Covid-19 – A depender da campanha de vacinação, o país irá contabilizar entre 282 e 396 mil mortes, por Felipe A. P. L. Costa

Covid-19 – A depender da campanha de vacinação, o país irá contabilizar entre 14 e 24 milhões de casos e entre 282 e 396 mil mortes.

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. Vários países já deram início a campanhas de vacinação em massa contra a Covid-19. De acordo com o Ministério da Saúde, teríamos chegado ontem (27) a um total de 7.484.285 casos e 191.139 mortes. Presumindo que também haverá uma campanha de vacinação entre nós, cabe a pergunta: Quantos casos e quantas mortes serão contabilizados até o fim da campanha? Duas de minhas projeções (otimistas) oferecem as seguintes respostas: (1) Cenário RÁPIDO – Até 27/6/2021, o país irá contabilizar um total de 13.907.892 casos e 282.043 mortes; e (2) Cenário LENTO – Até 26/12/2021, o país irá contabilizar 23.709.058 casos e 395.708 mortes.

*

Um.

Ao menos 43 países já deram início a campanhas de vacinação em massa contra a Covid-19 (ver aqui). O pontapé inicial foi dado pelo Reino Unido, em 8/12 [1]. Nos Estados Unidos, o país que ostenta as piores estatísticas (ver aqui), a campanha teve início em 14/12 [2].

Os brasileiros, infelizmente, ainda não sabem quando uma campanha semelhante terá início por aqui.

Dois.

Não há dúvida de que é uma boa notícia saber que a vacinação em massa já começou em outros lugares. Mas a boa nova não nos autoriza a acreditar que estaríamos a presenciar os momentos derradeiros da pandemia. Nem justificaria o entusiasmo ingênuo e apressado que alguns brasileiros (jornalistas, inclusive) estão a manifestar.

Fechar os olhos e abrir mão do senso crítico é uma combinação perigosa cujos frutos costumam ser duros e amargos.

Três.

Devemos manter os olhos abertos.

Em primeiro lugar, devemos atentar para o seguinte: vacinar a população de um país não é um processo instantâneo. Leva tempo.

Veja o caso da Austrália. O governo australiano anunciou que 80% da população (~26 milhões de habitantes) deverão estar vacinados até outubro de 2021 (ver aqui; para um segundo exemplo, ver aqui). O nosso Ministério da Saúde, que até outro dia usufruía de uma reconhecida tradição em campanhas de vacinação, seria capaz de vacinar a população brasileira a um ritmo bem superior ao que está subentendido na estimativa do governo australiano. O governo brasileiro, no entanto, prevê que a campanha por aqui deva demorar mais de 1 ano (ver aqui).

Quatro.

Em segundo lugar, devemos atentar para o seguinte: os frutos da vacinação não brotam da noite para o dia [3]. No caso da Covid-19, a pandemia só será interrompida quando uma cobertura mínima em torno de 60-70% da população vier a ser atingida.

É a tal imunidade de rebanho.

Veja: após ter sido vacinado ou vacinada [4], você até pode se sentir protegido(a) e seguro(a). A pandemia, no entanto, só será interrompida depois que algo entre 60 e 70% dos seus vizinhos também tiver sido vacinado.

Em resumo, mesmo após o início da vacinação, muitos brasileiros (até duas dezenas de milhões; ver adiante) ainda serão infectados. Muitos dos quais, infelizmente, irão sucumbir (entre dezenas e centenas de milhares; ver adiante).

A julgar pelo que tem sido observado nas últimas semanas, o pior ainda pode estar por vir. Em outras palavras, as estatísticas podem ser ainda mais terríveis e assustadoras em 2021.

Cinco.

De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados ontem (27) mais 18.479 casos e 344 mortes em todo o país. Teríamos chegado assim a um total de 7.484.285 casos e 191.139 mortes.

Contrariando o que foi observado nas semanas anteriores (ver artigo Nada é tão ruim que não possa piorar: As taxas de crescimento seguem a escalar), houve um declínio nas taxas de crescimento (casos e mortes) ao longo da última semana [5].

*

FIGURA. O ‘V’ da pandemia. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6 e 27/12. (Valores acima de 2% não são mostrados.) Note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo a partir do início de novembro.

*

Levando em conta as estatísticas da semana encerrada ontem (21-27/12), as médias semanais estão agora em 0,48% (casos) e 0,33% (mortes) [6].

Em condições normais, o declínio nessas taxas seria uma notícia auspiciosa. Mas não foi uma semana normal. A julgar pela rotina de trabalho das autoridades sanitárias (e.g., municipais e estaduais), o feriado de Natal atrapalhou a computação dos registros, puxando as estatísticas para baixo. As quedas, portanto, são artificiais. Algo semelhante deve ocorrer ao longo desta semana (28/12-3/1). As nuvens que ora turvam a nossa visão do que se passa no país só deverão se dissipar na outra semana (4-10/1) [7].

