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Deputados buscam explicações para a violência em São Paulo

Por Marco Antonio L.

Do Viomundo

Deputados querem CPI para investigar violência em SP

por Conceição Lemes

Por que, apesar alertadas há três meses pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de que o PCC desencadearia nova onda de ataques a PMs, as autoridades paulistas não tomaram nenhuma medida proteger os policiais e familiares?

Quem foram os responsáveis pela negligência? Os agentes públicos ou os políticos da área da segurança pública do governo paulista?

Por que, já com a crise  em andamento, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) cortou do pagamento dos PMs um benefício que significava 500 reais a mais no salário? Alckmin, aproveitando-se do barulho em torno do julgamento do mensalão, foi ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, apresentar liminar para derrubar decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) que autorizava o recálculo de diferenças salariais da categoria. E conseguiu.

Por que é a ROTA que dita a política de segurança pública do Estado de São Paulo?

Essas são apenas algumas das questões que a CPI da Violência na Assembleia Legislativa de São Paulo pretende esclarecer. Está sendo proposta pela bancada do PT e já conta com 28 assinaturas: 24 petistas, duas do PCdoB, uma do PSOL e uma do PDT. Para um pedido de CPI ser protocolado são necessárias 32 assinaturas. A coleta prossegue.

“A omissão das autoridades públicas paulistas redundou em dezenas de mortes de policiais e de civis, que poderiam ter sido evitadas”, condena o deputado Alencar Santana Braga, líder da bancada na Assembleia. “Essas mortes não podem ficar impunes.”

Conversamos um pouco mais com o deputado sobre a proposta, já que os sucessivos governos tucanos têm barrado sistematicamente a criação de CPIs na Alesp. Quando não conseguem, inviabilizam, na prática, a sua realização.

Viomundo – Com esse retrospecto sombrioacredita mesmo que essa CPI sairá ?

Alencar Santana — O governo possui a grande maioria na Assembleia que normalmente impede o trabalho da oposição, em especial a criação de CPIs para se apurar irregularidades e responsabilidades que envolvam os órgãos e autoridades estaduais. Neste caso, por tratar de crise na segurança que está afetando a sociedade como um todo, esperamos que os deputados da base governista colaborem na apuração de eventual omissão por parte do secretário de Segurança Pública.

Nos últimos dias, a imprensa divulgou relatórios da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que registram conversas telefônicas entre bandidos. Nessas conversas, são dadas ordens de morte a PMs. Por esses relatórios, há, pelo menos, três meses  era do conhecimento de autoridades do Estado essa onda de violência que estamos vivendo.

Viomundo — E se a CPI sair, não acabará em mais uma pizza “em nome da governabilidade”?

Alencar Santana — Se sair, trabalharemos para que não vire pizza.

Viomundo — O que espera dessa CPI?

Alencar Santana — O importante é a apurar as razões desta onda de violência, as responsabilidades das autoridades de segurança, as omissões diante das informações prévias dos ataques, eventuais excessos cometidos pelas autoridades e também colaborar no debate em busca de soluções.

Viomundo – No momento, esse é o papel do poder legislativo no combate à violência?

Alencar Santana – Com certeza. Assim como participar ativamente no debate de políticas publicas para essa área, exigir mais investimentos em recursos humanos, formação, inteligência e melhores e mais equipamentos de trabalho.

Viomundo – As autoridades do Estado sabiam há, pelo menos, três meses do risco de policiais serem atacados por integrantes do PCC. O que levou o governo paulista a se omitir? Seria para não ter impacto nas eleições municipais?

Alencar Santana — Muito estranha a omissão do governo paulista. Acredito que, além do temor do impacto eleitoral, agiram assim por dois outros motivos: em 2006,  fizeram acordo com o crime organizado e não acreditavam no rompimento; e também porque não possuem um serviço de inteligência qualificado a ponto de prever isso.

Viomundo — Há denúncias de que os números da violência em São Paulo são maquiados. Os números de mortos (policiais e civis ) que estão sendo divulgados atualmente são reais?

Alencar Santana — Não dá para informar se estão sendo ou não maquiados neste momento, mas é algo que poderíamos esclarecer com a CPI.

Viomundo —  A situação atual é igual ou pior do que a de 2006?

Alencar Santana – Estamos reféns do crime organizado, como ficamos em 2006. Só que a tática mudou.  Agora, estão utilizando tática de guerrilha, com ataques pontuais e dispersos, inclusive contra soldados à paisana. Eles sabem exatamente quem estão atacando.

Para piorar, há a sensação de impotência que o governo de São Paulo está passando diante da insegurança que as pessoas estão vivendo.  O crime organizado mudou sua tática e o governo de São Paulo, o maior estado de país, provou que está despreparado para enfrentá-lo.

Quer um exemplo simples de como estamos despreparados?  Os policiais estão sendo obrigados a fazer rodízio de coletes à prova de bala, porque não há coletes em número suficiente para todos. Uma vergonha! Isto é São Paulo, onde o PSDB governo há anos. O duro é que ainda hesita em receber ajuda do governo federal…

Viomundo – Em São Paulo, a política de segurança pública está sendo determinada pela ROTA. O que acha disso?

Alencar Santana — Parece que o governo adotou a política do confronto, da vingança privada, como se vivêssemos numa sociedade sem lei. Isto não resolve o problema da segurança, não elimina o crime organizado, só gera mais violência.

Viomundo – Quem mora na periferia conhece o drama de jovens mortos pela própria polícia.  Frequentemente são pobres e/pretos. Como avalia essas mortes?

Alencar Santana — Lastimável. Demonstra o preconceito da polícia de São Paulo contra as populações vulneráveis. O jovem já não tem opção de lazer na periferia. Agora,  está sendo obrigado a ficar confinado dentro de casa com medo da polícia e do crime organizado.

Viomundo — E se CPI não sair?

Alencar Santana — A solução do problema está nas mãos do governo estadual, que tem de agir com inteligência, de forma eficaz e integrada, tanto com os seus órgãos de segurança e policiais quanto com o governo federal.

À Assembleia cabe apurar eventuais responsabilidades pelos excessos ou omissões, assim como participar do debate cobrando providências. Se não tivermos êxito na CPI, estudaremos a possibilidade de uma representação contra o secretário da Segurança  pela omissão em adotar medidas preventivas diante das informações que os ataques ocorreriam.


Luis Nassif

Luis Nassif

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