Sobre uns números, por Gustavo Gollo

Sobre uns números, por Gustavo Gollo

Há um erro evidente na “estimativa” do PIB chinês de 2016, de 11.232, bilhões de dólares, feita pelo FMI, quase repetindo o valor do ano anterior, de 11.226 bilhões. O erro decorreu de subestimações da economia chinesa, que superou, ano após ano, todas as expectativas divulgadas nos meios de comunicação ocidentais. O equívoco nunca foi corrigido, de modo que as estimativas subsequentes, dos anos de 17, 18 e seguintes, continuam baseadas nele. CIA, e Banco Mundial seguem o mesmo erro. Os números apresentados sustentam a crença de que a China ainda é a segunda economia do planeta, informação repetida, agora, sempre que a imprensa americana se refere à economia chinesa.

O erro pode ser visto aqui:

https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_past_and_projected_GDP_(nominal)

No início de 2017 a China alterou sua metodologia de avaliação do PIB incorporando dados sobre turismo e outros, anteriormente expurgados da aferição. O resultado foi um aumento no crescimento do PIB de 0,3%. A notícia foi divulgada no ocidente como uma surpreendente retomada econômica chinesa; correspondeu apenas a correção metodológica. A verdade imporia aumentos nas estimativas da economia chinesa em vários outros anos, fato sempre ocultado.

Nos últimos 12 meses, a valorização da moeda chinesa frente ao dólar foi de 10%. O fato tem relativamente pouco significado real, mas, face ao valor do PIB, esta mudança de escala deveria ter este mesmo impacto, dada a imposição do dólar na metodologia de avaliação do PIB. Nada se fala sobre isto. Sabe-se, no entanto, que o GDP-PPP, o PIB corrigido, propicia uma avaliação da atividade econômica muito mais precisa, exatamente por levar em consideração o fator de escala dado pelo valor de paridade entre as moedas. Embora o GDP—PPP ofereça uma avaliação muito mais precisa da atividade que o PIB simples, despojado do fator de correção de escala, a medida incorpora um fator de subjetividade muito maior que a outra, de maneira que se pode adivinhar ter havido uma fortíssima depleção na estimativa da economia chinesa, como de costume. Mesmo sob tal aferição, a economia chinesa goleou a americana em 2017 por 23,194 bilhões a18,569. A estimativa para 2018, mesmo sob expectativa tão conservadora, é de 25,176 a 19,417. O placar vai se dilatando.

Minha estimativa é de que a economia chinesa corresponda hoje a, pelo menos, uma vez e meia a americana.

O presidente americano anunciou que imporá, semana que vem, uma forte taxação sobre o aço importado, outra sobre o alumínio. Os meios de comunicação americanos alardearam a possibilidade de retaliação chinesa — originalmente, o grande alvo do “America first” era a China. Os chineses estão na décima segunda posição entre exportadores de aço para os EUA — atrás de Canadá, primeiro, Brasil, segundo, e outros —, e estão se divertindo com as trapalhadas do presidente americano, que, deste modo, exorta os países à liderança chinesa. Ah, lembra dos BRICS?

 

Redação

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