Análise

Braga Netto, o general que não conseguiu colocar nada de pé

Não existe blefe maior, no governo Bolsonaro, do que o Ministro Braga Netto.

Na condição de Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência da República, no dia 22 de abril de 2020, Braga Netto anunciou o programa Pró-Brasil, um mega-programa de desenvolvimento conduzido pela Casa Civil.

Segundo o release do governo, “serão planejadas e desenvolvidas ações integradas, estruturantes e estratégicas para recuperação e desenvolvimento do País, bem como o restabelecimento do bem-estar da sociedade brasileira”.

Ambição pouca é bobagem! Braga Netto dizia que a Casa Civil, como órgão coordenador dos Ministérios, resolveu juntar todas as iniciativas em andamento nos diversos ministérios, e consolidar no programa “Pró-Brasil”. Segundo ele, o programa teve “aceitação unânime”. Provavelmente o “unânime” se referencia aos grandes planejadores, general Augusto Heleno, general Luiz Eduaurdo Ramos e capitão Jair Bolsonaro.

O programa atuaria com ênfase em dois eixos: ordem e progresso. Seria a primeira vez que um programa de desenvolvimento teve como eixo um genérico “ordem”.

No eixo ordem” entraram, pela ordem, medidas estruturantes como o aprimoramento do arcabouço normativo; atração de investimentos privados; maior segurança jurídica e produtividade; melhoria do ambiente de negócios; e mitigação dos impactos socioeconômicos.

O que tem a ver com “ordem”? Não me perguntem.

Mas a abrangência era ampla, com o programa dividido em cinco temas: Infraestrutura (transporte e logística; energia e mineração; telecomunicações e desenvolvimento regional e cidades); Desenvolvimento Produtivo (indústria; agronegócio; serviços e turismo); Capital Humano (cidadania; capacitação; saúde e defesa, inteligência, segurança pública e controle da corrupção); Inovação e Tecnologia (cadeias digitais; indústria criativa e ciência) e Viabilizadoras (finanças e tributação; legislação e controle; meio ambiente; institucional e internacional e valores e tradições).

O programa traçava um cenário do Brasil até 2030. E não se pense em um programa qualquer, escrito em papel de padaria. A apresentação foi em Power Point mais caprichado que o do procurador Deltan Dallagnol.

Tempos depois, assumiu como coordenador do grande programa de combate ao Covid-19, e não resistiu a uma coletiva, na qual mostrou um amadorismo digno de seu colega Eduardo Pazuello.

O grande mérito do Pró-Brasil foi ter sido de mote para uma das melhores sátiras políticas dos últimos anos, de Pedro Fernando Nery, no Estadão.

Talvez Bolsonaro tenha escolhido Braga Netto como vice por sua capacidade de realização

Ministro da Defesa foi o responsável por organizar o desfile de tanques na Esplanada

Março acabando, hora de homenagear alguns aniversariantes. Escolho Michael Scott e Braga Netto – separados por 4 dias.

Michael é o gerente da fictícia firma da comédia The Office. Sem aptidão para o cargo, ocupa-se de trivialidades que não levam a lugar nenhum, frequentemente convocando reuniões inúteis. É emblemática na série a atuação do Comitê de Planejamento de Festas, acionado por Michael para organizar a confraternização de Natal ou a compra de um bolo. Sem nada importante para fazer na firma, seus subalternos criam outros grupos, como o alternativo Comitê para Planejar Festas ou o Comitê para Determinar a Validade dos Dois Comitês.

 Michael é boçal, sem noção, e às vezes manifesta uma mania de grandeza que diverte ao encontrar sua incompetência. Acuse Michael de qualquer coisa, mas não o acuse de ter criado o Grupo de Trabalho para a Coordenação de Ações Estruturantes e Estratégicas para Recuperação, Crescimento e Desenvolvimento do País – doravante GTCAEERCDP.

O GTCAEERCDP foi criado há 2 anos pelo então ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto. Dali emergia o Pró-Brasil – “a principal ação do Governo Federal para retomada da atividade socioeconômica”, como informado ao TCU. Foi comparado ao Plano Marshall.

Michael Scott não faz apresentações com PowerPoint porque não sabe usá-lo. Braga Netto faz. Fez as do Pró-Brasil. De corar o Deltan, tinha, em vez de Lula no centro, a sua Casa Civil – centro gravitacional de vários outros órgãos na empreitada. A Economia seria satélite. Barras, cronogramas e setas indicavam o aumento vigoroso de alguma coisa, até já em 2022, mas cabe a quem ler conjecturar o que era. Havia também um “eixo ordem” e um “eixo progresso”.

Perturbador, 1.º semestre de ADM e plágio do Rolando Lero foram algumas reações no Twitter à apresentação do plano do general. De concreto, apenas a menção a duas resoluções.

A primeira instituía o GTCAEERCDP. A segunda mudava a composição do GTCAEERCDP. Incluindo o General Heleno. Só depois de um ano que uma nova resolução voltou a tratar do Grupo. Seu objetivo? Revogar as duas resoluções anteriores.

Fim. Sobe a vinheta.

Michael organizou a Corrida para a Conscientização sobre a Raiva pela Cura (“4 americanos morrem de raiva todos os anos!”). Braga Netto organizou o desfile de tanques na Esplanada.

Michael não conseguiu subir no organograma da empresa. Já o criador do GTCAEERCDP teria sido escolhido por Bolsonaro como seu novo vice. Faz sentido. Talvez aposte na sua capacidade de realização.  

* DOUTOR EM ECONOMIA

Luis Nassif

Luis Nassif

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