A imprensa e a construção do inimigo interno, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A imprensa e a construção do inimigo interno

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A Constituição de 1967, emendada em 1969, garantia a integridade física e moral do detento. A regra não se aplicava aos acusados de serem comunistas, pois eles eram torturados e até mortos pelos agentes da ditadura militar.

O moinho do mundo girou e ganhamos uma nova Constituição em 1988. Ela garante o princípio da legalidade, a presunção de inocência e o devido processo legal. Mas José Dirceu foi condenado e preso porque não provou sua inocência e Lula foi obrigado a recorrer de uma sentença condenatória que o responsabilizou por receber, a título de propina, um imóvel cuja posse e propriedade ele nunca teve. Todos os bens legitimamente de Lula foram bloqueados, menos o Triplex objeto de crime (pois o imóvel estava e está em nome do seu verdadeiro proprietário).

Durante a ditadura, policiais como Sérgio Fernando Paranhos Fleury e militares como Carlos Alberto Brilhante Ustra estavam acima da Lei. Os suspeitos e prisioneiros que caíram nas garras deles não estavam nem mesmo abaixo dela. Eles não eram seres humanos. Na fase atual, procuradores e juízes também se colocam acima da Lei. Os petistas que se tornam réus não são considerados titulares dos benefícios prescritos nela. Eles são Untermenschen?

A igualdade de direitos perante da Lei, garantia expressa tanto na CF/1967 quando na CF/1988, não foi e não é uma realidade no Brasil. Cá, por força de desvios históricos (golpe militar de 1964 e golpe judiciário/parlamentar de 2016) a desigualdade se torna uma realidade através da ação de servidores públicos, sejam eles policiais, militares, procuradores ou juízes.

Esta desigualdade é socialmente aceita mediante construções ideológicas diariamente divulgadas pela imprensa. De 1962 á 1964 e mesmo depois, a imprensa brasileira demonizou os comunistas. Eles foram responsabilizados pela crise, pela desordem, pela violência e pelo atraso do país. Há mais de uma década os petistas e o PT são acusados de corrupção pela imprensa, pela mesma imprensa que protegeu e protege políticos corruptos como FHC, José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Aloysio Nunes, etc…

A duplicidade moral dos jornalistas, que desumanizaram os comunistas e desumanizam os petistas, criou o contexto social em que a desigualdade jurídica entre as vítimas de perseguições e os demais cidadãos se tornou e se torna uma realidade policial e judiciária. Os crimes ontológicos, éticos e gnosiológicos que a imprensa cometeu e que agora comete não foram nem julgados, nem condenados, nem expurgados da realidade brasileira. Muito pelo contrário, vários jornalistas continuam diariamente criando um contexto que justifique o sacrifício ritual dos petistas perseguidos ferozmente pelo MPF.

Vários jornalistas brasileiros do período 1962/1988 sujaram as mãos de sangue ao apoiar, com lucro pessoal, a ditadura militar. Agora, alguns deles e seus colegas mais novos, estão lavando as mãos nas lágrimas dos familiares daqueles que foram injustamente condenados à prisão por que presumivelmente cometeram crimes que não foram comprovados (mãe de José Dirceu, filha de José Genoino, etc…).

Os líderes de esquerda, porém, parecem inclinados a perdoar os jornalistas e a tolerar empresas de comunicação intolerantes e até reforçar e consumir o veneno que elas divulgam. Assim, francamente não chegaremos a lugar algum. A esquerda precisa construir sua própria imprensa e parar de dar atenção e reforço aos jornais, revistas e redes de TV fomentaram e fomentam a barbárie policial e judiciária no Brasil. Enquanto seguirem construindo um inimigo interno passível de ser brutalizado por policiais ou desumanizado por juízes a imprensa deve ser considerada e tratada como inimiga pelos partidos de esquerda. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro

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  • Rede Globo: inimiga número 1 da democracia

    Concordo em gênero, número e grau com o articulista. Há muito tempo, por exemplo, o campo progressista já deveria ter publicamente chancelada a Rede Globo como a inimiga número 1 da democracia, no Brasil. Claro que tal atitude não derrotaria, de imediato, a empresa amiga da ditadura, mas seria tremendamente pedagógico e poderia suscitar muitas discussões interessantes.

  • imprensa livre, comunicação

    imprensa livre, comunicação livre entre seres humanos..

    já é hora, após a revolução da informação dos ultimos 20 anos era esperado...

     

    bora lá:

     

    AFTER.TV

     

    pra todos , no mundo todo.

    TODOS SE ENCONTRAM NO AFTER.

  • Rede Globo: inimiga número 1 da democracia

    Concordo em gênero, número e grau com o articulista. Há muito tempo, por exemplo, o campo progressista já deveria ter publicamente chancelada a Rede Globo como a inimiga número 1 da democracia, no Brasil. Claro que tal atitude não derrotaria, de imediato, a empresa amiga da ditadura, mas seria tremendamente pedagógico e poderia suscitar muitas discussões interessantes.

  • O Caminho do Conflito direto não foi aberto pela esquerda...

    Pelo contrário!

    O Brasil cresceu em todas as classes e as mais ricas foram as mais beneficiadas. Impulsionaram proto-fascistas para as ruas contra até mesmo a sagrada "ampliação de mercado consumidor" por questões que só psiquiatras cubanos explicam, porque os nossos estavam nas ruas indo contra a ampliação do SUS!

     

  • Comunicação de massa
    Concordo com o autor do texto, deve-se pensar que os meios de comunicação de massa estão nas mãos dos oligopolios, e estes têm o controle da comunicação de massa. Empresários como os Marinhos, Civita, Edir Macedo, Abravanel e Frias não têm nenhum interesse na liberdade de informação e na pluralidade dos meios de comunicação, não é por acaso que estes empresários do setor de comunicação são os mais ricos do Brasil.

    De norte a sul, os partidos mais corruptos do Brasil, DEM, PSDB e PMDB têm o controle de emissoras de rádio e televisão espalhadas por todo o Brasil e são ferrenhos adversários da Regulação da Mídia.

    O artigo 220 da CF/88 declara: que os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopolio.

    O artigo 54 da CF, estabelece que: deputados e senadores não poderão firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista, ou empresa concessionária de serviço público.

    Lembro-me de um vídeo do inesquecível Brizola com o jornal o Globo em mãos, falando: cuidado com que este jornal publica, trata-se de um jornal faccioso, parcial, que está empenhado apenas em defender causas que o povo brasileiro abomina, foi o sustentáculo da Ditadura, ajudou a implantar a Ditadura, manteve a Ditadura, foi a sombra da ditadura que este jornal tornou-se o centro de um império de comunicações, as organizações Globo.

    Parece piada mas nem Lula, nem Dilma priorizaram a Regulação da Mídia, esqueceram os ataques violentos, as ofensas e calúnias da Globo contra Brizola, e as respostas desafiantes deste grande político aos Marinhos.

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