Não chores de rir dos brasileiros, Argentina, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Foto: Daniel Vides/AFP

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

A esquerda brasileira é risível. Ela culpa a direita por ter dado um golpe, mas não organizou o povo para resistir à queda de Dilma Rousseff. Culpa a direita por revogar direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, mas não organizou o povo para sitiar o Congresso Nacional. Culpa os juízes porque eles se apropriaram de todo o poder político, aumentaram seus privilégios e assaltaram os cofres públicos, mas não organizou o povo para invadir os condomínios onde eles moram. Culpa o povo brasileiro porque ele é apático e desorganizado como se a obrigação de anima-lo e organiza-lo não fosse dos partidos, sindicatos e lideranças de esquerda.

A direita fez o mesmo na Argentina, mas a esquerda daquele país organizou o povo e invadiu as ruas de Buenos Aires provocando uma crise que paralisou as reformas escravocratas do governo Macri. Além de não ter feito isso, a esquerda brasileira orgulhosamente aplaude os argentinos porque eles gritam que não são como os brasileiros.

É verdade, os argentinos querem ser argentinos. Mas nós deixamos de ser brasileiros, pois no Brasil a esquerda não atua com a mesma eficiência demonstrada pela oposição na Argentina.

Enquanto os argentinos organizaram a reação ao neoliberalismo, nós fazemos pose na internet. Tanto que agora a esquerda culpa o povo brasileiro por não ser tão aguerrido quanto nossos hermanos. Não seria melhor os esquerdistas culparem seus próprios líderes porque eles preferem ficar fazendo memes na internet como se isso fosse resolver o problema?

A esquerda brasileira se limita a produzir e compartilhar textos, memes e informações irrelevantes na internet. Em nosso país quem organiza e constantemente motiva uma parcela significativa da população são os pastores evangélicos. Eles fazem o que é preciso para garantir o golpe de 2016. Os líderes de esquerda reclamam dos pastores, mas se recusam a fazer o que deve ser feito: organizar o povo dentro e fora das igrejas para reagir nas ruas.

No Brasil o que explica o sucesso do neoliberalismo e a fácil implantação do Estado Pós-Democrático não é a docilidade do povo brasileiro e sim a covardia, a incompetência e a apatia da esquerda. Ela mergulhou na internet e se esqueceu da realidade.

https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/o-dragao-da-internet-contra-o-pastor-evangelico-guerreiro-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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    • Eu ia citar o Maradona

      Eu ia citar o Maradona também. Compará-lo com Pelé, garoto propaganda da Globo, e também o Neymar cabo eleitoral do Aécio, e pasmem, o Ronaldinho Guacho que se filiou ao partido do Bolsonaro. 

      7x1 foi pouco!

  • Perfeito. Enquanto a
    Perfeito. Enquanto a intelectualidade e as lideranças preferirem ficar em seus redutos nada vai acontecer. Precisamos organizar escolas de formação política em todas as favelas e bairros, precisamos procurar o povo, exatamente como fazem as igrejas a também a rede globo com suas novelinhas e jornais para Homers.

    • Com certeza!

      Siiiim! A "direita" ,ou o conservadorismo brasileiro aparelhou e se aliou a estruturas, várias do estado, igrejas ou privado e formou uma rede de propaganda e cultura capaz de "amarrar" toda a sociedade. Usam dinheiro de sonegação para financiar esta estrutura.

      A esquerda que teve ou tem as universidades e escolas a seu dispor, é incapaz de propagandear de forma competente seu ideário. Professores que reclamam que são desvalorizados por exemplo, para mim são os principais culpados, pois passam várias horas do dia, com os  jovens, e são incapazes de criar ou propagar ideias de uma sociedade mais justa. 

      Para mim a esquerda brasileira age como gays que querem casar na igreja! Ou seja querem colocação e aprovação de uma estrutura que os condena!

      Para dar certo, temos que definitivamente romper com o status. Expor as entranhas podres do estio de vida ocidental! Ridicularizar as PERSONAS e ARQUETIPOS criados pelo estilo de vida capitalista! Evidenciar o ridículo dos  pequenos empreendedores (burros atrás de cenouras) que apenas servem "lenha" para o rentismo! Destruir o paradigma do mercado, mostrando que ele é insustentável para um planeta com recursos finitos. Provar que a VIDA HUMANA não deve ser uma atividade competitiva. Dexemos isto para os MACACOS! Enfim, mostrar aos capitalistas que não somos vagabundos e tirarmos as bundas das cadeiras para ir junto ao povo fazer este trabalho de "evangelização". 

      Acham isto ridículo? Eles fazem isto TODO SATO DIA! Igrejas, Globo, Maçonaria, institutos! 

      Querem vencê-los? Terão que descer do pedestal. 

      Não querem se dispor? Então parem com este mimimi, e este onanismo intelectual e vão cuidar de suas vidas já ganhas!  

       

  • Quem precisa de Yellowstone?

