Brasil não tem ambições globais que justifiquem embaixada em Jerusalém

Jornal GGN – O analista de relações exteriores Roberto Simon publicou artigo na Folha de S. Paulo deste sábado (30) avaliando que o Brasil sob Jair Bolsonaro não tem “ambições globais” que justifiquem a transferência da embaixada de Israel de Tel Aviv para Jerusalém, conforme o capitão reformado prometeu aos seguidores evangélicos durante a campanha.

Bolsonaro viajou a Israel neste final de semana, mas já não promete com ênfase consumar a transferência de embaixada, sinalizando que vai sugerir a abertura inicial de um “escritório” em Jerusalém.

Segundo Simon, o Brasil, diferente da Guatemala – que, assim como Bolsonaro, seguiu os passos de Donald Trump na questão Israel – tem muito a perder e nada a ganhar com a transferência de embaixada. Isso porque a Guatemala ao menos demandou dos EUA uma contrapartida de seu interesse – que, no caso, foi ter apoio para suspender, na ONU, o financiamento de uma comissão internacional que investigava corrupção política.

“O precedente guatemalteco pode ajudar a iluminar o debate no Brasil sobre o que significaria, na prática, o reconhecimento de Jerusalém. Seria uma decisão custosa, a nos assombrar muito além do mandato de Jair Bolsonaro. Mas os principais argumentos usados contra a ideia —sobretudo, a suposta ausência de ganhos imediatos e o ‘inevitável’ revés comercial— provavelmente estão errados”, anotou Simon.

Para ele, “Jerusalém reforçaria as credenciais de Bolsonaro como aliado estratégico. E um duro revés comercial é improvável: a questão palestina é hoje secundária a países como Egito e Arábia Saudita, e indisposições poderiam ser compensadas, por exemplo, com apoio bolsonarista contra o Irã.”

“Mas o Brasil — uma democracia continental, entre as dez economias mundiais — não tem as ambições globais da Guatemala. Nesse sentido, os riscos são altos e de longo prazo. Eles incluem nossa perda de relevância como grande articulador em âmbito multilateral. E, numa perspectiva histórica, estar entre os grandes que golpearam a solução de dois Estados enquanto ela já padecia em estado terminal. Levaria tempo para reverter esses danos.”

Redação

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