No Rio, Movimento quer liberação de objetos religiosos em posse da Polícia Civil

Imagem: Divulgação
Jornal GGN – Militantes ligados às religiões afro-brasileiras, ao movimento negro, além de intelectuais e políticos integram a campanha “Libertem Nosso Sagrado”, que pretende realocar peças religiosas que estão em posse da Polícia Civil.
Diversas peças sagradas foram apreendidas no passado porque eram consideradas provas de crimes pelo antigo Código, datado de 1890 e que proibia a “prática do espiritismo, da magia e seus sortilégios”.
O objetivo da campanha lançada pela Comissão de Direito Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) é transferir os cerca de 200 objetos para um museu. O historiador Jorge Almícar cita o caso de Salvador (BA), onde o movimento negro conseguiu a liberação das peças após ação junto com o Ministério Público.

Leia mais abaixo e saiba mais sobre a campanha aqui.
Do O Globo
Movimento quer realocar objetos de religiões afro-brasileiras apreendidos pelo Polícia Civil
Maria do Nascimento, mais conhecida como Mãe Meninazinha de Oxum, cresceu em casas de candomblé do Rio e sempre ouviu os mais velhos contarem que existia um lugar no Centro do Rio onde roupas de santo e uma infinidade de peças sagradas de religiões com matriz africana eram mantidas “aprisionadas”. Por serem consideradas provas de crimes pelo antigo Código Penal de 1890, que proibia a “prática do espiritismo, da magia e seus sortilégios”, no passado elas eram apreendidas em terreiros e guardadas na Repartição Central da Polícia, no prédio onde hoje funciona a sede da Polícia Civil.
Há dez anos, Mãe Meninazinha foi à instituição e encontrou, além de imagens, instrumentos musicais — como agogôs e atabaques —, cuias, búzios e palmatórias, tudo exposto no Museu da Polícia Civil. Recentemente, ela tentou repetir a experiência, mas descobriu que a exposição tinha sido desmontada, e boa parte do material está armazenado. Desde então, acalentando o sonho de ver tudo liberado, juntou-se a outras mães de santo, militantes do movimento negro, intelectuais e políticos na campanha “Libertem Nosso Sagrado”, lançada pela Comissão de Direito Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e que pode ser acompanhada na página www.facebook.com/libertenossosagrado.
A ideia do grupo, que pretende marcar uma visita ao edifício e, em seguida, uma audiência pública para discutir a situação de “prisão” do acervo, é que tudo seja transferido para um outro museu. São cerca de 200 objetos que foram integrados a um conjunto batizado de coleção “Magia Negra”, tombado em 1938 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atual Iphan.
— Conversei com outros babalorixás e ialorixás e queremos tirar tudo de lá. São peças que fazem parte da historia de nossa religião — diz Mãe Meninazinha, de 79 anos, que desde 1972 está à frente de um dos mais tradicionais terreiros do estado, o Ilê Omolu Oxum, da nação Ketu, no bairro São Mateus, em São João de Meriti.
INCÊNDIO TERIA DESTRUÍDO PEÇAS
Para o historiador Jorge Amilcar de Castro Santana, militante do movimento negro e um dos idealizados da campanha, o fato de as peças religiosas terem sido reunidas na coleção “Magia Negra” demonstra preconceito, que precisa ser reparado.
— Situação muito parecida acontecia no Museu da Polícia de Salvador, mas o movimento negro, junto com o Ministério Público, agiu e as imagens foram transferidas — diz Jorge Amilcar, que espera solução parecida para o Rio. — Eram 200 peças, mas em 1989 teve um incêndio no prédio e soube que 40 teriam sido destruídas. A Polícia Civil não dá informações. Estive lá na semana passada e vi que só 10% do acervo estão expostos, e num prédio anexo.
Fernando Sousa, aluno do curso de mestrado em ciências sociais da Uerj, conta que tentou ver e filmar o acervo em duas ocasiões, mas recebeu a mesma resposta da direção: o material não estava disponível para consulta, mas o catálogo, como fotos das peças, poderia ser consultado.
— Acho que esta postura, além de dificultar o trabalho acadêmico e cultural, contribui para que continue existindo desconhecimento sobre essas religiões — critica Fernando.
O deputado Flávio Serafini conta que foi procurado por líderes religiosos e, para entender o que estava ocorrendo, fez uma visita ao museu:
— O Estado Brasileiro já reconheceu que o racismo institucional foi um equívoco, então, ele precisa agora de uma medida de reparação.
No arquivo do Iphan, documentos com carimbo da Polícia do Distrito Federal, do Serviço de Tóxicos e Mistificações, listam objetos apreendidos, como uma imagem de São Jerônimo (Pai Xangô Ogodô), o homem de machado, do raio e do trovão e uma guia de Nanã-Buruquê (Sant’Ana).
Procurada, a Polícia Civil, responsável pelo museu, não respondeu às perguntas do GLOBO. Por meio de nota, a Superintendência do Iphan no Rio disse que “está buscando parcerias junto à Secretaria estadual de Cultura para catalogar o acervo e diagnosticar o estado das peças”. Ainda segundo o órgão, conforme vistoria em maio de 2016, a situação de acondicionamento “não era apropriada”.
Redação

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