Por Alan de F. Brito
Comentário do post “O poder dos fazendeiros e jagunços do MS”
Caros,
Sou jornalista em MS, mais precisamente correspondente na cidade de Dourados e tenho acompanhado de perto a situação dos indígenas guarani-kaiowá, mais ainda após a morte do líder Nísio Gomes. Gostaria que se possível Luis Nassif, ter algumas informações sobre o caso e a visita de Paulo Maldos melhor esclarecidas e informadas aqui no Advivo:
– A comitiva da presidência e dos ministérios foi à região de IGUATEMI no domingo, local que não o mesmo onde houve o ataque de jagunços no dia 18 de novembro, que culminou com o desaparecimentodo corpo do líder guarani-kaiowá, Nísio Gomes.
– Na região de Iguatemi, mais precisamente no acampamento indígena Tekoha Pyelitoi-Kue Mbarakay, em meados de agosto deste ano foi atacado por jagunços também, mas não há registro de morte de indígena neste evento, porém a truculencia dos ‘milicianos’ levou os indígenas a se embrenharem matagal adentro, onde permanecem até hoje.
– Foi na saíde deste acampamento que o onibus com os indígenas guarani-kaiowá que participaram do Aty Guasu (Grande Reunião das lideranças guarani) foi parado, não só por jagunços, mas também pelo secretário de Obras do Município e Presidente do Sindicato Rural. Além disso o próprio prefeito de Iguatemi chegou a ser chamado ao local. Eles filmavam os indígenas e os ameaçavqam desconhecendo a presença da Força Nacional e de representantes da presidência da república. “Eles achavam que spo tinha índio e FUNAI”, disse pra mim uma liderança que estava no local, demonstrando o claro desrespeito que os fazendeiros da região tem com o orgão do Ministério da Justiça (FUNAI).
– Já nesta quarta-feira (30), em marcha, mais de 400 indígenas e representantes do governo federal, entre eles a assessora da presidência da Funai, Rosângela Barros, e o secretário nacional, Paulo Maldos, foram ao acampamento Tekoha Guaiviry, na região de Amambai/Aral Moreira. Esse sim foi o acampamento onde Nísio tombou perante os tiros desferidos por milicianos.
– Tekoha quer dizer ‘Terra Sagrada’ ou ‘Terra Ancestral’ e para os indígenas guarani-kaiowá, tem um significado maior do que aquilo que se pode produzir com ela. Os guarani, como o estudado e descrito pelo professor Bartolomeu Meliá, tem a terra (Tekoha) o lugar onde exercem seu estilo de vida que ele chama de ‘Bien Vivir’, estilo que preconiza a armonia entre homem, terra, mata, rios, animais e o espírito, sem pressa, sem acúmulo de riquezas.
– Nos últimos anos a região que vivia do binômio ‘Boi-Soja’ vive agora uma mudança econômica trazida com a chegada de mais de 20 usinas de açucar e alcoól. Devidamente estudado, há de se compreender a degradação social trazida pela cultura da cana-de-açucar em todo lugar onde se instalou, apesar do crescimento econômico.
– No caso da região sul de MS não é diferente, onde boa parte da mão-de-obra das usinas do setor sucro-energético é indígena. Além disso, às terras que são reivindicadas para demarcação e estão em processo de estudo desde 2007 após TAC – Termo de Ajuste de Compromisso – firmado entre MPF e FUNAI, são às mesmas arrendadas por fazendeiros para a produção da cana. Ou seja, agora além de lutar contra o gado e a soja, os indígenas se veem obrigados a conviver com as imensas culturas de cana que estão gerando alta lucratividade para esses fazendeiros.
– ‘UPPs’ nas aldeias não é tão novidade. No dia 10 de junho foi deflagrada a Operação Tekoha, baseada na Reserva Indígena de DOurados (a mais populosa do Brasil). A operação contava na época com as polícias Federal, Militar, Civil e membros da Força Nacional, e tinha por objetivo diminuir os indíces alarmantes de crimes nas aldeias da região. Hoje apenas a Força Nacional continua na Operação Tekoha e restrita à reserva indígena de Dourados. Estuda-se a implantação de Polícias Comunitárias nas aldeias do Sul do Estado. Mas é um processo mais demorado, pois deverá contar comtreinamento não só do ponto de vista policial como do ponto de vista cultural.
– A violência contra indígenas em MS concentra mais da metade da violência contra indígenas de todo o país. De 2003 até 2010 foram 255 mortes de indígenas em MS. Desde de 1983 (28 anos antes da morte de Nísio Gomes) quando morreu a lendária liderança MArçal de Souza, diversas lideranças foram assassinadas em frente às suas comunidades ou simplesmente desapareceram, sempre em reocupações de terras tradicionais.
– Assim como nas favelas do Rio, a atuação de milícias e grupos de extermínio tem sido uma constante para as comunidades indígenas. Ameaçados, cercados, com seus direitos vilipendiados e suas lideranças exterminadas, um verdadeiro genocídio tem se firmado no estado que é no Brasil originalmente guarani – Uma das amiores nações indígenas, estando presentes na Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e em diversos estados brasileiros, sendo que MS abriga a maior parte dessa população no Brasil.
Espero ter contribuido um pouco para esclarecer a situação e fomentar o debato.
Saludos!
Alan de F. Brito
Jornalista
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