O ‘mico’ da ‘coluna Aécio’, por Luciano Martins Costa

Por Luciano Martins Costa

Do Observatório da Imprensa

Folha de S. Paulo anuncia em nota na sua primeira página, na edição de sexta-feira (22/5): “Grupos anti-Dilma dizem que PSDB e Aécio são traidores”. O Estado de S. Paulo, em reportagem interna sobre o mesmo tema, informa: “Grupos se dizem traídos por tucanos”.

A imagem que ilustra o texto do Estado mostra doze – isso, exatamente uma dúzia – de manifestantes que caminham pela Rodovia Anhanguera, com destino a Brasília, onde pretendem fazer sua pregação em favor do impeachment da presidente da República. Quando saíram de São Paulo, no fim de abril, os integrantes da marcha foram estimulados por líderes do PSDB, que imaginavam uma espécie de “coluna Prestes” invertida, a recolher, pelo caminho, milhares de cidadãos descontentes com o governo, numa chegada triunfal à rampa do Planalto. Mas, como no poema de Hesíodo, as relações entre os homens e os deuses devem se submeter ao crivo da verdade, e esta nem sempre se manifesta como desejam os humanos.

Entre o fim de abril e esta última semana de maio, a expectativa do grupo de manifestantes, estimulada por discursos inflamados do senador que perdeu a eleição presidencial em 2014, não foi justificada pelos fatos. O descompasso entre os trabalhos políticos e os dias de marcha acaba por produzir a ruptura entre os doze aloprados que imaginam reverter a decisão das urnas e os oportunistas que os apadrinharam.

Por sugestão do jurista Miguel Reale Jr., convocado a emitir parecer sobre a proposta do impeachment, os líderes do PSDB acharam melhor ingressar com processo contra a presidente Dilma Rouseff na Justiça comum, talvez confiantes na ação dos julgadores que o poeta grego chama de “comedores de presentes”. Mas o Judiciário, já embaraçado com a interferência do Congresso em suas atribuições, não dá sinais de que irá acolher tal petição.

Representantes dos grupos que pedem a interrupção do mandato da presidente da República teriam ouvido na semana passada, na capital federal, promessas de parlamentares do PSDB e de outros partidos de oposição de que entrariam com o pedido formal de impeachment assim que os marchadores alcançassem a Praça dos Três Poderes. Desde quarta-feira (20/5), a uma semana da chegada da marcha a Brasília, prevista para o dia 27, a página do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que organizam o protesto, exibe um quadro dizendo que o senador Aécio Neves traiu a causa (ver aqui).

Ignorância política

Segundo o Estado de S.Paulo, líderes do PSDB avaliam, reservadamente, rever a estratégia de apoiar explicitamente a marcha, quebrando a promessa de dar um caráter apoteótico à sua chegada a Brasília.

O ex-deputado federal Francisco Graziano, assessor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse à Folha de S. Paulo que entende a frustração dos que querem o impeachment, mas considera que “atacar Aécio, FHC ou o PSDB mostra ignorância política”. De repente, os tucanos descobrem que meteram a mão em cumbuca.

Restará aos protestadores, certamente, o apoio do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e talvez a presença do deputado Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), cujas biografias não justificam os cuidados que precisam ter os líderes do PSDB.

O principal partido de oposição embarcou na aventura dos golpistas pela mão do senador Aécio Neves, que foi demovido do plano de impeachment pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na semana passada. Agora, precisa de um discurso consistente para evitar o constrangimento de se haver associado aos aloprados que seguem para Brasília.

Não se pode prever o que irá ocorrer na capital federal na quarta-feira (27/5), mas certamente não será a grande festa cívica que esperavam os organizadores do protesto. Nesse período, o núcleo principal das propostas de ajuste econômico já terá sido aprovado, ou uma nova agenda estará acertada entre o Executivo e o Congresso Nacional.

Analistas acreditados pela imprensa já registram uma redução das tensões entre os poderes, que vêm sendo estimuladas pela mídia desde a posse da presidente Dilma Rousseff em segundo mandato.

A decisão da presidente, de elevar a alíquota da Contribuição Social sobre o lucro líquido dos bancos, tende a reconciliá-la com parte de seu eleitorado, pela simbologia da medida, combinada com a manutenção da carência de um mês para pagamento de abono salarial, que beneficia os trabalhadores.

