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Dos argumentos e das urnas

Em eleição enaltercer os pontos fortes do candidato de nossa preferência e apontar os pontos fracos dos adversários é mais do que natural. Chato é apelar, partir para a baixaria, faltar ao respeito. Com os adversários e com o eleitor. Se isso deu certo em eleições passadas, parece que cada vez é menos tolerado pela população. O que é ótimo, tanto para o nível das campanhas e a discussão de propostas, quando para a democracia em si. Apelou, perdeu. 

Na falta de argumentos que consigam reverter o quadro quase inexorável que as pesquisas de intenção de voto vão mostrando neste 2º turno em São Paulo, chega a ser risível o novo apelo que setores tucanos estão usando para defender a importância da eleição de Serra. Dizem que uma vitória dele é boa, antes de mais nada, para garantir um certo equilíbrio entre oposição e governo a nível nacional. Não tenhamos dúvidas de que o equilíbrio de forças políticas é saudável. Mas ora bolas, nos últimos anos o PSDB caminhou para a direita, afastou-se dos mais pobres e deixou de formular idéias novas para o país. Encolheu eleitoral e programaticamente e desempenhou de forma pífia o importante papel de partido de oposição que as urnas lhe tem conferido há uma década. E o que o PT tem a ver com isso? A rigor, nada. Ok, ok, o leitor pode contra-argumentar e dizer que o petismo caminhou para o centro do espectro político, abrindo mão de algumas de suas bandeiras históricas inclusive, e emparedou o PSDB e seus aliados na direita. O que me parece bem verdadeiro. Mas no caso de São Paulo o PT, assim como tantos outros partidos, está somente disputando mais uma eleição, e se a vontade das urnas for pelo PT, que assim seja. É do jogo. É da democracia. De mais a mais, estamos numa eleição para a prefeitura, e o que importa é que seja eleita a melhor proposta para a cidade, independentemente se isso vai afetar ou manter o equilíbrio de forças políticas a nível nacional. 

Setores tucanos argumentam ainda que, se eventualmente vitorioso na cidade de São Paulo, certamente o PT vai querer conquistar o governo do estado daqui a 2 anos. Ué, mas alguém poderia esperar algo diferente? Ou alguém já viu algum grande partido que não almeje vencer eleições? Ou será que daqui a 2 anos, quando teremos também eleição para a presidência da república, o PSDB não desejerá conquistar o Palácio do Planalto? De mais a mais, embora o mesmo conjunto de forças políticas esteja no comando do estado de São Paulo desde 1983, é bom lembrar que o estado pertence aos paulistas, e não a este ou àquele partido político. Se as urnas de 2014 apontarem para uma mudança de comando no Palácio dos Bandeirantes, seja a favor do PT ou de qualquer outro partido, mais uma vez será do jogo, será da democracia.

É óbvio que na eventualidade da vitória na eleição para a prefeitura de São Paulo, como as pesquisas estão apontando, o PT passará a pensar no que fazer na eleição para o governo estadual, dentro de 2 anos. Inclusive, para evitar o argumento do “tudo dominado”, até mesmo apoiar um candidato aliado, filiado a outro partido. Ou não? 

Já o PSDB, se eventualmente derrotado no dia 28 agora, como as pesquisas apontam que pode acontecer, que vá lamber as suas feridas e se reciclar, e que volte melhor daqui a 2 anos.

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. 

Redação

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