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Gaseificação é alternativa para biomassa

Do Brasilianas.org

Gaseificação é alternativa para biomassa

Por Dayana Aquino

A gaseificação da biomassa da cana-de-açúcar pode ser uma alternativa na corrida pelo etanol de segunda geração. A técnica, embora ainda incipiente para este tipo de material, promete maior rendimento, ganhos ambientais e uso em diferentes indústrias.

As pesquisas com a gaseificação devem ser beneficiadas com a instalação do Centro de Desenvolvimento de Gaseificação de Biomassa (CDGB) no Parque Tecnológico de Piracicaba (SP). O projeto, recentemente pré-aprovado pelo BNDES, está em fase de detalhamento ao banco de fomento. O CDGB deverá receber investimentos de R$ 80 milhões, viabilizados por uma parceria entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o BNDES.

De acordo com o professor Fernando Landgraf, diretor de inovação do IPT, embora ainda não aplicada na indústria do etanol, o procedimento não é novo, e vem sendo estudado e utilizado em outros países com o carvão e a palha de milho. Na China, a gaseificação é economicamente viável no processo com carvão mineral como matéria-prima, em uma produção com escala muito elevada. Não há a possibilidade, no entanto, de utilizar no mesmo processo a biomassa da cana, pois as duas matérias primas são muito diferentes, o que impede a produção casada.

O processo termoquímico também pode ser uma alternativa para o etanol de segunda geração, que é o aproveitamento do bagaço da cana para transformação em etanol. De acordo com Fernando Landgraf, o método não é mais curto do que o bioquímico, em que as reações para transformar a biomassa em etanol ocorre por meio de enzimas. É apenas alternativo.

No entanto, hoje, embora já esteja comprovada a possibilidade de uso dos dois processos para o aproveitamento da biomassa da cana, as duas tecnologias ainda não são economicamente viáveis. Enquanto no processo bioquímico os cientistas buscam a enzima ideal para quebrar a celulose, o processo termoquímico busca tornar o processo menos oneroso.

O desafio para os pesquisadores da gaseificação é o pré-tratamento da biomassa. O bagaço não pode ir direto ao gaseificador, têm que ser moído e transformado primeiro em bio-óleo ou pó, procedimentos que encarecem o processo. As pesquisas no instituto devem se concentrar na torrefação e na pirólise.

Para o diretor do IPT, os ganhos na geração de energia também podem ser significativos. Atualmente, a indústria é avançada em relação ao rendimento na cogeração, que pode chegar a percentuais de 25% a 27% de aproveitamento por meio da queima em caldeiras com temperatura média de 700ºC. Já o processo de gaseificação joga o gás produzido em uma turbina de grande potência, o que permite o aproveitamento melhor do calor, que ultrapassa 1000ºC. Nesse processo o rendimento pode chegar a 40%.

CDGB

De acordo com o professor, algumas empresas já demonstraram interesse em apoiar o projeto, principalmente da indústria química, já que o gás também pode ser aplicado na produção de biopolímeros. Cada empresa deve contribuir com R$ 2 milhões ao longo de sua execução do projeto. São apoiadores a Oxiteno, Petrobras, Brasken e Cosan. Também colaboram o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP) e IPT. Além disso, está em andamento uma articulação pelo IPT, junto com o CTC e o CTBE, para a formação de um consórcio com empresas públicas e privadas, além de institutos e universidades do Brasil e do exterior.

A atual fase do projeto está voltada para a produção do gás. Para os primeiros cinco anos está prevista a produção de 500 kg/hora de gás de biomassa. Além do bagaço, outras matérias-primas de biomassa serão pesquisadas.

Os parceiros industriais investirão conjuntamente na planta piloto de gaseificação e, isoladamente, nos projetos de pesquisa do aproveitamento de gás de síntese. Essas duas fases terão apoio da Rede Nacional de Combustão e Gaseificação, que conta com projetos de pesquisa financiados pela FAPESP.

Um papel fundamental da planta piloto será aperfeiçoar os equipamentos empregados na gaseificação. Durante os três anos de operação da planta, deverão ser processadas 3 mil toneladas de biomassa.

Um dos principais desafios do projeto é reduzir o custo do investimento. “A literatura internacional afirma que o investimento é de cerca de US$ 3 por watt, e nós temos que otimizar esse valor, chegando a US$ 1,5 por watt”, disse Fernando Landgraf, diretor de inovação do IPT.

Luis Nassif

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Tags: energia

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