Seis.

Dito isso, resta dar uma resposta numérica à pergunta central deste artigo: Quantos casos e quantas mortes serão contabilizados em todo o país até o fim da campanha de vacinação? (Presumindo que haverá uma campanha.)

Há vários modos de se estimar esses números.

No que segue, vou apresentar apenas duas de minhas projeções mais otimistas. As duas, como o leitor irá notar, foram obtidas de modo relativamente simples. São aproximações e estão sujeitas a ajustes e correções.

Sete.

Minhas projeções estão assentadas em três premissas. (a) Haverá campanha de vacinação e esta terá início imediatamente. (Uma simplificação óbvia e bastante conservadora.) (b) No cenário RÁPIDO, a campanha estará concluída daqui a 26 semanas (em 27/6); no cenário LENTO, daqui a 52 semanas (em 26/12). (c) Durante a campanha de vacinação, as taxas de crescimento (casos e mortes) seguirão tendências declinantes [8].

Respeitadas estas premissas, eis os resultados obtidos: (1) No cenário RÁPIDO – Até 27/6/2021, o país irá contabilizar um total de 13.907.892 casos e 282.043 mortes; e (2) No cenário LENTO – Até 26/12/2021, o país irá contabilizar um total de 23.709.058 casos e 395.708 mortes.

*

Notas.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Uma cidadã britânica de 90 anos de idade foi a primeira pessoa a receber uma dose da vacina da Pfizer/BioNTech (ver aqui).

[2] A campanha estadunidense também começou com a vacina da Pfizer/BioNTech. Na semana seguinte, as autoridades liberaram uma segunda vacina, a da Moderna (ver aqui), também em circunstâncias emergenciais. Vale frisar que, em tais circunstâncias, os fabricantes ficam isentos de qualquer responsabilidade por eventuais problemas decorrentes da vacinação.

[3] Para fins de ilustração, considere as estatísticas dos EUA, antes e após o início da campanha de vacinação. Em 2/12 (12 dias antes), eram 14.360.467 casos e 279.839 mortes. No dia 14, quando a campanha teve início, 16.950.546 casos e 308.298 mortes. Em 26/12 (12 dias depois), 19.441.964 casos e 339.923 mortes. Comparando esses dois intervalos de 12 dias, as taxas de crescimento diário (casos e mortes) pouco se alteraram. Veja: (1) casos: 1,39% (2-14/12) e 1,15% (14-26/12); e (2) mortes: 0,81% (2-14/12) e 0,82% (14-26/12). (Fonte das estatísticas dos EUA: Worldometer: Coronavirus.)

[4] As vacinas que já estão sendo usadas, assim como as que virão a ser usadas logo a seguir, devem ser administradas em duas doses. A eficácia média de todas elas gira em torno de 90% – i.e., nove em cada 10 indivíduos vacinados adquirem imunidade e ficam protegidos contra a doença. Assim, para imunizar 70% da população, ao menos 78% dos indivíduos teriam de ser vacinados.

[5] Da qual a imprensa brasileira só se dará conta amanha (29), quando e se o Imperial College de Londres (Inglaterra) vier a soltar um novo boletim sobre a situação brasileira.

[6] Para detalhes metodológicos, ver qualquer um dos quatro volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui e aqui).

[7] Entre 25/10 e 27/12, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12) e 0,48% (21-27/12); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12) e 0,33% (21-27/12).

[8] No cenário RÁPIDO, as trajetórias passam pelos seguintes pontos (casos e mortes): 0,57% e 0,33% (27/12); 0,3% e 0,21% (28/3); e 0% e 0% (27/6). No cenário LENTO, as trajetórias passam pelos pontos (casos e mortes): 0,57% e 0,33% (27/12); 0,3% e 0,21% (27/6); e 0% e 0% (26/12). Cabe esclarecer o seguinte: os valores 0,57% e 0,3% (casos) e 0,33% e 0,21% (mortes) foram escolhidos de modo algo arbitrário, mas são valores conservadores, eu acrescentaria. Os valores para o dia 27/12 (0,57% e 0,33%) são as médias (casos e mortes, respectivamente) das últimas sete semanas (8/11-27/12); os valores intermediários (0,3% e 0,21%) são os valores mais baixos desde o início da pandemia e correspondem às médias da semana 2-8/11.

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Redação

Redação

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  • " Nem justificaria o entusiasmo ingênuo e apressado que alguns brasileiros (jornalistas, inclusive) estão a manifestar."
    ISTO NÃO É INGENUIDADE, É SAFADEZA E BANDITISMO MESMO.

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