Golpe de Estado na Tailândia: o Brasil deve romper relações diplomáticas, por Percival Maricato

Uma porção de generais tailandeses lembraram a década de setenta na América Latina, dando um golpe típico no país. Por que militares e não dentistas, engenheiros ou jardineiros dão golpes de estado? Por que a sociedade, nos mais diferentes países, permite que eles se organizarem em escala hierárquica e tenham acesso a armas potentes. Os generais, por sua vez, nos países subdesenvolvidos (emergentes!!!) aproveitam dessa hierarquia e dessas armas para mandar oficiais subalternos e soldados calarem o restante da sociedade civil.

No caso da Tailândia, determinaram a dissolução do governo, suspenderam a vigência da Constituição, permitiram o funcionamento do Senado e mantiveram o fisco ativo, cobrando impostos, determinaram censura a imprensa, ou seja, passaram a governar sem nenhum  limite, sem qualquer controle legal, decidem e impõem o que  julgam conveniente para assumir o poder absoluto. Claro, os civis devem continuar trabalhando e pagando impostos, senão como administrar o estado, pagar soldos e etc.

É preciso que os demais países democráticos reajam imediatamente e isolem o regime fora da lei da Tailândia. É o que se espera do Brasil. E pouco importa que ideologia ou rumo tentem impor ao país. O isolamento e a derrubada do regime de exceção seria exemplar, para que outros generais do mesmo tipo pelo mundo pensassem duas vezes antes de por de lado a sociedade civil e tomar o poder como se a nação fosse “cosa nostra” ou algo parecido.

Outra lição do episódio é que as turbulências possíveis em uma democracia propiciam esse tipo de intervenção. A sociedade, impotente diante de manifestações tumultuadas e constantes, da desordem nas ruas, de manifestações abusivas, acaba ficando contra a liberdade que o regime permite. Note-se o caso do Brasil, onde a grande maioria da população apoiava as manifestações de rua e hoje revela nas pesquisas que elas mais prejudicam que ajudam. Levado ao limite, temos uma situação nada favorável ao fortalecimento do regime.

Há que se considerar a existência de forças políticas que, sem conseguir acesso ao poder por eleições, ou temerosas de perder privilégios, estimulam e participam de tumultos, forma de chegar a esse mesmo poder por outros meios, golpes civis ou militares, por exemplo. Vide UDN em 1964 ou a Venezuela atual; cansamos de ver na América Latina décadas atrás. Mais recentemente, tivemos golpes apoiados por legislativos, contra presidentes eleitos (Honduras e Ucrânia).

Golpe é golpe. Espera-se que o Brasil corte suas relações diplomáticas com a Tailândia, trabalhe por seu isolamento no planeta, apoie todas as forças políticas que lutarem pela redemocratização.

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

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  •  
    Eu gostaria de sber o

     

    Eu gostaria de sber o seguinte:

             Na história do Brasil, há alguma política externa pior do que esta?

  • Era o que tavam armando por aqui no ano passado

       Criam um caos no país depois chamam o exército pra  "botar ordem".

  • Antigamente eu achava que os

    Antigamente eu achava que os militares eram supervilões que botavam os tanques e tropas na rua, derrubavam governos e se impunham a toda sociedade civil na marra. O tempo passou e eu aprendi que eles só fazem isso porque tem civis-traíras junto com eles na patranha. Aqui no Brasil os civis-traíras achavam que os militares derrubariam o governo Jango e depois entregariam a rapadura para eles. Como passou muito tempo e isto não aconteceu, os civis-traíras, especialmente os que detinham o comando dos meios de comunicação, inventaram as direitas-já. Só a globo mesmo, parceirona da ditadura, é que tentou melar o movimento. Que saco! Passados 30 anos acho que fiz papel de bobo em sair vestindo camiseta amarela por aí como o jornal dos frias me incentivou a fazer. O pior é que a gente abre o faceburro e acaba constatando que tem um monte de bocós que acham que algum militar bonzinho deveria dar um golpe para acabar com esta bandalheira que está por aí. É nisso que dá se informar pelo pig: o sujeito começa a acreditar que estamos mesmo à beira do caos. Na falta de militar, eles se contentam com um justiceiro que bota petistas na cadeia, mas deixa mensaleiros plumosos disputarem até o governo em seus estados.

  • Cortar relações?

    Como se cortar relações fosse desligar o telefone na cara de alguém. Não é assim tão óbvio e fácil. Existem relações comerciais, contratos, brasileiros lá, tailandeses aqui. O contexto é complicado.

  • se não me engano...

    já fizeram isso várias vezes..............................................................

    sempre acontece quando as contas bancárias dos generais ficam negativas

  • nos países com cidadãos

    nos países com cidadãos armados até os dentes não há golpe de estado.

    por que será?

  • Menos, Percival, menos

       Não vem com esta mania de esquerdinha anos 60, palpitando sobre o que vc. conhece de orelhada, pois se a cada vez que tem um golpe de estado na Tailandia, os paises rompessem relações com país, todas as embaixadas lá existentes, incluindo a nossa, seriam intinerantes, o país teve mais de 15 golpes nos ultimos anos.

        E o pior, para quem conhece um pouco mais que vc., aprendam que o país é dividido, melhor ainda "fraturado",entre o norte agricola/ opiáceo, e o sul urbano/turistico/empresarial/quintal de multinacionais e chineses, etnicamente todos são "Thais", mas intradivididos em um sistema semelhante a castas, não hinduistas, mas com base em uma forma de budismo parecida com seus vizinhos: Vietnã, Cambodja, e Myanmar - CASTAS + Budismo.

         Os militares tailandeses, são quando oficiais superiores ( acima de major), oriundos das castas superiores da sociedade ( caso nortistas, donos de terras e gentes/ caso sulistas, oriundos do empresariado urbano), nomeados por intermédio de descisão real - Rei Bhumyndol - o Chefe de Estado tailandês - os quais, o Rei, e seu filho-herdeiro, consideram o "cimento da sociedade", pois de acordo com eles, as Reais FFAA Tailandesas, representam a sociedade.

          Para vcs. terem um "ligeira idéia" de como a "banda lá toca": Eles possuem um porta-aviões, o Chakri Naruebet , construido na Espanha, entregue em 1997 (US$ 337 M) - alguns o chamam de " o grande iate real ", todos os oficiais são "thais", os ricos de castas de origem, comandam, os "thais" de castas de origem pobre/agricola, são os comandados, não importando se estes "pobres", são engenheiros formados na espanha, inglaterra ou estados unidos, e seus comandantes tem um unico curso na FAFUPB ( faculdade de funilaria e pintura de Bangkock).

           Ocidentais, ou os afeitos e formados nesta realidade ocidental, não importando a localização no espectro ideológico, da extrema-esquerda a extrema-direita, não conhecem "porra" nenhuma, nem do leste europeu, da Asia, ou Africa - apenas palpítam.

  • Qualquer semelhança... não é coincidência

    Fui me informar sobre o Golpe na Tailandia ... E vendo este vídeo explicação, algo me pareceu muito familiar ao Brasil...

    Porque será? Será porque quem faz os golpes e incentiva os "coxinhas" são sempre os mesmo americanos???

    http://www.youtube.com/watch?v=JU0SBsR3rIE

    (Veja o vídeo e tire as suas próprias conclusões.)

    • Nada a ver com americanos.

      Nada a ver com americanos. Informe-se com maior conhecimento das especifidades de cada Pais, como explica o Junior 50 abaixo, os EUA ainda estão analisando se vão manter os acordos com o novo governo.

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