As doenças graves do futebol, por Percival Maricato

Doenças graves do futebol: dirigentes, torcidas organizadas e flanelinhas chantagistas

Poucas atividades são tão queridas pela população e tão poluídas pelos males sociais como o futebol.

Começa pelos dirigentes, alguns constituindo verdadeiras máfias, que o usam para enriquecer e adquirir poder. Eles estão tanto em clubes como em entidades que centralizam a organização dos torneios.

Passa pelos chamados flanelinhas chantagistas que agem abertamente como donos das ruas onde se pode encostar um carro, próximo a um estádio. Cobram descaradamente valor bem maior que cobram os estacionamentos, sob ameaça, velada, se preciso explícita, para estacionar um veículo.  A policia até que andou prendendo alguns, por um certo tempo, mas ao que tudo indica desistiu, em mais este desafio. Eles continuam rondando campos e quando não tem jogos, cercam teatros, cinemas, outros espetáculos ou onde as pessoas se concentram. Que constatação mais óbvia da derrota da segurança pública e da sociedade? Quantas pessoas preferem não sair a rua, para não sofrer essa violência? Sim, porque pagar o flanelinha até que dá para suportar, contrariado, mas submeter-se a humilhação, ao constrangimento ilegal, a chantagem, é muito mais difícil.

Um terceira anomalia ocorre com torcidas organizadas. Reúnem massas de pessoas geralmente inexpressivas, quase anônimas em seus locais de trabalho ou moradia, que, somados, organizados, criam coragem e decidem que serão protagonistas. Nos últimos dias vimos isso acontecer no estádio do Boca Juniors, do Joinville e outros locais, repetindo agressões, sempre contra  pessoas isoladas ou grupos com menor número ou contra algum bem patrimonial indefeso. Também recentemente um grupo de torcedores do Santos espancou um palmeirense isolado, causando-lhe a morte (nem se duvida que certos torcedores do Palmeiras fariam o mesmo se pudessem). Como se sabe, esses vândalos são estimulados pelos dirigentes, recebem ingressos gratuitos, mas quando se excedem, então ninguém se atreve a confessar cumplicidade e logo são perdoados.

Não é difícil identificá-los, e bastaria levar a sério processos penais e civis, os primeiros para colocar na cadeia, por um bocado de anos os criminosos, os últimos para que ressarcissem seus clubes ou demais prejudicados (órgãos públicos inclusive, empresa do metrô etc), pelos danos que causam, que aos poucos começariam a ser mais contidos.

Poderíamos citar os jogadores, exemplos maiores da rápida ascensão social , do egoísmo, do descompromisso com os de baixo, onde nasceram. Estes pelo menos melhoraram um pouco no comportamento dentro do campo. Já não se fazem tantos romários, edmundos, djaminhas, serginhos chulapas, júnior baianos, que tumultuavam partidas e demais ambientes onde viviam com seus companheiros.  Houve casos famosos, como o de Almir, um carioca que jogou no Santos e acabou sendo assassinado, por ter usado fora de campo a mesma violência que usava dentro das quatro linhas. Mais recentemente, Dudu do Palmeiras,  que pagou 50% de seu passe por R$ 10 milhões, foi suspenso por seis meses por agredir um árbitro. Certamente nunca mais cometeria a irresponsabilidade se seu contrato estipulasse que nesses casos, teria suspenso também a remuneração e teria que indenizar o clube pelo  capital investido e sem retorno por seis meses.

Se queremos viver em uma sociedade mais civilizada, começar pelo futebol poderia ser uma boa ideia.

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

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  • Será que o problema são os flanelinhas??

    Num sistema onde menos de 5 empresas de telefonia vivem de extorquir os clientes, onde uma empresa de cerveja domina o mercado e impõe regras sobre o futebol, onde uma emissora de televisão monopolista altera o horário do jogo para não atrapalhar a novela, onde os cartolas são bandidso piores que a máfia envolvidos em todo tipo de crime, que os jogadores são uma trupe de imbecis manipulados e imbecis, será mesmo que a “extorsão declarada” executada por “flanelinhas chantagistas” merece mesmo um parágrafo inteiro sobre as mazelas do futebol? Sinceramente Sr, Percival Marcato mas o seu preconceito enraizado na sua mente contra os pobres da sociedade transformou seu texto em uma bobagem sem fim. Por essas e outras que o futebol nunca será uma “coisa do bem” porque os próprios fãs do futebol não passam de tolos preconceituosos e iludidos pela mídia e pla “paixão do futebol”, como se fosse possível se apaixonar por empresas desonestas controladas por bandidos como são os “heróicos” times desse futebol perverso do Brasil!

    • Flanelinhas

      Talvez não seja o problema principal, mas da forma com que você apresenta, um indivíduo te cobrar uma nota para "vigiar seu carro" até a hora em que o jogo começa, sob a ameaça velada de depredá-lo se não pagar, não é problema. É fruto do preconceito do Percival Maricato.

  • E alguém acredita que isso vai mudar!!!

    Basta comparar o suposto brasileiro com educação! Ele é tão mal educado quando comparado com outros estrangeiros que eu já desisti de ver as coisas mudarem por aqui. Quem sabe os meus bisnetos!

  • Adoro futebol, quando cheguei aqui em 1978

    escolhi torcer por um dos "3 grandes de Sampa", que tinha o tipo de jogo que gosto.

    Não vou a estadio há anos. Não consigo torcer por meu ex-time cujos escretes tem sido cada ano mais medíocres. 

    Só vejo jogo brasileiro num domingo de chuva sem filme nem livro interessante, i.e. quase nunca.

    Mas vejo jogos da Champion's League.

    E o 7 X 1 do ano passado me pareceu merecido, como as derrotas de 1998, 2006 e 2010. Alias desisti do torcer para a seleção da CBF quando vi a cara do Marin na TV.

    Para mim o fim da linha já passou. Uma pena.

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