Transporte

Caminhoneiros autônomos são as primeiras vítimas do aumento do preço do diesel

da Página da CUT

Caminhoneiros autônomos são as primeiras vítimas do aumento do preço do diesel

Escrito por: Andre Accarini | Editado por: Marize Muniz

A escalada de aumentos de preços dos combustíveis no Brasil, resultado da Política de Paridade de Importação (PPI), adotada pela Petrobras em 2016 e mantida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), está empurrando o país para o abismo da hiperinflação e tornando insustentável o trabalho e a sobrevivência financeira de milhares de caminhoneiros e da população em geral que nem comida consegue comprar.

O último reajuste foi no diesel – 40 centavos por litros nas refinarias a partir da terça-feira (10). Em 12 meses, até abril, o óleo diesel acumula alta de 53,58%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (11).

 “Todos pagam o preço dessa política absurda [PPI] a começar pelos caminhoneiros autônomos, que bancam do próprio bolso os custos com os caminhões”, diz Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT (CNTTL).

Segundo ele, a maioria dos caminhoneiros têm veículos velhos, com idade média de 21 anos, que consomem 20% a mais de óleo diesel se comparados a caminhões novos, com tecnologia mais avançada. “Esse [trabalhador] é o que primeiro de uma lista que vai ser atacado por mais um aumento”, diz o dirigente.  

No total, entre veículos de autônomos e de transportadoras, segundo Litti Dahmer, rodam pelas estradas brasileiras hoje cerca de um milhão de veículos mais velhos. Por isso, ressalta, as pequenas e médias empresas de transporte também terão dificuldades. E a ‘lista de impactados’, explica, é maior porque o aumento afeta todos os outros preços de produtos consumidos no Brasil.

 Cerca de 90% do que é transportado no país é por caminhões, portanto, a grande maioria do que se comercializa hoje no país, passa por esse tipo de transporte e também sofrerá impactos.

“Vai bater diretamente na prateleira, diretamente no prato de cada cidadão e não será mais uma inflação. Será o retorno da hiperinflação”, diz Litti Dahmer.

“A total responsabilidade por essa situação é o presidente da República, que não toma nenhuma atitude para mudar a política de preços da Petrobras, para beneficiar os acionistas”, afirma o dirigente.

“Mesmo o governo sendo acionista majoritário da estatal e tendo poder decisão sobre que rumo a empresa deve tomar para controlar os preços e proteger tanto a economia como o povo brasileiro, o verdadeiro dono da Petrobras não faz nada”, diz o diretor da CNTTL.

É uma a ladainha do Bolsonaro dizer que não é dele a responsabilidade. É total. É 100% dele. Tem que parar de transferir responsabilidade para os outros e tomar decisão não favorável aos acionistas estrangeiros e sim à população brasileira- Carlos Alberto Litti Dahmer


Outro ponto apontado pelo sindicalista é que o Brasil é autossuficiente na produção de petróleo. O Brasil, hoje, extrai o petróleo cru e envia para outros países para o refino e, então compra os derivados com preços internacionais.

“Produzimos mais de 1,6 milhão de barris por dia quando a demanda é de 1,4 milhão. No entanto, mandamos esse barril cru para fora, para ser refinado em Cingapura, nos EUA, na Inglaterra, ao invés de usarmos nossas refinarias que estão com 60% da capacidade ociosa”, diz o diretor da CNTTL.

Autônomos

A categoria vem sofrendo as consequências desde 2016 quando a PPI foi implantada pelo então presidente da estatal, Pedro Parente, no governo do ilegítimo Michel Temer (MDB). De acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em 2017, o Brasil tinha cerca de 919 mil transportadores autônomos. O número caiu para 696 mil em 2021. O motivo é que esses profissionais, conforme diz Litti, não tem como ‘bancar’ o próprio trabalho. “Ou ele come ou ele abastece e dá manutenção”, diz o dirigente.

E quem roda nas estradas facilmente identifica vários desses veículos rodando sem condições. A falta de manutenção coloca em risco a segurança não só do caminhoneiro mas da sociedade.

“Ficou insustentável. Muitos já venderam o caminhão por não conseguir manter, mas aí veio outro, que comprou esse caminhão, recebeu o fundo de garantia, juntou um dinheiro e foi tentar a vida na estrada, mas ele vai sofrer também”, diz o dirigente reforçando que “são famílias que estão passando por aperto”.

Mobilização

Há uma certa dificuldade de organização da categoria no que diz respeito a realizar greves. Em 2018, ainda durante o governo Temer, caminhoneiros paralisaram durante dez dias, também tendo como reivindicação os preços dos combustíveis e a fixação de uma tabela mínima para os valores de frete.

“Os caminhoneiros são parte de uma sociedade que é explorada cada vez mais por um desgoverno que retira direitos e que não dá margem nenhuma para negociação. E quando se faz mobilização a primeira resposta do Estado é o aparelhamento e a repressão com interditos proibitório e multas milionárias aos trabalhadores”.

Mas o dirigente dá um recado de ânimo aos trabalhadores para se mobilizem. “O aparato do estado fascista é para opressão, mas a sociedade tem que mostrar quem tem o comando da nação. Os caminhoneiros têm que ter uma atitude, ir à luta para mostrar quem move o país”, conclui.

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