A credibilidade das instituições, por Percival Maricato

Não são incomuns as pesquisas que procuram medir a credibilidade das instituições e a de baixo merece estudos e debates, pois indica que há problemas graves para resolver. Surpreendente a credibilidade das Forças Armadas (68%), que chegou a ser quase zero no final da ditadura. Hoje é a maior entre as instituições pesquisadas. Certamente há influência de sua discrição atual, distanciamento da política, sempre mal vista pelo povo, do intervencionismo, politização, ranço conservador, aliança submissa aos EUA, que a cercou durante a ditadura e no período anterior, quando mais parecia um outro partidopolítico. A diferença era que disputava o poder não por votos, mas medindo o número de tanques dos muitos pretensos golpistas x os fiéis aos governos eleitos pela sociedade civil. Em patamar elevado também se situa a Igreja Católica, certamente pelo mesmo motivo: distanciamento dos inevitáveis debates sobre problemas do dia a dia,  especialmente os políticos.

Assusta a imagem do Congresso (17% de credibilidade) e dos partidos políticos (6%),  mesmo considerando-se que são as instituições encarregadas dos desgastantes debates do cotidiano. Esse descrédito é certamente o maior problema da sociedade, pois, Congresso e partidos são teoricamente os instrumentos básicos da democracia. Felizmente, em outras pesquisas, esta demonstra credibilidade bem maior e crescendo. A melhora da imagem do Congresso e dos partidos depende da reforma política, a mãe de todas as reformas. Outras pesquisas feitas mostram que a grande maioria dos parlamentares, os grandes partidos, as nossas maiores lideranças, até a Presidente da República entendem essa necessidade e têm algumas propostas homogêneas. O que não se admite pois, é que seja protelada. Em 2015 a sociedade toda deve se preocupar em empurrar a reforma política.

Se tiver que ser empurrada por etapas, a cláusula de barreira deve ter prioridade. A proposta de reduzir os partidos representados no Congresso a quatro ou cinco, tem apoio de mais de 70% dos deputados e senadores e maior ainda entre a população.  Basta acabar com os partidos bondes e acabaríamos com grande parte da corrupção e do corporativismo, do loteamento de cargos e negociatas, de verbas para emendas de interesse pessoal. O PT e o PSDB estariam entre os maiores beneficiados, já que não precisariam das siglas amorfas, sem ideologia, que fazem alianças por conveniência de seus líderes. A sociedade saberia quem é quem, um parlamentar corrupto teria que ser punido imediatamente ou seu partido correria o risco de perdes eleições (ao contrário dos dias atuais, onde poucos se importam com partido e há uma geleia geral).

Temos ainda o grupo composto pela Imprensa Escrita, Emissoras TV, Grandes Empresas, Governo Federal, Poder Judiciário e Polícia, todos entre 30% e 43%, muito menor do que se poderia esperar. Esses números significam que a maioria da sociedade não acredita nessas instituições. O descrédito no Poder Judiciário talvez seja o mais preocupante, eis que ele é fundamental para solução de conflitos individuais, sociais e institucionais. Mas e a Imprensa, por que estaria tão desacreditada, se tudo que tem a fazer é relatar fatos? A resposta está na editoração das notícias, na distorção provocada pelo partidarismo político excessivo.

Também é terrível saber que 77% da população na acredita em sua polícia, algo porém, compreensível, ante a violência, tanto dela mesmo como decorrente do aumento da criminalidade e da corrupção que grassa nas suas divisões. Os grandes empresários, por sua vez, não estão tão distante das demais instituições em credibilidade.

Há aí muitos números para se pensar no fim de semana.

Percival Maricato

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

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