Escola Sem Partido: Professores não podem esconder sua visão política dos alunos

Por André Azevedo da Fonseca
Nenhum professor escapa do julgamento que os estudantes fazem da sua prática. Por isso, assim como não é possível sair na chuva sem se molhar, não há como ser um educador sem se colocar diante os alunos e ser avaliado por eles. Das manifestações de respeito e admiração, às chacotas à boca pequena nos corredores; do interesse vivo em sala de aula ao boicote explícito ou velado; estudantes jamais deixam de interpretar os sinais emitidos pelos professores e reagir de acordo com esses estímulos.
Daí a importância de o professor revelar aos alunos a sua visão de mundo — incluindo as suas concepções políticas — com franqueza e naturalidade. Pois na prática, quer o professor conte aos estudantes ou não, a turma apreende os sinais através da leitura dos nuances de sua atuação.
Mesmo quando finge neutralidade, sem perceber, o professor sempre se revela: seja com um comentário despretensioso, seja na expressão de genuína afetividade ou, ao contrário, de indisfarçável antipatia. E acima de tudo, a ideologia se revela na forma como o professor exerce a sua autoridade: o autoritarismo que silencia a turma tem uma natureza oposta da autoridade democrática que garante o aprendizado por meio da dinâmica de falar e escutar.
Alunos não são uma caixa vazia, como as pedagogias antigas supõem. Na verdade, eles são ricos de vivências extra-escolares e estão em constante ebulição, reagindo permanentemente não só ao conteúdo das disciplinas, mas também às mensagens verbais e não-verbais que o professor jamais deixa de emitir na sua dinâmica de comunicação.
Contudo, é indispensável ter consciência de que a forma pela qual os estudantes percebem a visão do professor tem importância decisiva para o aprendizado. Ora, se os alunos precisam cochichar entre si para conversar sobre o abismo entre o discurso e a prática do professor, como confiar no que ele diz? É nesse sentido que negar a expressão de uma concepção de mundo que, na prática, é nítida aos olhos dos estudantes, é uma forma certeira de quebrar vínculos indispensáveis à relação pedagógica.
Por isso que uma das preocupações centrais da prática docente deve ser a aproximação cada vez maior entre o que o professor diz e o que ele faz, ou o que a professora promete ser e o que ela realmente é. Incluindo aí a reflexão aberta e autocrítica sobre os seus valores, as suas próprias contradições e, naturalmente, sobre o seu compromisso em superá-las.
André Azevedo da Fonseca é professor e pesquisador na Universidade Estadual de Londrina.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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