A Divisão do Exército do general Mourão, por Sergio Saraiva

O Exército parece estar dividido. Isso não é exatamente novidade, para quem conhece a história da nossa República.

A Divisão do Exército do general Mourão

por Sergio Saraiva

A posição do general Antonio Hamilton Mourão defendendo a possibilidade de uma intervenção militar no cenário político brasileiro causa espanto não somente relação ao aparente pouco cuidado para com óbvio efeito perturbador que teria no quadro de desgoverno nacional. Causa espanto principalmente por ser diametralmente oposta a posição expressa por seu superior hierárquico – o general Villas Bôas – comandante do exército.

Em 29 de julho de 2017, o Comandante do Exército – general Eduardo Villas Bôas – deu uma entrevista à Folha onde estabelece uma linha de conduta muito clara para a atuação do Exército, e por conseguinte, das Forças Armadas, em relação a atual crise.

A síntese dessa linha de conduta pode ser resumida na seguinte declaração:

“Neste momento, o que deve prevalecer é a Constituição Federal e todos, repito, todos devem tê-la como farol a ser seguido”.

Quando perguntado especificamente sobre intervenção militar, dadas as manifestações de alguns grupo favoráveis a essa ação, o general Villas Bôas não deixou dúvidas:

“Como tenho dito, vemos tudo isso com tranquilidade, pois o Exército brasileiro atua no estrito cumprimento das leis vigentes e sempre com base na legalidade, estabilidade e legitimidade”.

“O Brasil e suas instituições evoluíram e desenvolveram um sistema de pesos e contrapesos que dispensa a tutela por parte das Forças Armadas”.

Em relação às cobranças feitas às Foças Armadas quanto a sua participação na Ditadura de 64, o general Villas Bôas não se constrangeu nem quando confrontado com o termos “os erros e atrocidades que cometidas” e respondeu:

“A lei da anistia, compreendida como um pacto social, proporcionou as condições políticas para que as divergências ideológicas pudessem ser pacificadas. Ela colocou um ponto final naquela fase da história. Precisamos olhar para o futuro, atendendo ao espírito de conciliação”.

“É chegada a hora de consentir que o período que engloba 1964 é história e assim deve ser percebido”.

E quando questionado sobre quadro eleitoral concluiu:

“Está nas mãos dos cidadãos brasileiros a oportunidade de, nas eleições de 2018, sinalizar o rumo a ser seguido”.

Que dúvidas poderiam haver de que o Exército se portaria pela legalidade e, portanto, como fiador das eleições de 2018? Que dúvidas poderiam haver de que as forças militares consideravam que a crise política deveria ser resolvida pela sociedade civil?

Eis o porquê do espanto em relação às declarações do general Hamilton Mourão. Não que ele desconhecesse a posição do seu comandante – o general Villas Bôas. Suas palavras deixam claro que sabia:

“Primeira coisa, o nosso comandante, desde o começo da crise, ele definiu um tripé pra atuação do Exército. Então eu estou falando aqui da forma como o Exército pensa. Ele se baseou, número um, na legalidade, número dois, na legitimidade E número três, não ser o Exército um fator de instabilidade, ele manter a estabilidade do país”.

Então, como alguém que “estava falando da forma como o Exército pensa” faz a seguinte declaração:

“Nós temos planejamentos, muito bem feitos. Então no presente momento, o que que nós vislumbramos …ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso. E essa imposição não será fácil, ele trará problemas, podem ter certeza disso aí”.

Em uma organização regida pela hierarquia e pela disciplina, tal qual as Forças Armadas, não existe espaço para tamanha diferença de posicionamento sobre um mesmo assunto.

Além disso, o general Mourão é um oficial em vias de passar para a reserva, está no topo e no final da carreira – deverá ser reformado em março de 2018. É, portanto, um oficial experimentado. Tampouco, foi surpreendido por uma pergunta impertinente e acabou por ser mal interpretado na resposta. Estava à vontade e seguro durante a palestra na maçonaria – onde deu as declarações que tratavam da intervenção da Forças Armadas.

Sobre o tamanho desse calculado ato de indisciplina já tratamos anteriormente – existe método nisso.

