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Das tragédias e do livre pensar

Neste domingo, na “Folha”, um grande intelectual, Renato Janine Ribeiro, um grande poeta, Ferreira Gullar, escrevem sobre o assassinato do menino João. Antes de expor o pensamento, a jurisprudência exige o pagamento do óbolo: a postura pública contristada ante a tragédia do menino. É como se dissessem ao “homem massa”: olha, eu estou do seu lado completamente, porém… Pago o ingresso, se permitem o exercício de pensar -o Janine sem receios, o Gullar com tantos dedos, que se fosse utilizar a crônica como tema de poesia, sairia uma verdadeira “Ode à Centopéia”.

E querem uma opinião politicamente incorreta? Para mim a morte do menino foi uma tragédia não calculada, fruto do pânico dos assaltantes, não um assassinato a sangue frio. Os infratores não eram de quadrilhas de tóxico, não exibiam os requintes de crueldade que juízes meus conhecidos contam sobre os verdadeiros criminosos.

Eram assaltantes, cursavam a pré-escola do crime, período em que poderiam ser resgatados do passo seguinte, o aliciamento pelo crime organizado.

Queriam roubar um carro. Na pressa, a tragédia do menino preso ao cinto de segurança, e o pânico. O que não se sabe ao certo é se prosseguiram sem ver o menino; ou viram, mas prosseguiram com medo da cadeia e, possivelmente, do linchamento. Mais grave na segunda hipótese; menos grave na primeira. Mas longe do arquétipo do criminoso completo.

Têm que ser punidos, de fato. Mas tratá-los como o supra-sumo da impunidade, o paradigma do criminoso cruel, só serve para vender jornais e aumentar a audiência de programas sensacionalistas. Querer discutir a pena de morte a partir dessa tragédia é forçar a barra. Nenhum júri digno, à luz dos fatos apresentados, os condenaria à pena de morte, a não ser para atender ao clamor da turba.

Outro dia, no “Estadão”, uma pequena nota descrevia a cena da chegada dos criminosos na cadeia, e um menino de 5 ou 7 anos gritando “mata! mata!”.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • O rapper MV Bill e a
    O rapper MV Bill e a recém-eleita deputada carioca Marina Maggessi, ex-Chefe de Inteligência da Polícia do Rio, deram entrevista ao público presente, na TV Câmara. Dois cidadãos na vanguarda do tema, tomando a frente dos debates.

    Quando eles e outros como eles falam, vê-se que a voz da realidade, mesmo quando se apresenta através da mídia e de seus personagens, é insuperável, e convence a todos. Todos encontram dentro de si a mesma verdade. Mas esta verdade não está sendo encarada de frente pelo discurso das autoridades brasileiras e pelo tom de caixa da mídia, o que está quase mudando, mas ainda é preciso ir um pouquinho além.

    O que já está se falando nos meios científicos mais avançados do mundo, nos debates de mais alto nível, é que a civilização como a conhecemos chegou ao seu limite, e agora é preciso começar a desmontá-la, para a construção de uma cultura muito diferente da atual. Muitos dos problemas atuais não poderão ser resolvidos a não por uma transformação profunda de nossas instituições. Mesmo assim, é preciso valorizar a realidade presente, para que essa transição não fuja ao controle, como a cultura tradicional já fugiu totalmente a qualquer controle. O maior sinal disso são os problemas da metrópole e das capitais centralizadoras, que não encontram mais respostas dentro de suas lógicas.

  • Nassif, o artigo do Renato
    Nassif, o artigo do Renato Janine Ribeiro, "Razão e Sensibilidade" é comovente, a começar pelo título do artigo. Ele escreveu sobre o horror em estado puro e o nazismo. Admite que pensa (e, portanto, redige o artigo) em meio a um turbilhão de sentimentos. O turbilhão ao qual ele se refere, e que levantou a todos nós, foi a trágica morte do menino João Hélio. Após uma série de comparações e tergiversações sobre como aplicar torturas e punições horrorosas e requintadas, ele afirma que torce para que, na cadeia, os assassinos do menino recebam sua paga; que torce para que a recebam de modo demorado e sofrido.
    Ele chega a afirmar que: "Mas provavelmente executamos mais gente que o Texas, o Irã ou a China. É que o fazemos às escondidas. Quando penso que, desses infanticidas, os próprios colegas de prisão se livrarão, confesso sentir um consolo. Mas há algo hipócrita nisso."

