Caso MPL: um Secretário da Segurança a serviço da intolerância

A postura do Secretário de Segurança de São Paulo, Fernando Grella, condenando a tentativa de acordo da Polícia Militar (PM) com o Movimento Passe Livre (MPL) mostra claramente onde se situa a raiz da intolerância na segurança pública paulista.

Na última manifestação, houve um pacto de não agressão proposto pelo MPL: a PM ficaria à distância e o MPL ajudaria a segurar os vândalos. Falhou. No final da manifestação, black blocs partiram para a quebradeira.

Segundo o G1, “como membros do movimento chegaram a fazer cordão de isolamento para proteger bancos e concessionárias, a Polícia Civil investiga a possibilidade de que o vandalismo tenha sido praticado por black blocs infiltrados no ato”. Ou seja, dentro de suas possibilidades, o MPL cumpriu sua parte do acordo. E, rompendo uma tradição de beligerância, a PM manteve-se à distância.

Não deu certo porque, terminada a manifestação, os black blocs partiram para a quebradeira. O MPL não tinha mais como segurá-los e a PM estava à distância. A quebradeira decorreu de um problema operacional, não do acordo em si.

Está-se discutindo há tempos a falta de uma metodologia da PM para atuar em manifestações pacíficas, separando manifestantes civilizados de vândalos. Esse acordo com o MPL foi o primeiro gesto – de lado a lado – para um novo modelo de atuação recíproca.

A base inicial é virtuosa e deveria ser perseguida. O vandalismo final deveria servir de base para aprimoramento do modelo, definindo maneiras da PM não ficar tão ostensiva que parecesse provocação, nem tão distante, que parecesse desinteresse.

Mas aí entra o fator Grella condenando acerbamente o acordo em si e desautorizando os oficiais de boa vontade que ousaram negociar com manifestantes pacíficos.

Comprova as conclusões de um dos Brasilianas.org sobre segurança. A PM, em si, é uma organização hierárquica, que obedece ordens. Quando os sinais da cúpula – e, por tal, entenda-se do governador e do Secretário de Segurança – são de endurecimento, endurece; quando são de contenção, se contém.

A visão medievel da segurança

O governador Geraldo Alckmin tem uma visão medieval de segurança. Foi a partir dessa visão que, na maior parte do seu governo, indicou Secretários de Segurança violentos e anacrônicos.

Um deles, Saulo Castro tornou-se responsável por dois massacres jamais apurados pelo MInistério Público Estadual: o do Castelinhos e o de maio de 2006, mais de 600 pessoas assassinadas, muitas delas sem antecedentes criminais, em represália contra a invasão do PCC.

O outro é Grella, sucedendo a um Secretário de Segurança igualmente truculento. 

A Operação Braços Abertos, da prefeitura na Cracolândia, quase foi comprometida pela ação do DENARC (Departamento Estadual de Narcóticos) invadindo a área em plena operação. A truculência mereceu nota de apoio de Grella. Pelo inusitado, supus que fosse apenas uma maneira do Secretário não se mostrar desautorizado ou tendo sido pego de surpresa.

Ele me enviou um email indignado, dizendo que tudo foi feito com seu conhecimento e aprovação.

Portanto, de-se um desconto para a PM. Por trás das infindáveis mortes em periferia, do clima de guerra que tem vitimado pessoas dos dois lados, existem oficiais tentando trazer a força para os limites da civilidade; mas existem  um governador e um Secretário de Segurança que enxergam São Paulo com os olhos de Alfredo Issa, o temível Secretário de Segurança dos anos 30.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Nassif,
    Porque os tais "black

    Nassif,

    Porque os tais "black blocks" não são presos, e quando se prende algum, este não é processado e preso? Porque nenhum deles é responsabilizado pelos seus atos de vandalismo. Eu perguntaria o seguinte: se eu, do alto dos meus 50 anos de idade, vestisse uma máscara e saísse quebrando tudo que eu visse pela frente aqui na nossa bela Poços de Caldas, você acha que eu teria por aqui alguma condecendência da PM ou do MP? Será que eu teria apoio da OAB ou da FGV?

  • O secretário de segurança e o

    O secretário de segurança e o Alckimim não estão somente a serviço da intolerância .

    Os serviços de segurança do Governo Federal ( ABIN e PF) já devem saber porque todo tipo de intolerências explode especificamente em SP .

    Intolerância nas negociações entre governo do estado e sindicatos de trabalhadores( Metrô, Professores, ônibus), intolerância contra os viciados em crack, intolerância homofóbicas, intolerâncias contra nordestinos .... .

    E uma absurda T O L E R Â N C I A com os movimentos baderneiros dos blacbosteiros .

  • Mandei e-mail para a PM

    Informando que estava indo para a Paulista quebrar vidraças e que não queria ser importunado por nenhum policial militar.

    Se os black blocs podem quebrar vidros, carros, eu também posso. Simples, assim. Esse MPL é um lixo. Vão me censurar de novo?

    Regulação de mídia sem controle de conteúdo? Duvido.

  • O grande sucesso da operação Braços Abertos

    "A Operação Braços Abertos, da prefeitura na Cracolândia, quase foi comprometida pela ação do DENARC (Departamento Estadual de Narcóticos) invadindo a área em plena operação."