O Exército parece estar dividido. Isso não é exatamente novidade para quem conhece a história da nossa República. Se é assim, então, há o grupo do general Villas Bôas – legalista – e o grupo do general Hamilton Mourão – intervencionista. Para ficar no uso de um eufemismo.

Que o grupo do general Mourão é poderoso dentro da arma, demonstra-o o fato de Mourão não ter sido punido após suas declarações.

Mas o que quer o grupo do general Mourão?

No dia seguinte, comentando a repercussão de sua palavras disse ao jornal Estadão: “não é uma tomada de poder. Não existe nada disso. É simplesmente alguém que coloque as coisas em ordem…”

O que fez com suas declarações foi dar um ultimato aos poderes constitucionais. Moveu uma peça. Espera agora um movimento correspondente do outro lado.

O que ocorrerá caso o movimento não ocorra na direção esperada? Que atitude tomará o grupo do general Villas Bôas?

Os bastidores do poder em Brasília devem estar agitados.

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia na arquibancada para, a qualquer momento, ver emergir o monstro da lagoa.

https://www.youtube.com/watch?v=p54iVJoKUVs

Redação

Redação

View Comments

  • Caro Nassif
    Não há lugar que

    Caro Nassif

    Não há lugar que não haja uma insatisfação generalizada, até emsmo entre os golpistas. Não poderia ser diferente no exército.

    Nem todos são entreguistas. Nem todos são canalhas.

    Para mim, o General Villa Boas, fez uma pesquisa interna de opinião. A punição do Mourão, alguns se manifestam, a não punição, outros se manifestam. Mesmo em 64, quantos militares que não concordaram, foram presos, afastados?? O setor hegemônico foi o dos golistas.

    Saudações

  • Morinhos e Mourões: Bosta e merda

    Alvorada Voraz

    (RPM)

     

    Na virada do século
    Alvorada Voraz
    Nos aguardam exércitos
    Que nos guardam da paz
    Que Paz?...

    A face do mal
    Um grito de horror
    Um fato normal
    Um êxtase de dor
    E medo de tudo
    MEDO DO NADA
    Medo da vida
    Assim engatilhada...

    Fardas e forças
    Forjam as armações
    Farsas e jogos
    Armas de fogo
    Um corte exposto
    Em seu rosto amor...

    E Eu!
    Nesse mundo assim
    Vendo esse filme passar
    Assistindo ao fim
    Vendo o meu tempo passar
    Hey!...

    Apocalípticamente
    Como num clip de ação
    Um clic seco, um revólver
    Aponta em meu coração...

    O caso Morel
    O crime da mala
    Coroa-Brastel
    O escândalo das jóias
    E o contrabando
    E um bando de gente
    Importante envolvida...

    Juram que não
    Torturam ninguém
    Agem assim
    Pro seu próprio bem
    Oh!...

    São tão legais
    Foras da lei
    Sabem de tudo
    O que eu não sei
    Não!...

    Nesse mundo assim
    Vendo esse filme passar
    Assistindo ao fim
    Vendo o meu tempo passar
    Hey!...

  • Alguma crítica à prisão arbitraria do Al Othon???

    Você viu algum militar criticar a venda da Amazônia? Ou a condenação virtualmente à prisão perpétua, pela Lava Jato, do almirante que idealizou o programa nuclear brasileiro? Ou a assinatura, ontem, na calada da noite, pelo usurpador, do tratado que coloca nas mãos das grandes potências esse mesmo programa nuclear? Ou, ainda, as manobras conjuntas na Amazônia com o exército americano, algo inédito na nossa história, prévia a uma possível intervenção na Venezuela?

    Nada, nem mesmo de um reles sargento, quanto mais de um general.

    Do que reclamam é da "corrupção" e do "caos", dois tópicos favoritos do discurso reacionário.

    Portanto, até prova em contrário, não temos nada a esperar dos militares na luta pela democracia e contra o desmonte e precisamos nos livrar das ilusões nesse sentido.

    Por Renato Lins

     

  • "ou as instituições

    "ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso."