    Sinto muito, EU NÃO EXECUTO NINGUÉM!!!
    Vou parar de comentar o restante do artigo, porque começou a me dar náuseas.
    Vindo de um professor de ética e filosofia política, quem diria?!
    Fosse um cidadão comum, telespectador do JN!
    O outro, na Folha de ontem, o deputado f.gabeira, diz que Cuba fuzilou quatro pessoas que tentavam fugir do país, que a China executa regularmente seus prisioneiros e que, diante disso, erguem-se poucas vozes no Brasil e que silencia o humanismo.
    É mesmo? O Prêmio Nobel de literatura, José Saramago, silenciou-se?
    Eu, pessoalmente, não estou nem aí pra Cuba ou pra China, ou pra esquerda em geral. Quero inclusão, quero Justiça Social, Reforma Educacional, Reforma Política, Reforma Judiciária, etc. Quero cinco anos pro mandato presidencial, sem reeleição. LULA VAI FICAR ROUCO DE TANTO REPETIR: O BRASIL NÃO É A VENEZUELA! EU NÃO SOU CHAVES!
    EU, sancho, SOU LULA, COM MUITO ORGULHO!
    Por que será que pessoas como f.gabeira lembram o passado distante da esquerda para sustentarem suas idéias? Fidel é um morto vivo. O muro caiu em 89, a china passa por intensas transformações, a questão energética se impõe decisivamente. Qual é a desses caras?
    Olha, Nassif, postei um comentário sobre o seu "Justiça e o caso do tatu.". Aquela ficção do meu post sempre me deixou muito angustiado. O pior é que há muitas ficções como aquela. Cadáveres e mais cadáveres sem origem, que surgem do nada! Parece que caem do céu!

  • Disseram por aí na visão mais
    Disseram por aí na visão mais
    pessimista, que o Brasil não tem
    jeito. Luis Nassif, vai aí uma pequena contribuição, fruto de pesquisas . Por favor corrija-me se
    tiver algum êrro ou falta de atualização. Obrigado !

    O BRASIL TEM CRIATIVIDADE SIM !

    Criamos o primeiro objeto voador mais pesado que o ar, o 14 Bis, que tanto sucesso fez em Paris na França, através do inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, perante uma comissão do Aeroclube da França , em 12 de Novembro de 1906.
    O 14-Bis voou com uma velocidade de 37,5 km/h, à altitude de 2 metros e percorreu a distância de 220 metros em 31 segundos.
    Tivemos o maior estadista brasileiro na figura de Barão do Rio Branco.
    Tivemos um grande orador e diplomata . O grande Águia de Haia . Aqui no Rio de Janeiro temos a Casa de Rui Barbosa.
    Tivemos e ainda temos grandes pensadores, filósofos, poetas e escritores :
    Machado de Assis, Olavo Bilac, Castro Alves, Gregório de Matos Guerra, José Mascarenhas, José d"Abreu Albano, Manuel Bandeira, Carlos Drumond de Andrade, Érico Veríssimo, Eça de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos,
    Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, etc. etc. etc… e muitos outros.

    Em Ouro Preto/MG e Congonhas do Campo/MG, viveu o grande escultor, entalhador, santeiro e arquiteto, Antonio Francisco Lisboa ( O Aleijadinho ) A maior parte de sua obra encontra-se até hoje nas cidades de Ouro Preto e Congonhas
    do Campo/ MG.

    Em Agôsto de 1.925 - um automóvel da Ford, foi abastecido exclusivamentes com aguardente de cana 70º GL . Ele percorreu 230 km, à razão de 20 litros pôr 100 km. Deduz-se dêsse texto que as pesquisas brasileiras visando a aproveitar as qualidades carburantes do álcool vem-se desenvolvendo há muito tempo. Esse mesmo veículo Ford efetuou os percursos Rio-São Paulo, Rio-Barra do Piraí e Rio-Petrópolis.

    A engenharia nacional desenvolveu a tecnologia própria de prospecção e extração de petróleo em águas profundas com recursos totalmente brasileiro.
    Também nossa engenharia desenvolveu tecnologia nacional ( puramente brasileira ) na criação dos aviões Tucanos e Bandeirantes .

