A possível volta de Lula ao jogo eleitoral, por Ricardo Mezavila

A possível volta de Lula ao jogo eleitoral

por Ricardo Mezavila

No início do jogo de xadrez o primeiro movimento é sempre das peças brancas, depois é a vez das peças pretas, e o jogo segue com as peças alternando. No tabuleiro político brasileiro as regras são mais flexíveis, não existe isonomia no intervalo entre as peças, o rodízio fica por conta do fisiologismo, das vantagens pessoais em detrimento do bem comum.

Nesse jogo de regras abertas, o Presidente da República se movimenta no sentido de criar uma barreira militar que garanta o seu desgoverno e suas ambições golpistas. Por enquanto, os militares têm atendido ao aceno do Presidente, mas isso não garante apoio porque estão em cargos administrativos civis e não se manifestam belicamente.

Da forma como trata a coisa pública e por ter brigado com o Partido que o elegeu, Jair Bolsonaro perdeu apoio de governadores importantes, alguns estão no jogo e são possíveis concorrentes à sua sucessão em 2022, como o governador de São Paulo, João Dória. A maioria dos governadores por região, não apoiam publicamente o Presidente, outros são declaradamente contra a sua gestão.

O cenário político não pode ser analisado sem a presença da pandemia, aliás, o combate à Covid-19 deveria ser levado ao extremo, assim o Brasil não estaria na situação de calamidade que se encontra, batendo recordes diários de mortes.

A pandemia parece que veio para o Brasil à convite de Jair Bolsonaro, porque tem recebido tratamento especial por parte do Presidente, que trabalha efusivamente para que ela se propague entre a população, fazendo campanha de placebos, negando a ciência, chutando os protocolos e fazendo campanha antivacinas.

Nesse caos político, surge o ex-presidente Lula, na verdade ele nunca esteve ausente, mesmo quando preso injustamente por 580 dias, esteve presente como observador do tabuleiro. Para muitos Lula é um mestre enxadrista, estrategista tático que inspira a esquerda e os progressistas.

Lula concedeu coletiva no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, onde iniciou sua trajetória como torneiro mecânico e líder sindical, amparado pela decisão de Edson Fachin, Ministro do Supremo, que anulou as condenações do petista impostas pela Justiça Federal do Paraná, na Operação Lava jato. 

À mídia corporativa que colaborou com o golpe e apoiou a Lava jato, Lula acenou firmando compromisso com a verdade; Ao empresariado voltado exclusivamente ao mercado, disse que é preciso crescimento com geração de emprego. 

Lula ainda mandou esse recado: “Não tenham medo de mim. Eu sou radical. Eu sou radical porque eu quero ir à raiz dos problemas desse país. Eu sou radical porque eu quero ajudar a construir um mundo justo. Um mundo mais humano”.

Com a decisão monocrática de Fachin, Lula passou a ter seus direitos políticos de volta, movimentando todas as peças de uma só vez. O primeiros a sentirem a jogada foram o próprio Presidente Bolsonaro, que mudou de opinião sobre o uso de máscaras e sobre a vacina; Quem também sentiu foi Ciro Gomes, candidato do PDT, que faz duras críticas a Lula e ao PT na tentativa de conseguir ser o nome de coalizão da esquerda para a disputa presidencial, mas com a presença de Lula, periga manter seus fiéis 12%.

Pelo lado da direita tradicional o quadro não muda muito, porque ainda não sabem quem entrará na disputa em 2022. O jogo na direita está indefinido não por falta de nomes, por lá estão como ‘balão de ensaio’, Luciano Huck, João Dória, Eduardo Leite, Luis Henrique Mandetta. O ex-juiz Sérgio Moro concorria a uma chapa, mas depois do vazamento dos áudios com sua imparcialidade, sua candidatura tornou-se insustentável e temerária.

Pesquisa do Ipec – Inteligência em pesquisa e consultoria -, realizada antes da coletiva de Lula, mostrava que o ex-presidente liderava em potencial de votos. Após a coletiva, saiu levantamento de intenção de votos do Instituto Atlas. Segundo a pesquisa se a eleição fosse hoje, Bolsonaro teria 32,7% dos votos contra 27,4% de Lula, no primeiro turno. No segundo turno Lula venceria com 44,9% dos votos, contra 36,9% de Bolsonaro.

Se a maioria da 2ª Turma do STF fizer prevalecer a decisão de Fachin, o que é o mais provável, as acusações contra o ex-Presidente serão julgadas pela Justiça do Distrito Federal e a tramitação terá que partir do zero.  O MPF terá que abrir nova denúncia e o tempo pode favorecer à prescrição, considerando que Lula tem idade superior a 70 anos. 

Fato é que Luis Inácio Lula da Silva, demonstrou ao país com um discurso institucional, que pode ser o cara que vai colocar as coisas em seus devidos lugares. A começar pelo tabuleiro que, a partir de agora, está sendo arrumado e as peças sendo colocadas em suas posições. 

Ricardo Mezavila, cientista político

Redação

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