     

    Em que mundo vive o Gal Mourão? 

    Será que ele não percebe que judiciário que aí está não é parte da solução, mas do problema.

    Aliás, é uma das pricipais peças do problema.

    Não se deve esperar do judiciário uma solução, especialmente do STF, a menos que ele dê um cavalo de pau, fazendo uma autocrpitica.

     

     

  • A momentaneidade do exército

    “NESTE MOMENTO, o que deve prevalecer é a Constituição Federal e todos, repito, todos devem tê-la como farol a ser seguido”. - General Villas Boas

    O momento a que o General Villas Boas se referia era 29 de julho de 2017. De lá prá cá, já rolou muita água debaixo da ponte. No momento atual, 22 de setembro de 2017, é a Constituição ou a força bruta que deve prevalecer?

    Se é a Constituição, porque prendem pessoas antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória?

    Porque não se taxam as grandes fortunas?

    Porque o poder militar se insubordina ao poder civil?

    É a prevalência ou a pré-falência da Constituição?

    Militar tem bosta de galinha na cabeça.

  • Legalistas até quando?
    Se um dos fatores fundamentais para o deflagrar dessa crise foi a política adentrando o judiciário, da forma como estamos vendo, o que podemos imaginar da política se deslocando para o centro das FA um ano antes de (possíveis) eleições diretas?
    Se o General Vilas Boas é o legalista que é, ou se de fato existe essa ala legalista nas FA, não poderiam se furtar de uma ação mais firme em futuro próximo, seja um golpe preventivo, que assegure a posse do novo presidente, seja o impedimento de de manobras efetuadas por determinado grupo que que quer se perpetuar no poder (desnecessário dar nome aos bois).
    A questão é: até quando irá durar a legalidade da ala legalista em defeza da legalidade?
    Digo isso porque, por mais que o general legalista quis apenas evitar tensões que seriam desencadeadas pela punição do general intervencionista, ele não foi tão enfático na defeza da legalidade no seu pronunciamento após o incidente.

  • Ingênuo e desinformado o

    Ingênuo e desinformado o General Hamilton Mourão em confiar na Justiça.

    Aí estão "sérgio moro", Gilmar Mendes, Barroso e os "juizes justiceiros" federais. Impulsionados judicialmente por uma força tarefa do MPF e uma Polícia Federal de Curitiba partidárias. E tudo a fazer escola pais afora. 

    Aí estão a aquisição de editoras de coletas, de seleção e de divulgação de jurispudências (decisões) dos Tribunais do país  à comunidade jurídica brasileira; a aquisção de escolas e cursinhos de ingresso à magistratura, MP, Polícia, Defensorias Públicas etc; a oferta de cursos direcionados nos EUA.... para importação de uma justiça de comercio, atuarial, simbólica, do autor, estigmatizande... 

    O grande mal do país - ao meu ver - é a falta de patriotismo dos agentes do Estado e - em geral - de uma parcela influente do povo brasileiro conduzido e dirigido por uma grande mídia comercial, mercenária, criminosa e entreguista. 

    Vemos um entreguismo grassante, um afastamento, abandono e retrocesso - do atual governo federal - das políticas de combate às desigualdades, à justiça social, ao atendimento (ainda que mínimo) às necessidades básicas da gente brasileira,  arduamente incrementadas nos três últimos governos desenvolvimentistas e de defesa dos interesses nacionai.

    Vemos o domínio absoluto do capital especulativo improdutivo e argentário, em detrimento do capital produtivo criador de riquesas, empregos, segurança e bem estar social.

    Vemos, por isso (pelos vazios - criados - do Estado), uma parcela enorme de nosso povo descrente e em retrocesso sobre todos os aspectos.

     

  • Não há divisão alguma.

    Caro articulista, você ainda não entendeu. Não há dois grupos coisa nenhuma no Exército. Mourão falou o que o alto comando pensa e sempre pensou, só que não dizia. E aí inclui-se o gen. Villas Bôas, que não vai punir o subordinado, o elogiou em rede nacional e disse que sim, os militares podem intervir segundo sua "interpretação" da Constituição. Precisa desenhar?

