Mudanças profundas no cenário político da Espanha

Enviado por Pedro Penido dos Anjos

Votação na Andaluzia aponta para reviravolta na política espanhola

Por Inmaculada Sanz

Da Reuters Brasil

SEVILHA, Espanha (Reuters) – O partido recém-criado Podemos, de esquerda, obteve ganhos importantes nas eleições de domingo na região espanhola da Andaluzia, nas quais a fragmentação do voto no espectro político indica uma provável guinada nas eleições nacionais que serão realizadas antes do final do ano.

A votação mostrou que o sentimento contra as medidas de austeridade que levou o Syriza ao poder na Grécia já se enraizou na Espanha, onde um em cada quatro trabalhadores está desempregado, e também dinamitou o sistema bipartidário construído quando a ditadura de Franco terminou, na década de 1970.

Enquanto a Espanha emerge da crise da dívida da zona do euro como uma das economias de mais rápido crescimento da Europa, a campanha dos partidos dominantes, o Partido Popular (PP), e, em menor medida, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), com o objetivo de convencer os eleitores de que alternativas políticas recém-criadas são perigosas para a recuperação do país, pouco fez para limitar o apoio ao Podemos.

“Nós somos os protagonistas da mudança, da criação de novas alternativas… O mapa político na Andaluzia e na Espanha mudou”, disse Teresa Rodriguez, que liderou a campanha do Podemos na Andaluzia.

Apesar de os dois partidos dominantes, os socialistas e o PP, ficarem em primeiro e em segundo lugar na votação, eles tiveram forte queda em suas bancadas em relação à eleição anterior, em 2012.

O PSOE conquistou 47 dos 109 assentos no Parlamento regional, enquanto o PP sofreu pesadas perdas, ficando em segundo lugar, com 33.

Com apenas um ano de idade, o Podemos abocanhou 15 cadeiras, enquanto outro novato na cena política da Espanha, o Ciudadanos, de centro-direita, ficou com 9. A Esquerda Unida, ex-comunista, ganhou 5.

Os resultados mostram que os socialistas vão precisar do apoio de outros partidos para governar na Andaluzia, uma tarefa complicada porque os rivais podem ficar receosos de lhes dar apoio, já que isso poderia prejudicá-los nas eleições gerais espanholas no final do ano.  

Na eleição na Andaluzia, a região mais populosa da Espanha e, em grande parte, agrícola, cerca de 6,5 milhões de eleitores – um quinto do eleitorado nacional votou no Podemos e no Ciudadanos.

O PP e os socialistas, que controlam o poder em nível nacional há décadas, viram seu apoio despencar nas pesquisas de opinião nacionais em consequência de uma profunda crise econômica e política.

Apesar de a economia se recuperar, o crescimento do país não consegue acabar com o desemprego. Além disso,  a desigualdade aumentou.

“Em nível nacional, o que podemos considerar a partir disso é que o Podemos e o Ciudadanos estão aqui para ficar”, disse José Pablo Ferrandiz, sociólogo da empresa de pesquisas Metroscopia.

O Podemos, liderado pelo carismático Pablo Iglesias, inesperadamente ganhou cinco cadeiras nas eleições europeias de maio do ano passado, congregando principalmente votos à esquerda do espectro político.

O Ciudadanos adota uma posição mais pró-mercado e é visto por muitos analistas como um potencial fiel na balança no Parlamento nacional após a eleição geral no final do ano.

Os dois novatos se beneficiaram do descontentamento da população com os partidos mais antigos, vistos como refratários a mudanças porque buscam proteger os interesses dos poderosos.

Redação

Redação

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  • Devagar com o andor!!!

    Não dá para concordar nem com o tom nem com as afirmações substantivas dessa matéria.

    Os resultados das eleições andaluzas estão bem longe de mostrar uma simples fragmentação da preponderância bipartidária espanhola e  mesmo do "regime de 78" (o equivalente espanhol da nossa Nova República).

    O PSOE manteve a mesma votação das eleições passadas, por conta de um discurso fortemente fundado sobre uma retórica regionalista da candidata Susana Díaz. No ambiente social andaluz (e não só nele), ela é tão forte quanto o regionalismo gaúcho no Brasil, e deve ser ponderada como um componente problematizante para a Espanha em geral e para os localismos específicos das Comunidades Autônomas.

    Essa talvez tenha sido a marca mais forte desse resultado eleitoral: a Andaluzia não avançou simplesmente para o Podemos como uma alternativa global ao bipartidismo e ao "regime de 78"; a Andaluzia se agarrou ao lodaçal dos seus localismos.

    Outro fenômeno relevante é o da impressionante ascensão do partido Ciudadanos, com uma retórica liberal,  mercadista e conservadora. Parece ter sido ele que roubou os votos do PP, o que o alça à condição de força auxiliar da direita.

    Os grandes derrotados foram exatamente as duas pontas do espectro ideológico: a direita (o PP) e a esquerda (a Izquierda Unida), sugerindo não uma "mudança profunda no cenário político espanhol", mas uma sutil fragmentação do centro, ou seja, uma reconfiguração da predominância bipartidista em um quatrilha com 2 principais (os mesmos PSOE e PP) e 2 alternativos (Podemos e Ciudadanos).

    Apesar da empolgação da canditada do Podemos, os resultados andaluzes acenderam a luz amarela nesse partido, como já demonstra uma análise bem mais ponderada de dois de seus ideólogos: http://blogs.publico.es/contraparte/2015/03/23/andalucia-primera-prueba-de-la-recuperacion-del-bipartidismo/

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