    A razão pra tudo isto é simples: se a esquerda quiser descer do pedestal que criou para si própria, terá de voltar os olhos à classe trabalhadora e suas demandas mais diletas. Para isto, teria de abrir mão da lúmpen-burguesia e do lúmpen-proletariado que lhe serviram de base de sustentação do mito alardeado do sucesso da política de coalisão. E, como ficariam suas lideranças de gabinete, sustentadas por esta "base política" indizível e incômoda? Vale lembrar que as mesmas, ao contrário da classe trabalhadora traída e ainda - ainda! - enganada, os lúmpens tem lado certo: o próprio. E não estão pra brincadeira na defesa de seus interesses. A esquerda continuará dizendo por muito tempo ainda que as "lideranças" erigidas no interior das favelas pelo paralelismo são aguerridas vítimas do Estado opressor. Dirão ainda que seus pares políticos das coligações espúrias são imprescindíveis aos projetos democráticos de melhoria da vida do "povão". Ainda continuarão culpando - assim como Lula o fez - a inabilidade brasileira na escolha de seus legislativos. E assumirão covardemente, sem a menor vergonha, a postura de "conciliadores de classe", mesmo admitindo que, caso não façam o que desejam seus hoje entre aspas "antagonistas", não sentariam nunca na cadeira do poder máximo, sem o qual nada poderiam fazer pelo povo. Quanta contradição! Quanto cinismo! Quanta enganação!

    Fazer o que se até agora, ainda são reconhecidos como de esquerda os que agem desta forma? Fazer o que se a luta de classes foi há muito artificialmente suspensa das discussões ideológicas. E mesmo após o golpe, até o presente momento não vi nenhuma declaração de Lula ou de lideranças fazendo menção a este eternamente indigesto ponto de estrangulamento para qualquer pacto social amplo. Para os realistas pragmáticos de esquerda, esta é uma realidade plenamente sublimável com a qual não estão interessados em lidar, sob pena de se perder votos nas próximas eleições. Nestas horas é que percebemos o quão fantástico é o realismo que sustenta a prática política da esquerda neste país. Quase tão delirante quanto dizer que "A Rede Globo é nossa", como fez José Dirceu.

    Mais do que em qualquer outro momento, é preciso sim, jogar pra perder! Arriscar-se a dar o passo supostamente insano de atacar com goleiro cabeceando na grande área do adversário, com todos os zagueiros à frente, correndo os riscos de um contra-ataque mortal. Pior que ser derrotado é não ter um contraponto que comprove a injustiça da derrota, ou o merecimento da vitória. Pior que perder é não termais o que defender. Se a atitude intespetiva pode sacrificar o presente, a inércia e a cautela sacrificam o futuro inexoravelmente. Sob a sombra de uma falsa prudência, deixa-se de fazer o que deve ser feito para impedir o retrocesso pelo simples desejo de interromper o horizonte. A bonança de antanho é a cordilheira que nos impede de ver adiante. A esquerda abriu mão da luz do Sol para amparar-se à beira de um enorme vulcão que ameaça a todos e que subjuga aos seus humores em troca do solo fértil da comodidade feito da lava que já resfriou. Vivemos desfrutando da esperança de uma ditadura que acabou, cientes que nossa paz durará até a próxima erupção ditatorial. Convivemos passivamente com os tremores cotidianos, com a fumaça tóxica da violência de Estado, simplesmente por que estes avisos atingem primeiramente aos que moram mais próximos da boca quente que nunca cessou completamente sua atividade. Culpam os moradores pelo cheiro fétido do enxofre que insiste em espalhar-se. Mas, esta lava escorreu, atingindo as bases de um govenro democrático. A esperança agora vira apreensão e a agonia de não se saber o futuro é substituída pelo desejo de morte de quem não aguenta mais viver sob risco constante e imprevisível. Somos uma nação que prefere a morte, que deseja o cataclisma, simplesmente porque já se esqueceu de que há algo além da grande montanha. Esquecemos que existe horizonte. O Brasil se tornou uma ilha de mata repleta de seres especializados, constantemente ameaçados de extinção por acharem que seria impossível se adaptar ao futuro. Talvez, por falta de coragem, mereçamos ser extintos numa enorme erupção. 

    • Quando em perigo extremo, os

      Quando em perigo extremo, os comandantes romanos costumavam alinhar as tropas para o combate e destacavam algumas coortes para queimar o acampamento e a bagagem. Ao ver tudo que desejavam (proteção e riquezas conquistadas) destruído os soldados romanos sabiam que só havia duas alternativas: morrer lutando ou derrotar o inimigo.

      Os líderes de esquerda argentinos são capazes de sacrificar tudo que tem, os da esquerda brasileira não querem sacrificar nada. Preferem ver o povo ser sacrificado.

      • A esquerda brasileira

        A esquerda brasileira raramente vai além do palanque e, quando vai (anos de chumbo), marcha totalmente desorganizada.

         

  • Não chores por mim
    Fábio, a esquerda brasileira é ineficiente, concordo, mas não queira comparar o nível de conscientização política dos argentinos com a dos brasileiros. Eles são muito mais politizados. Nosso povo é analfabeto funcional...

