O Entreguista (Parte II), por Joelma Lúcia Vieira Pires

O Entreguista (Parte II)

por Joelma Lúcia Vieira Pires

O entreguista modelar pertence à esfera privada, é escravo dos seus desejos e dos interesses de sua esfera íntima, entre família e amigos, mas também seus comparsas. Desvaloriza o sentido do compromisso com a justiça social, considera a ascensão social como questão de uso da força bruta e das trapaças ocultas. O entreguista modelar usa a tragédia para a manipulação, a covardia é sua identidade e a mentira a sua companheira. O seu lema de vida é: para ele e os seus tudo, e para os outros a penúria e a desolação. É o espertalhão. Usa o Estado como meio para a apropriação privada. Por isso, representa a imposição de um projeto privado por meio da força e da violência, tem as armas como instrumento de poder e de coerção. O entreguista modelar é força e corpo mítico para alienados e ressentidos, desses que ignoram e desprezam o universo literário e permanecem mergulhados nas profundezas da virtualidade digital da vida marcada pelo imponderável temperado pelo falso. Ademais, são impotentes para a responsabilidade da democracia e preferem o refúgio da caverna do autoritarismo.

O entreguista modelar opera o progresso e a modernização dos tecnocratas de porão. É cúmplice da elite decadente, cafona, deslumbrada e hipnotizada pelo atraso, que usa de tramas ilegais para enganar e assumir o poder, mas sempre em condição de submissão aos donos do capital em âmbito transnacional, com a certeza de vantagens. O entreguista modelar mobiliza os extremistas religiosos como parte da sua base de sustentação. É comparsa de empresários religiosos de plantão que cativam almas alucinadas e atormentadas que buscam a salvação em forças e formas divinas disponíveis. Considera os lúcidos oponentes e fracos e o alienados seus aliados.

O entreguista modelar despreza a diversidade cultural, persegue professores lúcidos, intelectuais críticos, jornalistas independentes, artistas conscientes, índios, pobres e miseráveis e, por conseguinte, ataca a arte, a cultura, o meio ambiente e a liberdade de expressão. Ignora a Constituição Federal e as instituições que preservam a cultura da cidadania e a integridade humana. O entreguista modelar repudia os direitos humanos, sempre flerta com a morte e censura a vida. Condena quem ama a liberdade como expressão da libertação coletiva. O entreguista modelar defende quaisquer formas de escravidão e jamais saberá o que é a condição humana, pois rejeita a esfera pública, ignora a política e desconhece o compromisso com o bem comum e o destino público.

O entreguista modelar não tem na auto-estima um traço psicológico firme, senão o contrário, é um objeto do poder e da dominação, é a melhor encarnação do capitalismo predador e desagregador. É um traidor do seu país e do seu povo, é um subordinado invertebrado do capitalismo financeiro e rentista transnacional e dos seus representantes. O seu projeto para o país é a destruição, a condenação e a exclusão. Defende a tortura deliberadamente, reproduz práticas do nazismo e do fascismo, promove o genocídio da população, dissemina a peste ao seu povo e impõe a sua solução mercadológica para o lucro dos capitalistas desregrados. É negacionista, é terraplanista, é a criatura dos golpistas. O entreguista modelar pretende ser reconhecido internacionalmente como o feitor do mal, banaliza a barbárie e a injustiça social.

O entreguista modelar repudia qualquer vestígio do Estado de bem-estar social. Executa as mais desumanas reformas trabalhistas e desconstrói todos os direitos sociais. Incentiva a exploração do seu próprio país por meio da invasão e da privatização. É inimigo do mundo que denuncia a insensatez e a perversidade do capitalismo neoliberal. É recusado pelo mundo da justiça e da democracia que reafirma a importância da esfera pública. O entreguista modelar é legitimado e assegurado pelo grupo de iguais que representa o capitalismo do mercado neoliberal. O entreguista modelar fomenta todas as guerras híbridas e armamentistas contra o seu povo e seus vizinhos correspondendo ao interesse do seu supremo governante do imperialismo colonizador. É escravo dos desejos de poder do troglodita perturbador, e perturbado, golpista e exterminador. O entreguista modelar é propagador do totalitarismo e do militarismo e expressa a suposta virilidade empregando o terrorismo. É o completo agregador da caquistocracia, o sistema de governo que reúne os piores, os menos qualificados e absolutamente inescrupulosos. O entreguista modelar é contra qualquer democracia que assegure a condição do Estado republicano. É déspota e se orgulha da sua herança e condição de ditador. O entreguista modelar reduz quase todos aos seus interesses de lucros e resultados. O seu objetivo é a permanência no poder para favorecer alguns em detrimento dos direitos de todos os outros, é um aproveitador.

Joelma Lúcia Vieira Pires é profa. Associada na Universidade Federal de Uberlândia

 

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