Jornal GGN – Economias familiares que dependem do comércio e agricultura, 50% de trabalhadores informais, altas taxas de subnotificação e a crise política sob o comando da oposição são alguns dos cenários que explicam a falta de controle da Bolívia com o coronavírus, fazendo o país andino ultrapassar 140 mil contagiados e 8.694 mortos, sendo hoje o quarto país com mais óbitos por habitantes no mundo.
Os dados revelam que a Bolívia está hoje à frente até do Brasil no número de mortes, comparado à população nacional: são 75,5 falecidos por Covid-19 por cada 100 mil bolivianos.
Há um mês e meio, os jornais locais já davam conta de que o país latino-americano, sob a gestão da interina opositora à Nicolás Maduro, Jeanine Áñez, só perdia para o Brasil entre os países mais afetados da América Latina.
No segundo dia do mês de setembro, o país atingia um recorde diário de falecidos por Covid-19, 102 mortes em 24 horas, segundo os registros do Ministério da Saúde boliviano. As cifras mais altas anteriores haviam sido registradas nos dias 5 e 29 de agosto, com 92 mortos. Os números recordes também ditava o ranking mundial: em setembro, estudos da Universidade Johns Hopkins dos Estados Unidos já indicavam que a Bolívia era o 4º país com mais mortes por coronavírus em comparação aos contágios e o 6º em comparação à população.
Ainda em agosto e, um mês antes, em julho, a Bolívia já estampava manchetes em jornais da América Latina por registrar mais de 2 mil casos diários de contágios. E foi naquele mês que, em meio a uma crise política e altas taxas de subnotificação, com os números supostamente reduzindo, em contradição à saturação de hospitais no país, a interina Jeanine Áñez decidiu reabrir os isolamentos em uma fase denominada “pós-confinamento”, retirando diversas restrições.
A flexibilização liberada pela opositora do ex-presidente Nicolás Maduro, permitindo os bolivianos sair normalmente de suas casas, confirmou o que os analistas previam: o aumento dos contágios nos meses seguintes, em setembro e outubro. Uma das poucas restrições que se mantinham, a de evitar aglomerações, também não foram seguidas pelo pleito eleitoral no qual Áñez apostava sua confiança no centrista Carlos Mesa, que acabou perdendo para Luis Arce, o candidato de Evo Morales no MAS, que obteve um triunfo de 55% dos eleitores.
Antes das votações, que tiveram mais de 7 milhões de bolivianos inscritos e a maior participação histórica do país, de 87% dos eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da Bolívia, comícios eleitorais e festejos também aglomeraram os bolivianos nas semanas anteriores ao 18 de outubro.
A epidemia atingiu rapidamente as regiões mais populosas do país: Santa Cruz, La Paz e Cochabamba. Um país que as economias familiares dependem, principalmente, do comércio e da agricultura, além de um 50% que são trabalhadores informais, também justificou a retirada das restrições nestes locais que, desde junho, começaram a liberar os trabalhadores por questão de sobrevivência.
A subnotificação também foi um dos grandes problemas que permeou o monitoramento do avanço ou diminuição dos casos no país latino-americano. Porque em um dos ápices da pandemia, em julho, o país não dava conta das cifras, somente sabia-se que em um prazo de 5 dias, de 15 a 20 de julho, 85% até 90% dos 420 mortos fora dos hospitais eram suspeitos da doença.
As mortes “extra-hospitalares” chamaram a atenção quando a polícia boliviana passou a ter a tarefa de recolher estes cadáveres em casas e ruas do país. E o relato de um coveiro que disse estar “exausto” do trabalho: “Passei a cavar de 3 sepulturas para 15 por dia”.
“Morria tanta gente que os números do governo não podiam ser corretos”, manchetou o The New York Times. “Os telefonemas para retirar os corpos inundavam a oficina forense da Bolívia. Em julho, os agentes recolheram até 150 corpos por dia, 15 vezes mais do que o normal”, continuou o jornal norte-americano que estimou que as cifras reais de óbitos durante o brote foi quase 5 vezes superior aos dados oficiais.
Até então escondido nos números absolutos sob a sua pequena população de 11,35 milhões, as notícias do conflito político que desde o ano passado deixou o país em um limbo eleitoral, governado pela oposição, teriam sido mais importantes do que o não controlado e não visto avanço da doença no país andino, enquanto em seu interior, nas palavras do levantamento do NYT, “sofria uma das piores epidemias do mundo”.
Prognósticos mostram que perda pode chegar a 10 mil toneladas; cheia começa a se deslocar…
Com o cofundador do site O Joio e o Trigo, João Peres; a pesquisadora da…
Decisão do Superior Tribunal de Justiça segue STF e beneficia ex-governador Ricardo Coutinho, entre outros…
Filme e álbum estão disponíveis em streamings e são indispensáveis como fruição. Obras de arte…
Os moradores de Eldorado do Sul estão sendo resgatados por meio de helicópteros, ônibus e…
Quando as águas baixarem, o que vai ficar exposto, como os escombros das cidades destruídas,…