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Dilma desfez ilusão tucana

A entrada de Fernando Henrique Cardoso na campanha de José Serra merece algumas observações imediatas. Todo mundo achou natural e justo que o ex-presidente se apresentasse no palanque eletrônico, com linguagem dura e finalidade eleitoral precisa. Ninguém falou em aparelhismo, dedaço, interferência indevida.
FHC resolveu ajudar Serra  quando o candidato do PSDB corre o risco de cair fora do segundo turno. É o último navio do PSDB, a cidade de São Paulo, que corre o risco de naufragar.  A possibilidade de uma derrota — para quem quer que seja — ameaça transformar Sào Paulo num pesadelo tucano,  muito mais do que  pesadelo petista, como anunciaram tantos sábios de plantão quando Lula decidiu entrar na campanha.
Fernando Henrique foi para o palanque numa hora em que Serra procura vários atalhos para parar de cair. Um deles, é falar mal do bilhete único mensal de Haddad sem mostrar o rosto — apenas uma assinatura, no canto da TV, num anuncio de um personagem sem-cabeça. Há publicitários que adoram esse tipo de coisa. Mas Hillary Clinton abusou tanto desse truque, nas primárias de 2008, que ajudou os aliados de Obama a questionar sua lealdade,  também. (Outra coisa é que Haddad precisa, urgentemente, explicar melhor como essa ideia, comum em vários países de transporte publico decente, poderá funcionar em São Paulo). A entrada de FHC na campanha marca um novo desenho no convívio entre o ex-presidente, Dilma e Lula.
A carta de Dilma Rousseff a FHC, quando ele fez 80 anos, foi mais do que um parabéns e um gesto de amizade. Para o Planalto, foi um gesto educado e respeitoso. Para os adversários do governo, trouxe a esperança de afastar Dilma de Lula e colocá-la mais perto da oposição. Numa situação em que nem o mais anunciado dos candidatos, Aécio Neves, se mostra com ânimo para ir a luta, e a fome presidencial de José Serra não anima nem os aliados próximos, a cooptação de Dilma parecia  uma cogitação remota, indizível, mas interessante.
Se a coisa evoluísse, seria possível voltar ao Planalto sem fazer força. Interessante, não? Repare como os elogios a Dilma, a seu “pragmatismo”, a “faxina ética”, a sua “maturidade” e assim por diante se tornaram mais frequentes depois que ela falou bem de FHC naquela mensagem. Quando ela subiu nas pesquisas, os analistas passaram a ressaltar seus méritos próprios – inegáveis – deixando de lado a herança decisiva do antecessor. Na origem dessa imensa boa vontade, encontrava-se a ideia (para vários  colunistas isso  se transformou em certeza absoluta desde que Dilma foi escolhida  para disputar a eleição ) de que ela poderia romper com Lula, sendo recebida de braços abertos pela oposição ao dobrar a primeira esquina.
Essa esperança foi reforçada pelos termos – considerados elogiosos demais dentro do PT – que Dilma empregou na carta. Mas a realidade, cedo ou tarde, costuma falar mais altos do que as ilusões. Impossibilitado de tentar levantar Serra e, ao mesmo tempo,  retribuir  a hipocrisia de seu aniversário, FHC decidiu bater duro em Lula. Também foi a TV, onde falou do mensalão petista, certo de que terá a boa vontade alheia para não  ser lembrado do mensalão tucano, que incluiu a mesma turminha de Marcos Valério e até o dinheirinho fácil do Visanet, tão celebrado pelos ministros do Supremo nos dias de hoje.
Acabou ouvindo  uma resposta no mesmo tom. A oposição já estava dizendo que Dilma ficaria de fora da campanha em São Paulo. A presidente apareceu ontem na campanha de Haddad. Marta Suplicy também está no palanque. Não faria isso sem apoio de Dilma. As coisas da política ficam claras outra vez. É bom para todo mundo, especialmente para o eleitor.
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