O avanço da ultradireita na política global teve grande uso da violência oficial e alguma influência norte-americana, como aconteceu na Indonésia nos anos 60, quando 1 milhão de pessoas foram mortas pelas forças oficiais e a mídia ocidental não noticiou.
“Na minha pesquisa, eu achei que em 22 países no século XX, durante a Guerra Fria, esse mecanismo de repressão foi usado, o extermínio em massa da esquerda”, diz o jornalista norte-americano Vincent Bevins, em entrevista exclusiva à TV GGN 20 horas.
Bevins publicou em 2020 o livro “O Método Jacarta: a cruzada anticomunista e o programa de assassinatos em massa que moldou o nosso mundo”, que será publicado no Brasil em julho pela editora Autonomia Literária.
No livro em questão, Bevins explica como o governo dos Estados ajudou o governo da Indonésia a massacrar o Partido Comunista Indonésio, causando a morte de cerca de 1 milhão de pessoas que integravam o partido ou acusados de integrar o partido.
“(O Partido Comunista Indonésio) foi o maior partido comunista fora do mundo socialista, terceiro maior do mundo”, diz Bevins. “Um partido não armado, que teria ganhado as eleições segundo a própria CIA se acontecesse”.
Segundo o jornalista, o massacre indonésio funcionou de forma tão eficiente que o movimento anticomunista global começou a significar Jacarta como uma ameaça aos seus inimigos internos ou percebidos.
“Principalmente aqui na América Latina, Jacarta foi usada dessa maneira. Para ameaçar mais extermínios, coisa que aconteceu”, diz Bevins.
Na visão de Bevins, é preciso colocar as relações de poder entre os países e entre as classes dentro da mesma narrativa histórica.
“A mídia que tinha poder em 1964 é a mesma mídia que tinha poder em 2013”, explica Vincent, que está morando no Brasil atualmente para investigar as jornadas de 2013 no Brasil e outros movimentos semelhantes no mundo.
“Eu acho que as coisas mudam, o cenário muda, mas temos que colocar na mesma narrativa mais longa na história global”, ressalta Vincent.
Na visão do jornalista, atualmente os profissionais precisam conviver com falta de recursos e de tempo para investigar e pesquisar, e acaba sendo mais fácil reproduzir o que está no ar do que passar muito tempo em pesquisar.
“Atualmente, eu acho mais uma questão de falta de recursos e a falta de carreira segura para jornalistas, porque comprar uma briga com um chefe, comprar uma briga com o veículo é uma coisa que você tem que ter um pouco de segurança para poder arriscar”, pontua Bevins.
Fazendo uma ligação com seu livro, o norte-americano afirma que a CIA era muito mais próxima da mídia nos anos 50 e anos 60 – quando chegava a telefonar para a redação do The New York Times para apontar um “problema” que precisava ser resolvido.
Um caso sintomático que aconteceu na América Latina foi na Guatemala, antes do golpe de Estado que ocorreu em 1954.
“Tinha um jornalista bom apurando o golpe em curso, e a CIA ligou para o dono do NYT e disse ‘esse cara é um problema’ e o NYT tirou porque ele ia publicar o que ia acontecer na Guatemala”, lembra Bevins.
“Isso muda depois dos anos 70, depois de umas revelações sobre a CIA e, portanto, muitas coisas que a CIA fazia hoje em dia são outras partes do Estado americano que estão fazendo, porque a CIA já tem um nome famoso e famosamente problemático, por assim dizer, mas essa é uma coisa que se mudou”.
Veja mais a respeito do tema na íntegra da entrevista de Vincent Bevins à TV GGN 20 horas. Clique abaixo e confira!
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Acho que comprar o Brasil dos dias de hoje com a Indonésia de 1964 é forçar muito a barra. A Indonésia era uma sociedade rural, o massacre foi principalmente nessas comunidades e aproveitaram um golpe interno, nada com a esquerda, para começar a repressão.
Recomendação: o documentário O ATO DE MATAR.
https://www.youtube.com/watch?v=FMzOvxHyBnQ&t=683s