Após o golpe, o Brasil ficou mixuruca, por Rui Daher, em CartaCapital

Após o golpe, o Brasil ficou mixuruca

por Rui Daher

em CartaCapital

Percebido pelas elites econômicas, políticas e midiáticas, que após 10 anos o processo nacional de inserção distributiva de renda poderia vir a ganhar fôlego por mais algumas décadas, pior, com a hegemonia de um partido mais próximo à esquerda, na verdade da democracia social, em 2013, a Federação de Corporações enxergou nos movimentos pelo Passe Livre a oportunidade de reação, antes dificultada pela alta aprovação popular do governo, as burras cheias da burguesia negocial, a soberania aprovada e reconhecida no exterior, e pela superação à pior crise da economia mundial, desde 1929.

Urdiu-se um golpe com origem nos acontecimentos na Petrobras e erros na condução econômica por Dilma Rousseff e equipe. O governo, afastado do apoio dos movimentos sociais, as classes média e baixa ainda extasiadas com as conquistas recentes, sem perceberem, foram acuados ao corner direito do lado direito do ringue.

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Uniram-se em quadrilha: o Congresso, de maioria conservadora, canalha, ignorante, inculta e interessado apenas em seus próprios ganhos; o Judiciário, refém de um juiz do Paraná de primeira instância, calcado na Rainha Malvada de Branca de Neve, sempre de preto, perguntando ao espelho se haveria juiz mais justo que ele; e a Grande Mídia, comandada pelas Organizações Globo, súditos, e jornalistas dependentes do emprego.

Não precisaram mais do que três anos para chegarem ao golpe de Estado e destituírem uma presidente eleita com 54 milhões votos.

E hoje aqui chegamos. Como? Mixos. Sim, mixurucas. Ou ainda não perceberam? De juristas, intelectuais, políticos, jornais e revistas importantes, organizações, nacionais e estrangeiros, sentirem-se constrangidos ou rirem. A camarilha tosca faz do País o que quer. Dá de ombros ou mente.

E nós? À população urbana trabalhadora, subempregada ou informal, trouxeram insegurança nas garantias nos direitos trabalhistas e previdenciários.

Em nome do ajuste fiscal elevaram o rombo a nível mais alto do que o real como motivo para arrochos sociais, tais como saúde, educação, saneamento, segurança, o siri recheado e o cacete (mais uma vez, obrigado, Aldir e Bosco).Hoje em dia, corremos entre dois macroprocessos, um político, outro econômico. Como apêndice, no primeiro, têm a condenação de Lula e as eleições presidenciais deste ano. No econômico, uma falcatrua, na verdade também de caráter político. Tudo está melhorando com Temer, Meirelles, e desculpem, não resisti à galhofa, mas à ajuda luxuosa do pandeiro de Doriana Jr., em Davos.

Bem, para pobres urbanos, caboclos, campesinos, ruralistas sem bancadas e sertanejos sobram miséria e a não-cidadania.

A economia mundial tem mostrado índices de crescimento aceitáveis, nada que poderá ajudar o Terceiro Mundo (sim, fiz voltar o termo classificatório porque ele nunca se foi). Donald “Orange Skin” Trump não deixará. Nem mesmo evitará a concentração de renda nos países hegemônicos. Panças preferirão estourar a distribuir. Assistiram à “Comilança”, (La Grande Bouffe”, de Marco Ferreri, 1973)? Ao Matheus, é obrigatório.

A discussão globalização ou não continuidade dela, para nós, nada significa.

Continuaremos economias subalternas, graças, enquanto a China se mantiver o maior player do comércio internacional.

A agropecuária, o agronegócio, caboclos, campesinos, ruralistas, assentados, sem terras, indígenas, quilombolas, eu e você. Estamos aí inseridos. Correndo seríssimos riscos.

Volto ao assunto. Se não mudar de ideia.

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

View Comments

  • Mixuruca e mixuruca

    Indiscutível a questão de nos encontrarmos num país politicamente mixuruca. Desde Janot e agora por aqui também se diz que somos governados por uma orcrim. Quanto à nossa situação de política econômica e social , no período pré impeachment  nos estertores do  governo democraticamente eleito (supostamente não tão legitimamente) já se vislumbrava que a vaca  estava indo para o brejo.

    • Não entendi Adailton,

      "governo democraticamente eleito (supostamente não tão legitimamente)". Da vaca no brejo, concordo. Abraços

  • Vc foi condenado a morte,

    Vc foi condenado a morte, Além da pena de morte, vc pode escolher uma das duas torturas:

    Um discurso de Suplicy sobre a renda mínima

      Ou ler um artigo de QUALQUER um da Carta Capital.

      Eu prefiro vazar minha vista e furar os tímpanos.

    • "tortura"

       Como tortura, escolhi ler qualquer comentário de "anarquista sério".

       E, para que não digam que o capitalismo não faz coisas boas, estou ouvindo agora You Could Be Mine (Guns N' Roses) numa rádio russa (!?).

      • Luís,

        anarquista pensa e reporoduz ideias. Ao "sério" sugiro um texto explicando o que fpo e é o anarquismo. Problema: ele precisará saber ler. Abraços

  • Prezado Rui
    Boa tarde
    Nem

    Prezado Rui

    Boa tarde

    Nem tudo esta perdido, outro dia,  um Civita se tornou bilionário com a condenação de Lula, e diziam que estavam falidos!

    Em janeiro a bovespa rendeu mais de 10%, com algumas grandes empresas recuperando-se na faixa dos 20 a 30%!

    Quanto ao pobre produtor, desenvolvedor, que se exploda, como dizia o Velho Chico!

    Abração 

     

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