Ao retomar a velha bandeira lulista de reforma política numa Constituinte exclusiva, Dilma Rousseff tenta matar dois coelhos com uma só cajadada.
Primeiro, dá uma resposta ao sentimento difuso de protesto observado nas manifestações pelo Brasil. Ao sugerir que as pessoas possam votar por “algo”, Dilma oferta uma opção de representatividade no processo político.
Parte do que se vê nas ruas é justamente isso: o sentimento de exclusão que o “sistema”, essa entidade etérea que tem nos políticos sua face mais visível, impõe aos cidadãos. É para esse público que a proposta está direcionada.
O segundo ponto da presidente é jogar para o Congresso parte do problema. Desde que decidiu falar e ocupar espaço, na sexta-feira, Dilma também trouxe para si a mira das cobranças.
Assim, além de sugerir “pactos” a governadores e prefeitos, fez sua mais vistosa sugestão com uma esperteza: ela depende de o Congresso agir.
Se for feito o plebiscito, também terá de ser alterada a Constituição, que não permite constituintes exclusivas. E isso só o Congresso pode fazer, por meio de uma PEC.
Aí a pressão estará toda nas costas dos parlamentares, que estarão com a missão de permitir que um grupo de pessoas (que não eles) mude a regra do jogo político. Não por acaso, o tema foi evitado durante anos. Um grave problema colateral será a sensação de que rompimento do tecido institucional, já que que deputados e senadores estarão quase literalmente com a faca no pescoço.
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