    Temos o grande ITA - o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, em São José dos Campos que muito tem contribuido para a formação de mentes brilhantes.
    Temos a Universidade Federal de Ouro Preto/MG, a Universidade de Viçosa que juntamente com a EMBRAPA vem desenvolvendo tecnologia a serviço do homem do campo . Desbravamos o grande desafio " a conquista do cerrado " que era uma terra ácida e totalmente improdutiva, para a produção de soja . Temos a " Grande USP ", que no campo de pesquisas e afins, tem lançado no mercado nacional e internacional, profissionais de grande gabarito e competência.

    Lembram-se Osvaldo Cruz, o grande cientista brasileiro que acabou com a epidemia da febre amarela no Rio de Janeiro. E o grande Carlos Chagas que descobriu a doença que levou o seu nome. Chefiou uma grande campanha profiláxica contra a malária em São Paulo. Graças a ele se pode erradicar a moléstia com o emprego de inseticidas . O que movia Carlos Chagas ? A tendência que guiava Carlos Chagas era uma profunda pena pelo sofrimento humano e ânsia de concorrer para minorá-lo.

    Geralmente é o que move os grandes cientistas no mundo afora.

    O Brasil é grande ! E não precisamos de uma visão pequena !

    Temos que erradicar no país é uma doença moral que infectou nossa política atual. Precisamos de políticos com caráter e fôrça moral suficiente para êsse país andar para frente… Não precisamos de uma visão estreita e pequena !

    Nossa história é bonita, precisamos resgatar nossas raizes e tradições ! O Brasil nasceu império na sua Independência, e temos orgulho disso ! Não vamos deixar a decadência e a corrupção dos costumes, da moral venha dilapidar êste grande patrimônio que é ainda maior " O Povo Brasileiro ".

  • Se não tem segurança nem
    Se não tem segurança nem educação, apele-se para uma lei em vão. Faz parte da lógica brasileira.

  • A tragédia da morte do menino
    A tragédia da morte do menino João, e tantos outros momentos trágicos trazem o mesmo estardalhaço. A mídia em geral discutindo o fim e não a ponta do problema e a grande massa levada pelo momento de comoção é tomada por este desejo de pega e mata o bandido! Antes que me piquem abelhas, deixo claro que nada diminui a tragédia, nada imuniza os criminosos. Mas esquecemos que muitos, senão a maioria dos criminosos, atores principais de grandes tragédias são seres humanos de vidas despedaçadas. É como se a cada crime eles nos chamassem a sua existência, ou inexistência! (MV Bill trabalha muito bem este conceito).

    Em várias das cenas do momento da prisão dos criminosos envolvidos na morte do menino João, o que vimos foi um tratamento dado pelas autoridades, que em um mundo civilizado não daríamos ao nossos cães! Um deles quase estrangulado pelo policial! O outro tendo sua face apontado para a camera de TV, como que em uma exibição do diabo (nunca vi uma, mas aquela imagem é a que tenho se me dissesem que exibiriam o diabo).

    Até este momento máximo na vida deste jovens, é bem provável que todos eles tenham passado por vários tratamentos tão desumanos quanto estes!

    De novo, nada minimiza a dor da família e a barbárie do crime, mas se continuarmos a gastar toda energia discutindo os rigores de penas e como enjaular estes criminosos e não como diminuir as chances destes jovens chegarem a situações limites como esta, de tempos em tempos seremos tomados por uma nova tragédia. O tempos em tempos cada vez mais próximos!

  • Como nem isso? A discussão já
    Como nem isso? A discussão já está no nível da pena de morte. Só não propuseram salgar os pedaços.

  • Não há virtude na vingança.
    Não há virtude na vingança.
    Por que perdemos tempo discutindo maioridade penal e pena de morte?
    Não é o carrasco quem resolve a criminalidade. Carrasco nenhum vai evitar que mais crimes violentos aconteçam.

    O que falta no Brasil? Mais suplícios ou percepção de causa e efeito?
    Não seria melhor discutir ações capazes de reduzir crimes?
    Redução da desigualdade social / Educação e saúde de qualidade para todos / Emprego e perspectiva de futuro para os jovens.