    Na verdade em razão da truculencia do Grella, a operação braços abertos do Haddad é um completo fracasso. Tente passar por qualquer ponto da cracolandia, sem ser assaltado. Não é possivel o governo estadual, destruir uma operação tão, original, sensacional, fadada ao sucesso, implementada pelo nosso glorioso prefeito Haddad. É lamentável esta perseguição a um ao grande lider Haddad, escolhido pelo nosso grande lider LULA.

  • MPL e Black Bloc são diferentes?

    A impressão dos que não romantizamos nem MPL nem Black Bloc é que são duas caras de uma mesma moeda. O MPL "montou o palco" para os "anarquistas" e tinham um acordo real, naõ com a PM, mas com os mascarados. Só não vê quem não quer.

    • Óbvio, né?

      O MPL é covarde porque terceiriza a violência.

      Os mascarados são covardes porque são ... mascarados.

      E quem seriam -além da imprensa que protege (o incidente no Rio foi um ponto fora da curva que obrigou-a a recuar, temporariamente), os covardes que dão carta branca aos mascarados?

      Estou indo para a  Paulista quebrar umas vidraças e aí de um policial militar que ousar chegar perto de mim.

  •  
    Integrantes do MPL

     

    Integrantes do MPL negociaram ação de depredação de black blocs

    Stanley Burburinho

    20 de junho às 19:51

     

    Integrantes do MPL negociaram ação de depredação de black blocs

    http://oglobo.globo.com/brasil/integrantes-do-mpl-negociaram-acao-de-depredacao-de-black-blocs-12952276 /Membros do MPL disseram: “ainda não, só no final, na Marginal”

    Enquanto alguns manifestantes tentavam conter violência, outros foram vistos liberando quebra-quebra ‘no final’

    POR MARIANA SANCHES
    20/06/2014 22:30

    Manifestação contra a copa do mundo em São Paulo, na última quinta-feira: MPL teria negociado atuação dos black blocs. - Marcos Alves/19-06-2014 / Agência O Globo

    SÃO PAULO — No protesto que terminou nesta quinta-feira com a depredação de agências bancárias e de uma concessionária de carros de luxo, integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) passaram todo o ato negociando a forma de atuação dos chamados black blocs. Embora alguns tenham tentado conter os vândalos durante a manifestação, O GLOBO flagrou alguns jovens do movimento — que ganhou popularidade ao pedir a redução da tarifa do transporte público de São Paulo — garantindo aos black blocs que poderiam partir para o quebra-quebra no final do protesto, já na Marginal Pinheiros.

    Adeptos da tática black bloc se misturaram aos manifestantes do MPL no meio da tarde de quinta-feira, na Avenida Paulista. Alguns diziam estar ali para fazer a segurança da manifestação e protestar com violência.

    Quando a marcha começou, os mascarados tomaram a frente da passeata. Com escudos improvisados (em que se lia a palavra “Nhoque”, uma sátira ao “Choque” da PM) e pedaços de pau, eles abriram caminho pelas ruas da capital. Uma integrante do MPL pediu para que os black blocs prestassem atenção a possíveis policiais infiltrados (chamados de “P2” ou “vermes”) que estariam ali para prender integrantes do movimento.

    Quando dois black blocs quebraram os vidros de um carro de reportagem, foram contidos. Membros do MPL disseram: “ainda não, só no final, na Marginal”. A mesma frase foi repetida quando eles depredaram agências bancárias.

    Ao chegarem à Marginal Pinheiros, os black blocs ocuparam a via expressa e queimaram pneus, enquanto o MPL se concentrava na pista local para gritar palavras de ordem e tocar música. Mais tarde, os mascarados levantaram uma barricada na pista local. Nesse momento, um integrante do movimento foi autorizado a furar o cerco e sair com o carro que dava apoio ao MPL.

    Um black bloc orientava os demais aos gritos: “Não faz nada que esse é nosso. É nosso”. Era o salvo-conduto para que o MPL deixasse o local, e a destruição começasse. Em meio à confusão, alguns black blocs reclamaram: “O MPL diz que é pacífico. A gente fica para tomar porrada e segurar a polícia, e eles correm”.

    O MPL nega qualquer acordo:

    — Em vários momentos, a gente falou para eles que o nosso objetivo era terminar o ato como planejado. Tinha pessoas adeptas à tática dos blocs, mas não necessariamente legitimamos as ações deles. Não podemos controlar. — afirmou Lucas Oliveira, membro do movimento.

    https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=297024780458810&id=223843157776973

    • Mais qual e mesmo a causa dessa Turma:

      Fico me perguntando, qual e mesmo a causa desse povo? o que queres mesmo, esses black blocs qual e a causa deles,  acho que são rebeldes sem causa

  • Cúmplice e co-autor dos crimes ali praticados

    Kd o Ministério Público, que vai responsabilzar estes agentes públicos

  • O governador Geraldo Alckmin tem uma visão medieval de

    todo e qualquer assunto; vai ver que a classe media paulista tem saudade da Idade Média!

  • muito cuidado com o MPL...

    não há nada tão estúpido como duas ou três participações que só se justificam no tempo e espaço

    MPL tem um portão que somente se abre para fora....................................é o autor na sua obra

    • procurem se informar mais...

      sobre o passado do MPL e de suas participações em movimentos sociais visando apenas tumultuar e mascarar objetivos ou bandeiras........................

      foi por isto que, inicialmente, o Jabor demonstrou toda sua aprovação e recebeu ordens para recuar

      • relembrando a primeira participação, quando tudo começou...

        desconfiem sempre de quem, saindo do silêncio, diz-se atuante para ensinar aos outros

         

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