O trabalho de recuperação nas Filipinas após a passagem de tufão

Da Deutsche Welle
Ainda com 2 mil desaparecidos, país aproveita a ajuda de organizações humanitárias internacionais. Depois do abastecimento de primeira necessidade, inicia-se fase de reconstrução, que inclui treinamento profissional.
As salas de aula provisórias na cidade de Tacloban, nas Filipinas, não passam de mesas numa tenda branca, doadas por uma organização humanitária. No entanto já é, em si, um sinal de esperança as escolas estarem novamente funcionando desde o início desta semana, na região mais atingida pelo tufão Haiyan. Jörg Fischer, que coordena a operação da Cruz Vermelha Alemã (DRK) no local, informa que as 56 salas de aula foram montadas com a ajuda da organização.

Passados dois meses da catástrofe, ele considera esperançoso o clima entre a população da cidade. “Muita coisa foi feita, o progresso é claramente visível. Quando estive em Tacloban, em 11 de novembro, os cadáveres jaziam pelas ruas, por toda parte havia cheiro de decomposição.” Agora os mortos estão enterrados e as ruas foram desobstruídas. Ainda não se pode falar de uma recuperação plena, mas “as pessoas recomeçaram a viver a vida delas”, assinala Fischer.

Entretanto, numerosos assentos permanecem vagos nas escolas reabertas. “Apenas a metade dos nossos alunos voltou”, comenta Maria Evelyn Encina, diretora da escola de San Roque, próximo a Tacloban. Dos demais, não há qualquer notícia desde o tufão. “Eles podem estar em campos de refugiados ou na casa de parentes.” Ou entre as quase 2 mil pessoas ainda tidas como desaparecidas.

Ajuda a longo prazo

Imagem via satélite do tufão sobre as Filipinas

Desde a catástrofe já se passaram quase nove semanas. No dia 8 de novembro de 2013, o ciclone tropical Haiyan passou pelas Filipinas, arrastando para a morte mais de 6 mil habitantes e deixando sem teto 4 milhões. Num apelo recente, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Unocha, na sigla em inglês) pediu novos donativos para os que necessitam urgentemente de abrigo.

Algumas organizações, como a Arbeiter-Samariter-Bund (ASB) ou a Cruz de Malta alemã concluíram suas missões no local e planejam a partir da Alemanha suas futuras operações. Outras, como a Cruz Vermelha e a Care, permanecem atuando nas regiões de crise humanitária. Ambas já se encontravam nas Filipinas antes da catástrofe: a DRK há cinco anos, a Care já há mais de seis décadas.

Nas primeiras semanas após o Haiyan, o foco era a ajuda humanitária imediata, na forma de abastecimento de água, alimentos, mosquiteiros ou artigos de higiene. Nesse meio tempo, os funcionários já podem se concentrar em outros setores. “Agora começou a fase da reconstrução, agora se trata de construir casas que sejam mais resistentes a futuros tufões”, explica Jörg Fischer.

Haiyan deixou um rastro de morte e desolação

Mensagens positivas

O coordenador calcula que a reconstrução de uma cidade como Tacloban, com 200 mil moradores, vá durar de dois a três anos, opinião partilhada pela funcionária da Care Sandra Bulling. Logo em seguida à passagem do ciclone, ela foi distribuir mantimentos na Ilha Leyte: 20 quilos de arroz por pessoa, peixe enlatado e seco, óleo e feijão.

“Há algumas semanas começamos também a distribuir material de construção e ferramentas, sobretudo lonas de plástico, mas também martelos, pregos e cordas”, relata Bulling. Muitas das casas que ela viu pela ilha são erguidas com materiais errados ou inapropriados, por isso agora a Care aposta também no trabalho de formação profissional. “Nos próximos meses, ou provavelmente um a dois anos, nós vamos treinar carpinteiros e lhes mostrar como construir casas mais fortes.”

Sandra Bulling, da Care, na Ilha Leyte

No fim de novembro, Sandra Bulling retornou às Filipinas. Ela lembra que essa foi uma de suas missões mais difíceis, mas ao mesmo tempo faz um balanço final positivo. “A colaboração com as autoridades locais funcionou muito bem. E as pessoas estavam incrivelmente motivadas a começar imediatamente com a reconstrução.” Muitos sobreviventes se apresentaram voluntariamente à Care, oferecendo ajuda na distribuição dos pacotes humanitários.

Disposição para ajudar, otimismo, espírito combativo: essas são impressões que a funcionária da Care levou consigo para casa. E o encontro com uma menina, três dias depois do tufão. Sua família perdera a casa, procurava objetos úteis em meio aos destroços, e a garota encontrou seus livros de escola.

“O sol apareceu. Ela foi para fora, secar os livros; queria poder estar logo de volta à escola.” Bulling se perguntou se ela própria ou sua família teriam reagido assim, tão logo após a catástrofe, se teria tido forças de olhar imediatamente em frente. “Achei isso simplesmente admirável, essa coragem de dizer de imediato: ‘A coisa precisa continuar, de algum jeito.'”

Dois meses mais tarde, o desejo da menina se torna realidade, com a reabertura das escolas em Tacloban.

 

Redação

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