    Para quem gosta de polêmica não estéril, há uma boa: Sou a favor de transferir as drogas da esfera criminal para a esfera da saúde pública. Menos carrasco e mais saúde.

  • Nassif,

    Eu compartilho de
    Nassif,

    Eu compartilho de seu ponto de vista sobre as raízes da violência/criminalidade nesse país, e sobre as ações necessárias para reverter a situação.

    Entrentanto, nesse caso específico, não vejo como é possível que eles não tenham tomado consciência da situação em um período curto de tempo. Testemunhas afirmam que eles foram avisados.

    Também não consigo imaginar como é possível que pessoas com um mínimo de humanidade tenham continuado o trajeto insensíveis a um sofrimento tão atroz.

    Concordo que não deve ter sido nada planejado. Mas para mim nada justifica que não tenham parado para soltar o menino e continuar a fuga.

    Escrevo isso sem absolutamente nenhum ódio dirigido a esses jovens.
    Como pai de um menino de 1 ano e meio, minha emoção só consegue se colocar no lugar dos pais e sofrer junto com eles. Nada sobra para os assassinos.

    Continuo não acreditando na diminuiçao da maioridade penal e outras "soluções" inúteis.

  • Como o assunto trata-se
    Como o assunto trata-se também do
    livre pensamento ,achei oportuno, inserir nestas páginas, com a bênção do Nassif , um comentário do "Bola Preta " comentarista da Ponte Aérea/ RJ :

    Quadrilha com menor terá pena duplicada.
    Geralmente usam o menor para acobertarem os seus crimes. A pena do menor é quase inexistente, e talvez sob ameaça transfiram suas monstruosidades .

    l5 anos, é uma idade perigosa, pois o menor de qualquer faixa social, está se impondo ao mundo. Quer provar que já pertence ao rol dos adultos, quer provar que é macho,é homem…..e aí entra a manipulação
    dos espertalhões….Vai provar que é homem :assaltar….roubar….matar ..
    vai cheirar cocaina…vai transar…etc..etc..
    Isso de acôrdo com a geografia da realidade social …em que vive o menor.

    O ambiente social define a qualidade de vida que resultará aquele cidadão. Por isso
    é muito importante as políticas sociais, culturais e esportivas que visem tirar o menor da marginalidade.

    Se cuidarmos desta geração que está vindo agora…o futuro promete ser bem melhor…
    Tem um ditado italiano bem antigo… de pequeno se torce o pepino….

    A conscientização dos jovens sobre a vida sexual..é muito importante…porque se evitaria colocar filhos no mundo precocemente e sem um pingo de responsabilidade. A consciência do que é ser mãe quando ainda não largou a boneca….ou ainda está cheirando a fralda,é um assunto muito sério…

    Campanhas de conscientização na escola nos clubes recreativos e nas Igrejas vão tirar o jovem da marginalização.

    Quanto mais crianças nascem destes pais sem estrutura ….mais chance da sociedade criar menores abandonados e futuros marginais que no amanhã virará contra ela própria ( a sociedade ).

    A única coisa que ainda funciona neste país e ainda precáriamente é a pensão alimentícia . Mas o desemprego reinante
    muitas vezes…… o pai deixa de pagá-la mesmo sob o risco de prisão….e aí fica por isso mesmo…o sujeito está desempregado e nem tem aquela responsabilidade de cuidar daquela criança que poderá realmente estar passando fome. Se não tiver uma avó , um avô…a criança vai para os orfanatos da vida…..

    Esta realidade está passando de pai para filho, como num círculo vicioso, principalmente nas classes da base da pirâmide.
    Porque as favelas são desprovidas e imensas ??????

    Na China é o ano do porco…a ano da fartura e da riqueza…. a procriação também é rica….e quem tiver mais de um filho….a criança ficará sem registro e sem direitos algum…. e quem sabe esta
    idéia seria propícia ….para o Brasil ……..
    quem tiver mais de um filho e não tiver condições para criá-lo irá perder o direito aos programas sociais do governo…seria uma forma de frear a irresponsabilidade nas classes da
    base da pirâmide social.

    Comentário de Bola Preta — 18/02/2007 @ 9:37 am

Published by
Luis Nassif

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