    Quanto às declarações anteriores do comandante do Exército, tratam-se do cinismo típico dos militares ao falar com a imprensa - é, é isso mesmo, militar também mente. Mourão fez a máscara do alto comando cair, expôs os pensamentos e planos que correm solto na "confraria dos eleitos" fardados. O incômodo que foi gerado internamente não foi de divisão no Exército, foi de ter exposto ao público externo o que sempre se pensou internamente.

    1964 continua sendo cultuado pelos militares, seus erros nunca foram assumidos de fato. Continuam achando que o golpe era necessário e que era sua função fazê-lo. O Brasil só vai poder dar um salto de qualidade quando se libertar dessa chefia militar que se percebe como demirgo do País. Isso passa necessariamente por uma transformação de nossas FA, especialmente pela reformulação do processo de formação de nossos militares e dos processos de escolha dos generais.

    Transformação de nossas FA já!

  • ALERTA: a (muito!) perigosa "Fake News" de "golpe militar" (sic)

    ALERTA: a (muito!) perigosa "Fake News" de "golpe militar" (sic)

    Por Romulus & Núcleo Duro

    - A provocação do General Mourão: “se não forem capazes, através do Poder Judiciário, de barrar Lula, as Forças Armadas o farão”.

    - A sinuca de bico do General Villas Boas, Comandante do Exército: como manter a “legalidade constitucional” tendo de bater continência para um...

    (UNIVERSALMENTE reconhecido...)

             - ... chefe de quadrilha??

    - Mourão - a “síndrome do vice” (golpista!) ataca de novo: General Mourão tenta a última cartada para cacifar-se. Ao produzir a “fake news”, avaliou, corretamente, que o “seu” (?) momento era agora...

             - ... ou nunca!

    - Decifrando o “mistério” (?) narrativo: quando o (civil...) Ministro da Defesa, Raul Jungmann, para (de maneira estabanada...) mostrar serviço, cobra a punição de Mourão, Villas Boas recusa-se.

    Ora, o Comandante, corretamente, não quis promover o espetáculo reclamado pela mídia - inclusive a “de esquerda”!

    Espetáculo esse...

             – ... ANSIADO pelo próprio Mourão (!)

             - Dããããã!

    - Cumpre registrar: o Brasil do(s) Golpe(s) – e do caos “institucional” (sic) dele(s) resultante – deve MUITO ao bravo General Villas Boas. Bem como à sua resiliência cívica e altruísta – inclusive em nível pessoal e, até mesmo, físico.

    - Desastre na “blogosfera progressista”: o único a sacar o “jogo” - e a sinuca de bico - foi Fernando Brito, do Tijolaço. Evidente: ter andado tantos anos ao lado de Leonel Brizola fez toda a diferença.

    - Lamentavelmente, todos os demais blogueiros derraparam feio na nova “batalha de narrativas”. Pior: foram PAUTADOS por interesses de direita (de novo, Senhor!). Desta feita, dos mais perigosos que há: nem mais, nem menos!

    - Destaque, em especial, para a inverossímil análise dessa “nova polêmica” feita por Luis Nassif, no GGN.
     

    LEIA MAIS »

     

      • não confunda esquerdas com o q vemos nos comentários deste blog

        não confunda esquerdas com o q vemos nos comentários deste blog.

          • ;-) até que enfim senso de humor!

            As coisas sérias são mais bem pensadas se sairmos de rigidez,que pode engessar o pensamento, sairmos de certezas q parecem beirar absolutas.Tem frequentador(dos pouquíssimos q li, chegou notificação por email)q foi tão sério,tão sério q leu uma postagem minha totalmente ao contrário,repetiu uma frase minha da postagem comose fosse dele me corrigindo.Quer dizer, é muito preconceito.Por isso,é salutar um instante de riso,de música(o blogueiro é tb músico e criou a seção Multimidia do Dia,até hj tô esperando "um por fora" por tempos atrás ter sido o maior divulgador e dos mais participantes,confesso q broxei, da última vez,só vi coisa estritamente política e nada mais nocivo à arte, ao vôo, do q a tal arte engajada.

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