Hino Oh, Minas Gerais e Revolta da Chibata: 100 anos

Nassif e leitores,

 

Hoje, em torno dos 100 anos da Revolta da Chibata, muito vem se falando acerca da figura de João Cândido e da bela homenagem de Aldir Blanc e João Bosco ao “navegante negro” em O Mestre Sala dos Mares.

 

Ironicamente, no início daquele ano de 1910, porém, o navio-palco do episódio, o Minas Geraes, foi motivo de hino de Eduardo das Neves, produzido a partir de uma célebre canção napolitana. Anos mais tarde (1942), torna-se espécie de hino não-oficial de Minas Gerais graças a, principalmente, o compositor Duduca de Moraes. Mas Roberto Paiva gravou uma versão semelhante três anos depois, de Paulo Roberto.

  

Abaixo, conto uma breve história do hino, que assim também faz 100 anos, personagens e posts das versões.

Abraços,

  

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Em 1942, a canção Oh, Minas Gerais começara sua carreira como hino não-oficial do estado com uma bela versão, pela Odeon, de José Duduca Moraes com Manezinho Araújo e a incrível sanfona de Antenógenes Silva e seu grupo.

Roberto Paiva, que aos 89 anos, é um dos intérpretes vivos mais importantes da música brasileira atual (postei uma longa matéria sobre ele no blog Nefelibata) também ficou conhecido nacionalmente por uma das versões do célebre Oh, Minas Gerais, feita pelo radialista Paulo Roberto, em 1945.

 

A canção-hino, contudo, deriva de outra, feita por Eduardo das Neves em 1910 em homenagem – não diretamente – ao estado, mas ao encouraçado Minas Geraes, que marcava, na ocasião, o início de uma importante renovação na frota marinha brasileira, iniciada pelo Ministro da Marinha, Almirante Júlio César de Noronha, em 1904, e concretizada na gestão do Almirante Alexandrino Faria de Alencar, no final de 1906. De fabricação inglesa, modelo Dreadnought, o então Minas Geraes chegava ao Rio com os restos mortais do embaixador Joaquim Nabuco em 17 de abril de 1910. Em louvor à imponente embarcação naquele ano de 1910, Eduardo das Neves, por sua vez, escreveu a letra do Minas Geraes como uma versão da tradicional canção napolitana Vieni sul mar, provavelmente difundida no Brasil através das companhias italianas que atuaram aqui na virada do século XIX para o XX ou mesmo durante a passagem pelo país do famoso cantor italiano Enrico Caruso, que gravou a canção (anos depois também o fizeram os conterrâneos Tito Schipa, Mario Lanza e Andrea Bocelli).

 

A letra louva o amor entre um marinheiro e sua amada quando este a convida, no refrão, para conhecer o mar. Assim, enquanto podemos entoar o Oh Minas Gerais nas diferentes versões disponíveis (a clássica de Duduca, além da de Paiva e a “original” de Das Neves), os italianos cantam o êxtase de um marinheiro. No refrão: Vieni sul mar/vieni a vogar/sentirai l’ebbrezza/del tuo marinar. Na tradução livre: Venha ao mar/Venha a vogar/Sentirás o êxtase/do teu marinheiro. 

 

Mais ainda: em matéria publicada no jornal Hoje em Dia em 12 de outubro de 1999, na qual celebra e resgata a importância de Duduca (cujo acervo foi recentemente doado à Funalfa, em Juiz de Fora), o jornalista Jorge Sanglard ainda estica a história da canção, que na sua versão brasileira completa cem anos este ano, dizendo que a canção napolitana, por sua vez, inspirava-se em uma escocesa: Two lovely black eyes…

 

Mas, poucos meses depois, a 22 de novembro de 1910, o navio – que causou polêmica na política internacional da época, especialmente entre Brasil e Argentina – foi palco de crucial episódio durante a famosa Revolta da Chibata, marcada pela morte a bordo do marinheiro João Baptista das Neves e pela emergente figura de João Cândido, o “almirante negro”.

 

E la nave va…