  • Foi o que falei no posta

    Foi o que falei no post sobre o Tacla Duran, caro Fabio. Se o Brasil fosse a Argentina e Lula a Cristina, a cambada de Curitiba teria que fugir para Miami para não acabar como Mussollini, pendurado num poste em praça pública.

  • Não concordo

    Fábio, me desculpe, mas acho que você não deve ter participado, pelo menos de uns anos para cá, de ações para engajar pessoas a se manifestarem contra o que está acontecendo no país.

    Desde que ocorreram as famosas jornadas de junho de 2013, quando a direita botou o bloco na rua, a maioria das pessoas que normalmente apóiam manifestações da esquerda ficou na defensiva. De lá para cá, a passividade dessas pessoas aumentou muito.

    Você tentou mobilizar recentemente pessoas para se manifestarem contra o que vem ocorrendo desde o golpe? Se tentou, deve ter constatado que está dificílimo fazer isto.

    As pessoas estão anestesiadas, meio que conformadas com a situação, infelizmente.

    Não acho que toda a culpa é das lideranças de esquerda não. Há de fato as lideranças que se acomodaram. Mas há várias que estão tentando mobilizar as pessoas e não conseguem. 

    • Resumindo, você culpa o povo

      Resumindo, você culpa o povo como fazem os líderes de esquerda que não foram capazes de motiva-lo e organiza-lo.

    • Cláudio, infelizmente eu
      Cláudio, infelizmente eu concordo em alguns pontos com o Fábio. Aqui em Salvador, na época das manifestações contra o golpe as pessoas ligadas às lideranças (e olha que eu tenho uma quantidade enorme delas na minha rede de amigos) simplesmente não faziam nenhuma publicidade dos movimentos, das manifestações. A coisa era tão ridícula que por vezes eu entrava nos grupos da esquerda para reclamar mas nem assim se tomava providencia. As manifestações pareciam festas descoladas onde apenas os bem relacionados ficavam sabendo onde e quando iriam ocorrer. É triste, mas é verdade. O povo não era chamado ás ruas, parecia festa de bacana. Eu ficava revoltado e produzia algumas postagens convidando as pessoas como se fosse para uma grande festa, mas as lideranças ou as pessoas ligadas às lideranças ficavam apáticas, com raríssimas exceções.

  • Numa entrevista de Lilia

    Numa entrevista de Lilia Schwartz, ela diz que Lima Barreto escreveu que no Brasil não há povo, há público - e eu acrescentaria um público de telenovela. A tarefa da esquerda é fazer essa mudança de público para povo tendo que enfrentar uma das elites mais miserávelis do mundo . Não é tarefa fácil,  mas se isso não acontecer, a caçada que  Lula hoje sofre ( e que Getúlio e JK sofreram no passado ) se repetira´com  outro líder que chegar ao poder e ousar ter algum projeto de inclusão social. 

      • Obrigado, Fábio. E eu

        Obrigado, Fábio. E eu acrescentaria um outro comportamento do povo argentino que nos faz passar vergonha = a punição que os militares argentinos vêm sofrendo por um dos regimes militares mais cruéis do mundo. Lá uma figura como Videla, um verme em forma de gente, morreu na cadeia. Como um povo de verdade, os argentinos não perdoaram militares que foram monstros torturadores e assassinos de 30.000 vítimas  mas  que na hora de enfrentarem um guerra de verdade contra a Inglaterra eram os primeiros a se renderem e deixarem os soldados morrendo de fome e frio no front - e tendo como comandante um pinguço e idiota do quilate do Galtieri . Aqui, os militares sairam na hora que viram que eles tinham quebrado o país. Mas claro que o preço disso foi uma anistia que sequer serviu para que, pelo menos, as forças armadas tivessem a hombridade de dizer o que aconteceu aos desaparecidos e mortos do regime. E essa falta de memória pode custar ao país a eleição de um Bolsonaro. Muitos amigos meus dizem que estou exagerando, dizendo que isso não vai acontecer. Aí eu digo a eles quem previa, há três anos, que o país seria presidido por uma quadrilha liderada por Temer? 

  • Povo na rua.
    Sem dúvida o povo brasileiro é dócil. Nossa esquerda nunca radicaliza sua posição. Entretanto na média o brasileiro tende muito mais para a direita. Só observar a composição de nosso legislativo. O povo na rua depende de orquestração. Nunca teremos o comportamento político dos argentinos.

  • Argentinos
    Eles não têm que rir de nada. O povo argentino é tanto quanto risivel quanto nós. Estão esquecendo que, ao contrário de Temer, Macri foi eleito por voto da maioria.E experimentaram o remedio com Menen. E engoliram o lawfare contra a presidente Cristina. Se julgam inteligentes, mas também são manipuláveis pela midia. Ou seja, sao nossos hermanos na mesma tragédia.

    • Tem que rir sim. E se voce

      Tem que rir sim. E se voce não ri de si mesmo é porque quer continuar no erro. Ficou ofendido porque está preso a bobagem de "argentinos versus brasileiros". Quanta bobagem! Vamos segir o exemplo, aceitar a chacota, que é extremamente positiva, e nos unir a eles.

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