberalismo com anabolizantes (neoliberalismo) a tal teoria caiu por terra passando os seus adeptos ao simples “desbunde” – expressão utilizada pela esquerda dos anos 70 e 80 para identificar aqueles que negavam tudo o que tinham escrito e daí por diante deitar e rolar nas migalhas que o capitalismo dava aos seus pássaros, ou fizeram uma pequena revisão e começaram a chamada Teoria do Sistema-mundo e outras patuscadas -. A cara de pau de muito destes autores é de se intitularem pós-marxistas, que na verdade são revisionistas do marxismo. Digo cara de pau pois, a cada período, surge uma nova teoria pós-marxistas para serem totalmente invalidadas e terem que partir de Marx para fazerem seu revisionismo.

A derrota sentida por Celso Furtado foi tamanha que apesar de descrever em um de seus últimos livros a Fantasia Desfeita, ele se alia José Sarney, primeiro se tonando elaborador do programa de governo de Tancredo Neves e José Sarney e depois sendo nomeado Embaixador do Brasil perante a Comunidade Europeia para, por fim, de 1986 a 1988 se tornar ministro da Cultura do governo Sarney, um dos representantes máximo de tudo que ele mais deplorava, conforme coloca no livro.

As sociedades que não realizaram qualquer investimento no fator humano até os albores do século atual foram condenadas às piores formas de subdesenvolvimento. A passividade da população, sua inaptidão para organizar-se na ação política, seu profundo sentimento de insegurança, levando-a a buscar proteção, contribuíram para implantar o imobilismo social e a estagnação econômica. A rígida hierarquia social e o monopólio da informação em mãos de poucos explicam a arrogância e o autoritarismo da classe dirigente. Assim, o ecológico, o social e o político se entrelaçam para produzir o duro cimento em que se alicerçou o subdesenvolvimento do Nordeste (FURTADO, 1989, A Fantasia Desfeita, p. 23)

Logo após o golpe de 1964, Celso Furtado prevê a “Pastorização” da Economia Brasileira, semelhante ao proposto pelos norte-americanos logo o pós-guerra de transformar a economia alemã numa imensa fazenda, desindustrializando-a ao máximo.

O que levou este erro de Celso Furtado, primeiro era utilizar exatamente o exemplo errado, e segundo é que o capitalismo, assim como o comportamento econômico da humanidade, é que estes jamais se movem por ideologias, mas sim por conveniências e por algo que é negado por todos os não marxistas, a luta de classes.

Porém, por que a hipótese de Pastorização da Economia Brasileira é atualmente viável?

A explicação é simples, porque hoje em dia convêm!

Vamos olhar as evidências. Durante muito tempo os imperialistas simplesmente utilizaram todo e qualquer meio para proteger suas indústrias, o caso do Império Britânico perante a Índia e a China é claro. Na Índia tudo era feito para que os indianos utilizassem somente tecidos ingleses e que na direção contrária isto não ocorresse. Para quem não saiba, no fim do século XVII o comércio industrial entre a Inglaterra e a Índia era superavitário para os indianos, principalmente pela entrada em massa da chita indiana (chita =tecido de chita) que era barato e popular, os ingleses num primeiro ato proibiram a importação (Calico Act em 1700) e num segundo ao uso (Calico Act em 1721), liberando em 1730 a venda de chita inglesa. Em 1774 os produtores ingleses capitalizados pela falta de concorrência e industrializados pela ausência de mão de obra abundante aceitaram a revogação desta lei e passaram a exportar para a Índia.

Na China ocorreu a famigerada Guerra do Ópio, que obrigou que a China conservasse o consumo de ópio inglês que eles traziam do Afeganistão.

O Imperialismo é simples nas suas resoluções, o que dá lucro para eles é moral, o que não dá é coisa de selvagens e imorais, logo se tiverem que destruir (e o que estão fazendo) toda a indústria brasileira nacional ou internacional no Brasil, para preservar o emprego e a paz nos seus países, destruirão. E ponto final.

Redação

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