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O discurso de Khadafi na TV

Da BBC Brasil

Khadafi diz que não deixará Líbia e que morrerá como mártir

O líder líbio, Muamar Khadafi, afirmou nesta terça-feira no segundo pronunciamento em menos de 24h que não deixará a Líbia nem que isso represente a sua própria morte.

Em um discurso transmitido pela TV estatal da Líbia, o líder líbio descartou a possibilidade de renúncia e que morrerá no país “como um mártir”.

Ele disse que covardes e traidores estão tentando mostrar a Líbia como estando em caos, e que os inimigos do país estão tentando manchar a imagem da nação.

O líder também disse que sua situação é diferente da de líderes dos demais países árabes onde vêm ocorrendo protestos contra os líderes locais.

“Não sou o presidente do país, sou o líder da revolução e revolução significa sacrifício até o fim dos tempos.”

Naot”Não tenho cargo para renunciar. Tenho minha arma, meu rifle para lutar pela Líbia.”

No entanto, Khadafi disse que o poder, na Líbia, está com o povo, e pediu a formação de novos comitês municipais em todo o país.

Ele afirmou que seu país é um exemplo para o mundo. “Todas as nações africanas olham para a Líbia como um exemplo, todos os líderes do mundo olham para a Líbia como um exemplo”, disse.

Jovens ‘drogados’

Durante o discurso, Khadafi parecia exaltado, elevando o tom de voz, fechando o punho e acertando o pódio várias vezes. Ele disse que é um combatente vindo do campo que trouxe honra para a Líbia.

Ele acusou manifestantes que estão indo às ruas para pedir sua renúncia de terem recebido “drogas alucinógenas” e de estarem “servindo ao demônio.”

O líder líbio disse que há pessoas doentes que estão circulando drogas e armas entre os jovens e tentando imitar os eventos da Tunísia e Egito, onde líderes deixaram o poder após ondas de protestos populares.

Ainda em um tom inflamado, Khadafi pediu que seus partidários e simpatizantes tomem as ruas e enfrentem o que ele chamou de “gangues de baratas drogadas”.

Pena de morte

Ele alertou que, se for necessário, será usada a força, mas de acordo com a lei internacional.

Khadafi também afirmou que, a partir de quarta-feira, a polícia vai garantir a segurança, mas que as pessoas deveriam prender e desarmar o que ele chamou de “pequeno número de terroristas” que estão tentando transformar a Líbia em outro Afeganistão.

Exibindo um livro verde com leis do país, o líder líbio disse que a pena para aqueles que querem prejudicar a Líbia ou ajudar os inimigos do país é a morte.

O líder líbio disse que fazia seu discurso de dentro das ruínas de sua antiga residência, que foi bombardeada em 1986.

Se referindo ao bombardeio americano a Trípoli, Khadafi disse ainda que as chamadas “superpotências” sabem que não podem derrubá-lo.

Embaixador nos EUA

O pronunciamento ocorreu em um momento em que aumentam os sinais de que o líder está perdendo apoio no país.

O embaixador do país nos Estados Unidos, Ali Aujali, disse que não representa mais o “regime ditatorial” de seu país e pediu pela saída de Khadafi.

“Renuncio a meu serviço ao atual regime ditatorial. E peço a ele (Khadafi) que deixe nosso povo em paz”, disse Aujali.

Na véspera, diplomatas que até há pouco serviam ao regime de Khadafi haviam anunciado que se aliariam à oposição ao líder.

Foi o caso do vice-embaixador da Líbia na ONU, Omar Al-Dabbashi, que qualificou de “genocídio” a reação governamental aos protestos nas ruas da capital Trípoli, onde, segundo relatos, aviões e franco-atiradores dispararam contra manifestantes civis.

Também na segunda-feira, o embaixador líbio na Índia, Ali Al-Issawi, disse à BBC que decidiu deixar o cargo em protesto contra o uso de violência por parte do governo e afirmou que mercenários estrangeiros foram mobilizados para atuar contra cidadãos líbios.

Também renunciaram o embaixador líbio na Liga Árabe e na China e o ministro da Justiça do país, Mustafa Abdal Khalil, segundo o jornalQuryna. 

Há relatos de deserção também entre membros das forças de segurança. Segundo a rede Al-Jazeera, parte da fronteira entre Líbia e Egito havia sido abandonada pelos guardas que faziam o controle de passagem, forçando as autoridades egípcias a enviar mais soldados à divisa.

E, na segunda-feira, dois soldados líbios aterrissaram em Malta alegando que se recusavam a usar sua aeronave para alvejar a população.

Tensão

Em Trípoli, o clima é de tensão, segundo a correspondente da BBC na cidade. As ruas estão quase vazias, mas há filas para comprar pão e gasolina. A maioria do comércio está fechada. Há relatos de distúrbios e incêndios em alguns locais, e a presença do Exército é constante pelas ruas.

Muitas pessoas temiam sair de casa após uma noite de confrontos duros. Testemunhas relataram cenas de massacre e de corpos que se acumulavam nas ruas em algumas partes da cidade.

“Eles não fazem distinção (entre civis e militares), estão atirando para limpar as ruas”, disse nesta terça à BBC News um morador de Trípoli, que não quis se identificar. “(Os atiradores) não são humanos, não sei o que são.”

Não é possível obter uma confirmação oficial sobre o número de mortos, que já são centenas. Mas a ONG Human Rights Watch diz que, apenas em Trípoli, ao menos 62 pessoas morreram nos distúrbios desde domingo.

Ao mesmo tempo, dezenas de milhares de estrangeiros tentam deixar a Líbia, mas muitos países – caso do Brasil – enfrentam dificuldades em obter autorização para pousar seus aviões em solo líbio e resgatar seus cidadãos.

Khadafi governa a Líbia desde um golpe dado em 1969.

Na noite de segunda-feira, ele discursou menos de 30 segundos, apenas para confirmar que não havia deixado o país rumo à Venezuela e para dizer que a imprensa estrangeira está divulgando “rumores maliciosos”.

Muitos líbios reagiram com indignação ao discurso, pelo fato de Khadafi não ter se manifestado sobre os confrontos nas ruas de Trípoli. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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