Eleições no Chile: De volta ao ponto de partida

A renúncia do candidato da direita, Pablo Longueira, da Unión Demócrata Independiente (UDI), como presidenciável da coligação direitista Alianza por Chile, gera uma mudança de cenário que afeta não só a coalizão formada pelos partidos de direita, UDI e Renovación Nacional (RN), como também quem até agora corre como a grande favorita para estas eleições presidenciais, a ex-presidenta Michelle Bachelet.

Este tipo de situações não é novidade na história eleitoral chilena pós-ditadura. Em 1989, o então candidato presidencial Hernán Büchi renunciou à sua candidatura na metade da campanha, argumentando “contradições vitais” para logo voltar a competir, após dois meses de incertezas. Em 1993, a então Unión por Chile, formada pelos mesmos partidos que hoje formam a Alianza, se viu afetada por um escândalo de escutas ilegais que afetou o presidenciável da RN, Sebastián Piñera, e por um duro conflito entre os dois partidos para decidir seu candidato à presidência, com uma convenção falida no meio, que terminou com a nomeação do independente pró-UDI Arturo Alessandri Besa, que perdeu no primeiro turno para o democrata-cristão Eduardo Frei Ruiz-Tagle. As duas situações afetaram sempre o mesmo pacto, UDI-RN.

No caso de Bachelet, a crise gerada na direita pode afetá-la. Não em suas opções eleitorais, que de acordo com as pesquisas se mantêm vigentes com possibilidade de triunfar no primeiro turno, mas, na forma será seu eventual triunfo nestas eleições. Um dos elementos mais importantes com os quais contava a candidata na corrida presidencial era a alta rejeição de Longueira, uma figura percebida como muito de direita, o que se reflete nas pesquisas. Com o abandono do candidato da UDI, esse elemento a favor desaparece. E não importa se a Alianza decide apresentar um novo candidato com menos rejeição ou disputar com dois candidatos, como em 2005, a eleição pode se tornar mais competitiva para Bachelet, podendo até forçar um segundo turno e bloquear um triunfo arrasador da Nova Maioria (coligação de centro-esquerda pela qual a ex mandatária é candidata) nas próximas eleições parlamentares. Isso poderia representar uma mudança de estratégia para enfrentar eventualmente um candidato de direita menos polarizador do que Longueira.

Por outro lado, se a Alianza lançar dois candidatos, ou um candidato único com menos rejeição, a “batalha pelo centro político”, ressuscitada pelos resultados de Andrés Velasco nas primarias da Nueva Mayoría, o peso partidário da Democracia Cristã será mais intenso. Isso obrigará Bachelet a moderar as expectativas em matérias como educação, impostos, Constituição ou pensões, aproximando-as aos setores mais “liberais” e sócio-cristãos dentro de seu comando, o que intensificará a tensão entre oferecer governabilidade e responder às demandas levantadas por movimentos como os estudantis, que dão conta dos problemas sociais e institucionais que vive o Chile. Com o passar do tempo, isso poderia gerar um cenário sumamente complexo para seu eventual governo, com situações de protestos e mobilizações mais intensas do que as vividas nos anos de Sebastián Piñera.

*Christopher Torres é formado em Ciências Políticas e Governamentais pela Universidad de Chile.

Redação

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