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Queda pequena e tardia

A queda de um ponto na taxa Selic veio tarde e apenas comprova a falta que faz um Copom (Comitê de Política Monetária) profissional.

Os cenários, indicadores, estatísticas são apenas parte do ferramental para se prever comportamento de preços e do nível de atividade. Em momentos de inflexão brusca – como o que ocorreu a partir de setembro – não se pode recorrer apenas a eles, por que refletem a realidade de forma defasada.

Quando a economia oscila pouco, os indicadores permitem levantar o passado e projetar o futuro. Quando ocorrem baques, não. Em geral só aparecem nos indicadores com dois, três meses de defasagem. E, aí, Inês é morta.

No meu livro “O Jornalismo dos anos 90” há um capítulo inteiro dedicado à política de juros de abril de 1995, em que a quebradeira do país estava nítida para quem viajava e conversava com gerentes de bancos de interior; e só apareceu no radar do BC em julho.

Para captar esses movimentos, os técnicos, a diretoria do BC, o pessoal do Copom, tem que manter contato permanente com o mundo real. A informação empírica é importante para se formar opinião.

Levei muita pancada aqui ao dizer que em outubro a economia parou. Leiam o relatório de inflação do BC para dezembro, falando em atividade robusta, em um momento em que se tinha um volume recorde de despensa de empregados, em que o NUCI (Nível de Utilização da Capacidade Instalada) caía e os estoques se avolumavam.

Ou seja, em pleno epicentro do terremoto, o BC falava em atividade econômica robusta. Mais que isso, diretores, em off, ameaçavam com demissão coletiva se fossem obrigados a baixar os juros. Propus Ministério Público em cima desses arrogantes.

Ontem baixaram apenas um ponto, tardiamente, com perda enorme de eficácia e pressionados por Lula. Ainda tiveram o desplante de anunciar que o corte representa “parte relevante” do movimento de queda dos juros. Como podem afirmar isso se o desaquecimento está em pleno andamento e não se sabe quando se baterá no fundo do poço?

Com a queda de juros internacionais, com a queda da inflação, a taxa real continuou a mesma ou superior à anterior.

Ainda se tem que ouvir o presidente do BC, Henrique Meirelles, na cara dura, alegar que o problema não é a Selic, mas o spread bancário, como se não fizesse parte das atribuições do Banco Central coibir abusos.

Já se disse aqui várias vezes que, quando Lula resolvesse intervir no BC, seria tarde. Há condições de reverter essa crise, mas com ajuda mínima do BC.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • "... e pressionados por
    "... e pressionados por Lula".

    A política do Banco Central do Brazil (escrevi com z? estão escrevi bem) É a política do Lul*a.

    Pô Nassif, sem essa de querer livrar a "cara" do presidente eleito dos brasileiros.

    Repetindo: A política de juros do BC, digo bc, faz parte da política do governo Lul*a!

    Quem está livrando? É evidente que a palavra final é do Lula.

  • Foi divulgado que três
    Foi divulgado que três componentes do COPOM queriam uma redução de apenas 0,75%. Quem são eles ? A sociedade tem o direito de saber quem são e quais são os fundamentos em que se baseiam para tentar preservar os juros extratosféricos.

  • Além disso, você também disse
    Além disso, você também disse que o presidente só acordaria para a realidade depois que a sua popularidade começasse a cair. Mas, por outro lado, não tenho saudade do tempo em que o FHC aparecia pilotando o avião na campanha eleitoral de 1998 dizendo ser o "mais preparado para enfrentar a crise". Acho que o presidente está fazendo o que é possível para garantir os empregos e incentivar o consumo, mas a sensação é que o governo pode muito mais.

  • Nassif, na véspera da
    Nassif, na véspera da divulgação da reunião do BC, o Bradesco e a Tendências soltaram uma nota defendendo(sic) uma redução de 1 ponto na taxa Selic. De início digo que pelo que li, discordei em dois pontos, primeiro porque consultorias não defendem ponto de vista, mas nesse caso supõem haver o corte dessa magnitude. O segundo ponto é por que uma nota divulgada em véspera de reunião, quando o normal é divulgá-la antes. Mas quando veio a redução do BC, fiquei desconfiado de que alguém já sabia o que ia acontecer....e isso é grave

  • Tem uma frase que diz que
    Tem uma frase que diz que liberalismo prega que todas as galinhas do puleiro devem ser livres para fazerem o que querem.

    ... mas as raposas também...

  • Nassif o leitor Flics disse
    Nassif o leitor Flics disse que a posição do BC é do governo Lula,vc diz que a palavra final é sim de Lula.
    Então eu pergunto: Até onde o BC é independente?É tudo de mentirinha?É ou não é independente? É ,pero no mucho ???

    O Lula é responsável por ter deixado o BC tomar a rédea nos dentes, por excesso de independência, por ter usurpado do Executivo o papel de definir a política econômica.

  • Qq instituição com as funções
    Qq instituição com as funções do BC agiria de forma pró ativa diante da crise, o BC reage mal, os membros do copom passaram um atestado de pouca visão e conhecimento sobre economia, a situação é patética. Não viram ( ou não quiseram ver) a desaceleração da atividade econ., não viram o aumento no desemprego ( lembrando q nosso crescimento se deve tb ao mercado interno e a melhora na renda), não analisaram corretamente o impacto da crise. E no final só reduzem o juros quando o estrago já foi feito! É simples assim? vamos esperar o cenário piorar para agir? Vão falar q a função do BC é manter a meta de inflação, só q esquecem q a variável monetária (juros) influencia na variável real( produção). Agem assim pq eles não estão entre os q perderam emprego nesses meses...

  • Logo Lula perceberá o quanto
    Logo Lula perceberá o quanto lhe custará essa omissão. Por enquanto, as repercussões negativas recaem apenas sobre nós, o povo brasileiro. Sua popularidade será afetada, e muito, assim como seu desempenho como Presidente. Não merece mais do que isso.

  • Luis,sou de formação
    Luis,sou de formação profissional na área de saúde,mas vivo nop Brasil e tenho minhas relaçoes profissionais e financeirais como qualquer Brasileiro;minha dúvida é a seguinte,até que ponto,considerando uma certa independencia do BC,e consequentemente da "figura" que gerencia e toma decisões pode errar á frente do banco?pelas suas consideraçoes, ainda resta uma possibilidade de recverter o quadro que se prenuncia( Há condições de reverter essa crise, mas com ajuda mínima do BC).Seria legitima uma intervenção mais positiva e direta do presidente Lula?.Porque não dão crédito ao nosso vice presidente,que sempre que pode pede para"mexer nos juros"?, me parece que no Brasil virou moda ir contra a razão(vide Gilmar Mendes(segundo Noblat).abraços

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Luis Nassif

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