O papel do Estado e da indústria bélica no sucesso tech de Israel, por Lígia Zagato

do blog de Paulo Gala

O papel do Estado e da indústria bélica no sucesso tech de Israel

por Lígia Zagato

A história bem-sucedida do setor de TI de Israel é, em grande medida, a história recente de sucesso do próprio país. Durante as décadas de 1950 e 1960, o Estado israelense adotou planejamento de longo prazo e políticas industriais tradicionais, em geral protecionistas, para fomentar setores e indústrias específicos, como os de têxteis e defesa.

Na época, o desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia não era uma meta e as políticas de ciência e tecnologia (C&T) decorreram principalmente de esforços de instituições públicas de pesquisa, enquanto as atividades de pesquisa e desenvolvimento dos setores civis privados eram praticamente inexistentes (Breznitz, 2007). No entanto, como demandas altamente tecnológicas da defesa aumentaram progressivamente, o desenvolvimento do setor de TI contou com a externalidade positiva do incentivo governamental a setores de alta tecnologia. O setor privado começou a representar um papel importante depois da criação de uma agência pública, a Secretaria do Cientista-em-Chefe (Office of the Chief Scientist – OCS), lançada em 1968.

Desde o princípio as políticas industriais promovidas pela OCS focavam quase exclusivamente no desenvolvimento de capacitação para a criação de novos produtos baseados  em P&D. As políticas estatais de P&D em Israel passaram a progressivamente considerar as empresas do setor privado como principais agentes de P&D e o Estado como fornecedor de capital para essas atividades. A partir dessa visão, o papel da agência passou a ser disseminar know-how de universidades e do setor de defesa para setores industriais civis, de modo a promover o desenvolvimento de capacidade tecnológicas no mercado privado. Além disso, cabia à OCS coordenar negociações entre representantes de P&D privada e pública. Com isso, em menos de vinte anos, Israel despontou como protagonista na produção mundial  de TI, tendo empresas locais como pioneiras em muitos nichos de hardware e software, como o protocolo de voz sobre internet (VoIP), encriptação, inspeção de circuitos, proteção e antivírus, impressão digital e firewalls (Breznitz, 2007).

Referencia:

Breznitz, D. (2007) Innovation and the State – Political choice and strategies for growth in Israel, Taiwan, and Ireland. New Haven/Londres, Yale University Press.

Redação

Redação

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  • Por amor de Deus, entendo que queiram demonstrar o importante papel do Estado na economia mas, esse país, a meu ver, não pode ser exemplar. Que desenvolvimento é esse que exclui a parcela árabe da população, privando-a de seus direitos mais básicos?

  • Não exclui. Vinte por cento dos israelenses são árabes muçulmanos e cristãos, com direitos trabalhistas, direito ao voto, frequentam universidades, etc., como qualquer outro israelense. Àqueles que você chama de excluídos não têm nenhum interesse em ser cidadãos de Israel e querem viver em um país independente de Israel que um dia se chamará Palestina.

  • Spin - off

    É o termo que chamamos na industria de defesa quando tecnologias/produtos são "desclassificados" e encaminhados, negociados, vendidos ou cedidos, para industrias/laboratórios/universidades, ligadas ao espectro civil.
    Em Israel hoje, as tecnologias/produtos mais oriundos do complexo industrial/tecnológico de defesa, os mais valorizados, encontram-se na area cibernética, como a NSO Group ou a Verint ( é americana em termos, na real é israeli)
    Outra informação importante sobre o complexo israeli, sua história, é a grnde influência e financiamento de capitais estatais, no inicio franceses e depois e ainda norte americanos; outra informação importante é referente a expansão externa destas industrias, ou através de associações, ou parcerias e mesmo simples aquisição de empresas ( ocorreu e ainda ocorre no Brasil ).

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