No Festival da Utopia, esquerda reflete sobre seus rumos

Jornal GGN – Aberto na quarta (22) em Maricá, no Rio de Janeiro, o Festival da Utopia reúne 5 mil pessoas, de movimentos sociais de diversos países, para debater alternativas ao modelo de desenvolvimento. No primeiro debate do festival, Aleida Guevara, pediatra e filha de Che Guevara, questionou o papel da esquerda. “Que valor tem uma esquerda que não conta com o reconhecimento popular?, afirmou, em mesa que também tinha a participação de João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da deputada estadual Ãngela Zeidan (PT) e de Washington Quaquá (PT), prefeito de Maricá.

“Se assumimos o poder e não mudamos as terríveis leis criadas pela burguesia, não podemos realizar mudanças profundas”, pontuou Aleida. Já o prefeito da cidade fluminense enumerou, entre os “horizontes utópicos” para uma sociedade igualitária, a democratização dos meios de comunicação e a ampliação da participação social nos governos.

Stédile, por sua vez, falou na necessidade de união no esforço contra os retrocessos de direitos sociais.  “Precisamos reunir militantes que queiram discutir a utopia do possível. Pela primeira vez na história, o ser humano tem a consciência de que o capitalismo domina todo o planeta”, disse.

Leia mais abaixo:

Da Rede Brasil Atual

por Daniel Israel
“Se assumimos o poder e não mudamos as terríveis leis criadas pela burguesia, não podemos realizar mudanças profundas”, diz Aleida Guevara, filha de Che

Os sentidos da utopia, as possibilidades concretas de mudar o mundo e uma reflexão sobre os erros e acertos das esquerdas no mundo foram o aperitivo do Festival da Utopia aberto ontem (22), em Maricá, a 60 quilômetros da capital fluminense. Esses componentes – que fazem lembrar o Fórum Social Mundial – devem ser os ingredientes de todo o evento, que vai até domingo (26) e reúne 5 mil pessoas, participantes de movimentos sociais de mais de 30 países, com objetivo de discutir alternativas ao modelo de desenvolvimento excludente conduzido pelo capitalismo global.

E começou com postura crítica. “Que valor tem uma esquerda que não conta com o reconhecimento popular?”, questionou a pediatra cubana Aleida Guevara, filha do Che. “Se assumimos o poder e não mudamos as terríveis leis criadas pela burguesia, não podemos realizar mudanças profundas.”

Aleida estava acompanhada no primeiro debate do festival do economista João Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do prefeito de Maricá, Washington Quaquá (PT), e da primeira-dama e deputada estadual Ângela Zeidan (PT). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esperado para compor a mesa de abertura, cancelou a participação na véspera.

Quaquá, que também preside seu partido no estado e está no último ano da segunda gestão à frente da administração, também adotou espírito crítico. “Temos lutado pelo que é possível, e a esquerda tem feito muito pouco”, afirmou. “Lutar pelo possível é quase como não lutar.” O petista enumerou entre os “horizontes utópicos” a buscar para uma sociedade igualitária a democratização dos meios de comunicação, a ampliação da participação social nos governos por meio de consultas públicas via internet, a valorização da história real da América Latina e de seus verdadeiros heróis e heroínas, inclusive os brasileiros.

Stédile lembrou o recente esforço das esquerdas na formação de frentes de atuação contra os retrocessos e se preocupou em avançar na conduta agregadora. “Precisamos reunir militantes que queiram discutir a utopia do possível. Pela primeira vez na história, o ser humano tem a consciência de que o capitalismo domina todo o planeta.”

De acordo com o dirigente do MST, na indústria em todo o mundo, dentro da chamada 4ª Revolução Industrial, 65 milhões de empregos deixarão de existir. O corte no número de postos de trabalho e a inexistência de promoção do emprego e trabalho decente são, segundo ele, as marcas de encontros como o Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente em Davos (Suíça), com as presenças de chefes de Estado e empresários envolvidos na governança do capitalismo.

O MST, por exemplo, há algum tempo recicla sua agenda – de início concentrada na luta por distribuição de terras improdutivas –, incorporando fortemente em suas bandeiras a promoção das policulturas, em contraposição à monocultura e ao latifúndio, da agroecologia e da sustentabilidade. O dirigente observou que quando o meio ambiente é apropriado pelo capital, a natureza deixa de servir aos interesses mais básicos do ser humano. Citando o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, o coordenador no MST observou que a própria “salvação do capitalismo” passa pela estatização dos sistemas financeiros.

Stédile lembrou a edição recente de uma bula papal de cunho ecologista, com alertas sobre os efeitos nocivos da ação humana à biodiversidade, e elogiou a atuação do papa Francisco para “nos tornemos mais conscientes de nossas ações no meio em que vivemos”.

Utopia do inimigo

Aleida Guevara criticou o governo do Estados Unidos e a recente reaproximação do país com Cuba, que ela classificou como uma “utopia do inimigo”. “Eles têm, há séculos, a utopia de se unir à ilha. É seu sonho irrealizável. E agora estão mudando os métodos. Eles perceberam que cometeram erros com o povo cubano, trataram a revolução cubana com um bloqueio criminoso. E agora falam de abrir novas negociações”, afirmou.

Aleida acredita que uma possível normalização da relação entre os dois países só será possível com a extinção da lei que facilita a permanência dos cidadãos cubanos ilegais, “os únicos no planeta que tem esse privilégio”, com o fim do bloqueio econômico e com o fechamento da base naval estadunidense em Guantánamo.

 

Redação

Redação

View Comments

Recent Posts

Comunicação no RS: o monopólio que gera o caos, por Afonso Lima

Com o agro militante para tomar o poder e mudar leis, a mídia corporativa, um…

6 horas ago

RS: Por que a paz não interessa ao bolsonarismo, por Flavio Lucio Vieira

Mesmo diante do ineditismo destrutivo e abrangente da enchente, a extrema-direita bolsonarista se recusa a…

7 horas ago

Copom: corte menor não surpreende mercado, mas indústria critica

Banco Central reduziu ritmo de corte dos juros em 0,25 ponto percentual; confira repercussão entre…

8 horas ago

Israel ordena que residentes do centro de Rafah evacuem; ataque se aproxima

Milhares de pessoas enfrentam deslocamento enquanto instruções militares sugerem um provável ataque ao centro da…

8 horas ago

Governo pede ajuda das plataformas de redes sociais para conter as fake news

As plataformas receberam a minuta de um protocolo de intenções com sugestões para aprimoramento dos…

9 horas ago

As invisíveis (3), por Walnice Nogueira Galvão

Menino escreve sobre menino e menina sobre menina? O mundo dos homens só pode ser…

12 horas ago