Cafonice, coincidência ou cálculo?, por Ricardo Cappelli

Cafonice, coincidência ou cálculo?

por Ricardo Cappelli

No lançamento do projeto que permitiu a venda de remédios fracionados, Lula exercitou toda sua genialidade de comunicador popular. “Quando você vai ao bar tomar uma cachaça, você precisa comprar a garrafa inteira? Não, você pede uma dose. Por que você precisa comprar a caixa de remédio se não vai tomar tudo? Compra só a dose”, explicou o ex-presidente.
A imagem de Bolsonaro caído com a cara na grama após marcar um gol causou frisson em setores progressistas. “O animal está pastando!”, “Cafona!”, “Ridículo e fanfarrão!” Será?
Será que uma parte dos críticos são os mesmos que ficaram envergonhados com a cena de Lula carregando uma caixa de isopor na cabeça?
O que o povo faz todo final de ano? Joga uma pelada de casados e solteiros, cara na grama, rolando na lama, gol impedido, gargalhadas sem fim. O resultado é o que menos importa. Ao final, o verdadeiro objetivo: tomam umas cervejas geladas e contam histórias – a classe média não costuma fazer parte desta festa popular, talvez por isso o “espanto”.
Nem o youtuber mago da comunicação digital resistiu. Felipe Neto mordeu a própria língua do politicamente correto ao ser flagrado numa pelada de final de ano. Depois de tentar sustentar com desculpas esfarrapadas o insustentável, subiu no altar e implorou por perdão.
Isolamento social num país com as características do Brasil, sem financiamento agressivo do Estado, é impossível. O drama social é imenso. Se a fome empurra na direção contrária, a cultura forma outra barreira “genética” complexa. Somos a nação do “cunhadismo”, do imortal Darcy. Estamos juntos e misturados desde o início.
O presidente é autoritário, possui uma frieza temperada com fortes doses de psicopatia pela absoluta ausência de compaixão. Na arena da glória individualista, não há espaço para o outro: aos fracos, a morte.
Apesar destas características deploráveis ele possui, infelizmente, senso de povo e Inteligência comunicativa.
O vídeo de Bolsonaro numa lotérica fazendo e pagando seu próprio jogo da Mega da Virada viralizou. De quantos bolões você participou? Foi o maior prêmio de nossa história. No ano da apreensão, da incerteza, da depressão, do medo, a população resolveu apostar na fé, pois ela “não costuma faiá”.
Num momento sempre marcante, o capitão tentou se posicionar ao lado do povo. Na pelada, comendo grama com os amigos, desabafando e tomando umas, e na casa da sorte grande, fazendo sua “fezinha” e sonhando com os milhões.
Cafona? Coincidência? Calculado?
Bolsonaro pode ser derrotado. Mas não é um idiota prestes a desmoronar. Não é razoável superestimá-lo. É ingênuo e arrogante subestimá-lo. Uma extrema-direita popular não seria uma novidade tupiniquim.
Que 2021 seja um ano de luz.
Redação

Redação

View Comments

  • Perfeito. O Fantoche procura apresentar-se como "gente como a gente". Boa parte do povo se identifica com essa postura do Coiso.

    E, de fato, é complicado falar em "fique em casa" quando a grande maioria da população tem contas a pagar.

    O mais bizarro, foi profissionais de comunicação, que pregavam o "fique em casa" (o certo, diante desse vírus solto por aí), postarem jantares finos nas redes sociais, em uma atitude de ostentação. Acabou servindo de munição para os seguidores do Fantoche.

Recent Posts

Lula garante verba para reconstrução de estradas no Rio Grande do Sul

Há risco de colapso em diversas áreas, devido à interdição do Aeroporto Salgado Filho, dos…

21 minutos ago

Privatizar a Sabesp é como vender um carro e continuar pagando o combustível do novo dono

Enquanto na Sabesp a tarifa social, sem a alta de 6,4% prevista, é de R$…

45 minutos ago

Al Jazeera condena decisão do governo israelense de fechar canal

O gabinete israelense vota por unanimidade pelo encerramento das operações da rede em Israel com…

3 horas ago

Chuvas afetam 781 mil pessoas no RS; mortes sobem para 75

Segundo o Ministério da Defesa, foram realizados 9.749 resgates nos últimos dias, dos quais 402…

3 horas ago

Eduardo Leite cobra soluções do governo federal, mas destruiu o código ambiental em 2019

Governador reduziu verbas para Defesa Civil e resposta a desastres naturais, além de acabar com…

4 horas ago

TVGGN: Climatologista explica o fenômeno que gerou a tragédia no Rio Grande do Sul

Carlos Nobre alerta que se a emissão de gases de efeito estufa não for zerada,…

4 horas ago