Os formadores de opiniões

Vou me arriscar e repetir:

A sala é luxuosa. Janelas generosas desnudam o skyline da cidade de São Paulo já com suas luzes acesas. A sala está escura. Uma luminária solitária ilumina o tampo da mesa do Editor Executivo e destaca as mãos do Empresário da Comunicação com os punhos cerrados, o vulto de seu corpo mostra a cabeça curvada em si mesma numa expressão de abandono e frustração.

Não, não posso começar a gritar de novo, tenho que buscar forças e procurar demonstrar a dignidade profissional que nunca tive…

O silêncio e a solidão são característicos ao herdeiro de um Império decadente, que prisioneiro de suas próprias limitações e incompetência, tem seu encontro, agora inadiável, com a história e o pragmatismo da política real.

Eu tenho jornais, tenho jornalistas, tenho a ANJ, Instituto de Pesquisas… eu formo opiniões, EU FORMO OPINIÕES!

O telão de cristal líquido sem som, estrategicamente posicionado na parede de fundo, em HD, mostra a figura do casal-telejornal que se prepara para anunciar o resultado das últimas pesquisas.

Tanto trabalho, minha credibilidade expostas ao limite da irresponsabilidade, e os ignorantes comedores de bolsa família, os onze milhões de ex-favelados, os vinte e cinco milhões de ex-miseráveis e os trinta milhões de novos classe média, só porque consomem agora xampu, imaginam-se no direito de decidirem seu futuro… MALDITA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA!

A sala que sempre teve dimensões avantajadas, agora cresce ainda mais. As janelas crescem. A mesa cresce e a cadeira toma proporções gigantescas. O editor executivo, solitário e diminuto, resigna-se a sua verdadeira estatura, e de suas escolhas.

Mal alcançando o teclado, titubeante e humilhado, tateia o próximo editorial epitáfio…