Tudo de que os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, não precisam, neste momento, é barulho de manifestantes. O “mico” do impeachment fica com o PSDB, que vai ter que explicar, daqui para a frente, se considera que eleição é para valer ou se, nas próximas disputas, caso venham a ser derrotados novamente, os tucanos irão outra vez mobilizar a “coluna Aécio”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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    • Por favor, não ofenda - um

      Por favor, não ofenda - um dos melhores filmes da história - na minha humilde opinião...

      Mas pode ser comparada àquela "Cruzada dos Pequeninos", crianças (certamente sem pais ou responsáveis) que seguiam "Pedro, o Eremita" para tomar Jerusalém... ao passarem pelo território turco foram aprisionadas e vendidas como escravos...

      Só falta o grio de "Deus O Quer"... no filme, quando o eremita pula em cima de uma ponte, ela cai - e o protagonista diz: "Deus não quer, vamos embora...". hehehe

      É o que ainda vai acontecer com essa turma...

  • Vão indo que eu não vou.

    Só depois de um mês de caminhada, os otários e otárias "descobriram" que nem Aécio, nem FHC nem nenhum engravatado apareceu na tal marcha.  Tem que ser muito ingênuo, muito iludido, muito sem noção, muito idiota enfim, pra acreditar que qualquer um desses tucanos emplumados fosse acompanhar, na sola, uma marcha de São Paulo até Brasília. Resultado: saíram daqui bípedes e retornarão quadrúpedes.

    • "Resultado: saíram daqui

      "Resultado: saíram daqui bípedes e retornarão quadrúpedes.'  Esta foi ótima!

      Um "pequeno" bando de tontos!

  • Esse pastelão todo  merece:

    Esse pastelão todo  merece: KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    Sugestão ao movimento Brasil Livre: Ir para Miami, ai sim terá servido para alguma coisa, ficamos livre de vocês, kkkkkkkkkkkkkkk ( Obs: Antes de ir favor dar carona pra o Lobão e para o Merval), kkkkkkkkkkkkkkk

  • Esse pessoal não trabalha

    Esse pessoal não trabalha não? Vivem de que? Como pagam as contas? Vivem de passeatas e "caminhadas"? Como é que isso dá dinheiro? Estranho, muito estranho.

  • É preciso descer a terra da sociedade civil.

    As análises politicas no Brasil continuam na minha opinião completamente descoladas do que acontece no mundo terrenal da sociedade civil e só olham para o céu da politica. Há um movimento de conquista de hegemonia da extrema direita na sociedade civil, que tem uma dinâmica própria independente dos partidos. O pedido de impechement é so propaganda não é o objetivo final. Enquanto se olhar isso partidariamente, as análises serão insuficientes a meu ver. O MBL, uma facção da extrema direita, ganhou muito com as leis aprovadas no congresso e agora com o ajuste fiscal, todos apoiados e formulados pelo partido do governo. Aumento da CSLL? por favor, o que os bancos vão perdeir ai - e vai ser muito pouco porque tem enorme flexibilidade no mundo da papelada - ganham em dobro com o aumento contínuo da SELIC. Todas medidas econômicas e juridicas tomadas pelo executivo e o congresso entre as passeatas e hoje tem caráter ultraneoliberal como defende o MBL e outros grupos, embora não tão radical como eles desejam, mas é um passo adiante na direção do que eles realmente querem: acabar com toda e qualquer esquerda na sociedade civil e nos aparelhos de estado. Eles ja tem uma grande parte da justiça - vide a decisão do STF sobre as OS no serviço público com argumento neoliberal de Fux, por exemplo - a grande midia toda e a teologia da prosperidade. Estão conquistando a passos largos a gestão econômica (alguem me explica a diferença entre o Levy e o MBL, por favor!) e ganhando penetração cada vez maior nas Universidades. Vão querer o PSDB para quê? Estão mais fortes que esse  e outros partidos na sociedade civil.

  • Beleeeezzzzzaaaaa....!!!!!!

    Vou comer é  muita feijoada e cebola para, efusivamente, saudar com 21 salva de puns esses "heróis"  (no Tiro de Guerra era bala de festim) ... É, sem nenhum trocadilho, teremos alguns "espoucares  de fogos coloridos" e  "perfumes" também! Afinal, são os "heróis do século" kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!  Tô lá na Praça dos Três Poderes (vai sobrar "pró" Gil, Edu, Nan)!!!!

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