Da BBC Brasil
Lula diz à ‘Economist’ que não interferirá no próximo governo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista ao site da revista britânica The Economist, publicada na quinta-feira, que não pretende interferir no governo do seu sucessor.
“Um ex-presidente deve se recolher para algum lugar confortável e tranquilo, e não ficar dando palpite sobre política nacional, deixando seja lá quem for eleito governar o país, cometer erros e acertar, mas deixando eles governarem o país”, disse Lula.
O presidente prometeu que continuará ativo na política, mas disse que ainda não pensou no que pretende fazer após o dia 1º de janeiro. Ele afirmou que não quer tomar nenhuma decisão precipitada sobre seu futuro.
LulaLula disse que como ex-presidente trabalhará para tentar aprovar a reforma política.
“Agora eu estou me comprometendo, quando eu não for mais presidente, a começar a convencer o meu próprio partido, porque eu acho que esta é a principal reforma que temos que fazer no Brasil, para que possamos [depois] fazer as demais reformas”, disse Lula ao site da revista britânica.
Lula diz que depois de convencer o PT sobre a importância das reformas, ele poderá trabalhar junto com os demais partidos na aprovação da reforma.
O presidente considera que só uma reforma política poderá gerar “partidos fortes e um Congresso forte, para que quem sente nesta cadeira [de presidente] possa firmar acordos importantes com os partidos políticos e os líderes dos partidos”.
Sem a reforma, Lula diz que o fator decisivo na política brasileira é “a força individual de cada cidadão, de cada região”.
Frustração
O presidente disse à revista que se sente “frustrado” por não ter visto a reforma política aprovada no seu governo, e atribui isso ao fato de “as pessoas não gostarem de mudança”.
“Eu aprendi muito e acho que isso vai permitir que, uma vez que eu não seja mais presidente e tenha mais liberdade, eu discuta temas que, como presidente, eu não queria discutir, porque eles não estavam sob a minha competência”, diz Lula à revista.
Lula também sugere que como ex-presidente poderá ser mais influente na discussão sobre a reforma das leis trabalhistas, ajudando empregadores e trabalhadores a chegar a um consenso.
Lula revela que “a sua maior surpresa” ao chegar ao governo foi se deparar com “as dificuldades que o próprio Brasil cria para si, com legislações excessivas” que atrasam as decisões do Executivo.
Petrobras e Oriente Médio
Na longa entrevista ao site do The Economist, o presidente brasileiro aborda diversos temas, como o maior controle do Estado sobre a Petrobras, as negociações de paz no Oriente Médio e sugestões para o seu sucessor.
Sobre a Petrobras, o presidente defende que o “petróleo pertence ao governo” e afirma que a receita das descobertas do pré-sal precisa beneficiar a população brasileira. O novo marco regulatório do setor, para Lula, é melhor do que a estrutura anterior, que “funciona bem apenas para as empresas petrolíferas”.
Lula criticou o processo de negociação de um acordo de paz no Oriente Médio. Segundo o presidente brasileiro, as discussões não incluem todas as vozes necessárias para se chegar à paz.
“Cada vez que eles sentam para conversar, eles ganham um Prêmio Nobel. Eles deram dez Prêmios Nobel pela paz em Israel e Oriente Médio, e a paz não aconteceu. Essas pessoas deveriam devolver seus Prêmios Nobel, já que não há paz.”
Sobre o próximo presidente brasileiro, Lula diz que o seu sucessor deve “fazer política com o coração, cuidar dos mais pobres e praticar a democracia até o fim absoluto”.
O presidente diz acreditar na vitória de sua candidata, Dilma Rousseff, que “surpreenderá o mundo” quando chegar ao poder.
“A Dilma é tão democrática quanto eu, tão socialista quanto eu e tão responsável quanto eu. Talvez por ser mulher ela possa fazer mais, porque precisamos dar mais poder às mulheres na política”, diz Lula.
Lula diz que seu sonho é ver o próximo presidente ajudar mais pessoas pobres a chegarem à classe média pobre.
Ele disse que não pensa, no momento, em se candidatar à Presidência em 2014.
“Terei 68 anos. Aos 68, os anos pesam. Se eu eleger a Dilma e ela for boa, ela terá que ser candidata à reeleição.”
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