A indústria deveria ser o nosso norte, direcionando o desenvolvimento econômico brasileiro, porém abdicou de sua liderança para o setor agropecuário. Infelizmente, os industriais brasileiros não tiveram a mesma sorte que seus pares americanos do século XIX. Naquela época, a indústria americana, concentrada no norte do país, venceu a guerra pela hegemonia econômica.
Se não fosse o esforço empreendedor daqueles industriais, os Estados Unidos da América seriam hoje o que o Brasil, infelizmente, sonha em se tornar um dia: a fazenda do mundo! Não seria isso um pesadelo?
Caro leitor, não sou um inimigo do agronegócio! Afinal de contas, o mundo precisa de alimentos e matérias-primas, inclusive, existem países que possuem riquezas naturais. Podemos citar alguns como Noruega, Canadá e Austrália. Esses países, mesmo tendo vantagens comparativas na agricultura e no extrativismo em geral, não negligenciaram à atividade industrial.
A indústria americana vivia em conflito com os ruralistas do sul do país. Os produtores de algodão, valendo-se das vantagens comparativas sobre os demais países, eram favoráveis ao livre comércio e tinham como principal porto dos seus produtos a Inglaterra, país que possuía grandes tecelagens. Ademais, o livre comércio também era interessante para os produtores do sul, porque permitia-lhes a obtenção de manufaturas mais baratas vindas do exterior.
Os empresários, juntamente com lideranças do Estado americano, sabiam que a continuação dessa política levaria o país a ser uma grande nação agrícola ou a fazenda do mundo. Contudo, para evitar o futuro “agrodistópico”, o governo americano resolveu adotar políticas protecionistas em relação às manufaturas estrangeiras. Isso mesmo! Foi a política protecionista do estado americano que promoveu o desenvolvimento da indústria. O tal do “liberou geral” só veio depois do fortalecimento do setor.
Uma curiosidade da época foi o desencorajamento da leitura dos livros de Adam Smith e David Ricardo pelo governo, uma estratégia para instilar no empresariado o desejo de ir contra a teoria das vantagens comparativas que, naquele momento, era o grande inimigo teórico da industrialização americana. Verdade, amigo do instituto Milenium!
Ser a fazenda do mundo não era o sonho americano, mas um pesadelo contra o qual o setor privado e o governo lutaram para que não se materializasse.
O Brasil, cuja revolução industrial aconteceu com cem anos de atraso, também teve seu conflito indústria/agricultura desde a monarquia. Contudo, os produtores rurais levaram a melhor – pobre Barão de Mauá e seus pares – graças a influência que sempre tiveram junto ao estado Brasileiro.
Recentemente comemoramos o acordo MercoSul e União Europeia. Mais uma vez o agronegócio levará vantagem e a indústria ficará vulnerável à concorrência. Como se não bastasse o atual abandono da indústria nacional, o governo Bolsonaro quer iniciar um novo ciclo extrativista avançando sobre a Amazônia. Tal política tende a tirar, o foco do investimento industrial, uma verdadeira “maldição dos recursos naturais”, segundo alguns economistas supersticiosos.
A indústria brasileira possui, apenas, 11,3% de participação no PIB (dados de 2018), retrocedemos ha mais de 60 anos. Para termos uma ideia, Em 1956, quando Juscelino Kubitschek tornou-se presidente, a participação da indústria no PIB era de 24,1%, e o Brasil, naquela época, era considerado um país ainda agrário.
Infelizmente, a frase do economista Pedro Malan, ministro da Fazendo do governo FHC, “a melhor política industrial é não ter política industrial”, tornou-se o nosso modus operandis. Assim sendo, continuaremos a colher os frutos do atraso.
Albertino Ribeiro é Tecnologista de Informações Geográficas e Estatísticas
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