Economistas de circo: o desemprego é bom, por André Araújo

Por Motta Araujo

O âncora do Jornal da CBN do meio-dia teria um lugar garantido em qualquer novela da Globo: cara, postura, voz, gestual de chefe de estação do interior nos anos 30. Mas o aspecto bonachão não tira a graça dos absurdos que ele entretêm em seu horário, ideal para ouvir no carro quando se volta para o almoço em casa.

Tem um quadro chamado Call de Abertura onde hoje entrevistou um tal de Teco (que ridículo usar apelidos em conversa pública) que disse que o Banco Central está feliz da vida com o desemprego. Quanto mais desemprego mais fácil atingir a sacrossanta meta de inflação de 4,5% em dezembro de 2016. Que coisa importante, a meta é tudo na vida, o desemprego é um detalhe sem nenhuma importância. Milhões de brasileiros ferrados não é nada, o bom é O CENTRO DA META.

Que ainda exista um pensamento econômico que consagre o desemprego como ferramenta de politica econômica é um retrato cabal da pobreza, da mediocridade, da ausência de qualquer projeto mais inteligente, por parte dos “economistas” de boca cheia de anglicismos, loucos por uma carreirinha no Itaú ou no Bradesco, economistas “de porta de faculdade”, os Teco da vida e os seus ídolos, Levys e Altamires do Banco Central.

Mas será que não tem mais nenhum Delfim, nenhum Simonsen, nenhum Roberto Campos, pessoas com alguma massa cinzenta de cultura econômica dentro de uma cultura geral e politica avançada? Como é possível sequer dizer que o desemprego é bom para o Banco Central. Pensar semelhante asneira já é grave, dizer é horrível, praticar é crime.

Há 80 anos John Maynard Keynes já desmontou o pensamento ortodoxo que glorificava a reserva de desempregados como boa para o capitalismo. Combater a inflação com o desemprego é como combater a dor  de cabeça com afogamento, acaba a dor e acaba o dono da cabeça.

Para quê serve a inflação baixa? Para as pessoas poderem comprar comida a preços razoáveis, MAS se o freguês está desempregado e não tem renda, para quê serve a inflação baixa? Para quem não tem dinheiro no bolso a inflação tanto faz ser 30% ao ano ou ser zero.

O tal Teco expressa a cartilha dos economistas burros, categoria onde a burrice é mais abundante do que nas demais profissões. Politica econômica precisa saber dosar inflação com prosperidade, às vezes a inflação é necessária para reativar a economia, para aliviar as dívidas. A inflação não é uma variável no vácuo, ela decorre de outras variáveis. TRAZER A INFLAÇÃO PARA O CENTRO DA META, expressão que dá orgasmo a muitos economistas pode ser um DESASTRE para qualquer economia, hoje na Europa muitos economistas tentar fazer inflação e não conseguem.

O MODELO DE METAS DE INFLAÇÃO é um das maiores fraudes em ciência econômica, é uma política tola e viciosa, não tem que haver meta de inflação nenhuma, a politica econômica deve ser FLEXÍVEL ao máximo para se amoldar às circunstancias e ciclos. META DE INFLAÇÃO É UM ENGESSAMENTO da economia em torno de uma só variável. Não tem coisa mais burra sob o sol.

Os EUA nunca adotaram essa ideia, Alan Greenspan tem um papel antológico sobre a estupidez desse modelo que poucos países adotam. As razões dele são óbvias, qual a vantagem de engessar um instrumento de politica econômica? Para reativar uma economia paralisada a INFLAÇÃO É UMA FERRAMENTA.

Em 1933 no auge da Grande Depressão o candidato presidencial Herbert Hoover, postulando a reeleição, disse que sua política seria mais do mesmo, mais recessão para combater a Depressão. Keynes deu uma entrevista ao New York Times mostrando a burrice dessa ideia. Acabou com Hoover e abriu as portas da Casa Branca para Roosevelt, que fez o contrário, jogou moeda na economia para levantar a economia.

Qual a logica de BUSCAR O CENTRO DA META em dezembro de 2016 com a economia arrasada, no chão, desemprego nas alturas? Consegui o CENTRO DA META, e daí? Acontece o quê? Resolveu o que?

O que vai acontecer é ainda pior, vão tentar chegar nesse centro da meta, NÃO VÃO CONSEGUIR, mas pelo caminho vão destruir a economia produtiva para… NADA. A burrice é a mercadoria mais abundante do planeta.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

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  • "Centro da meta"

    Andre,

    "Centro da meta" cai como uma luva para o discurso dos palpiteiros em economia, incluídos no grupo a maioria dos economistas e os jornalistas "especialistas", estes com os seus gráficos e informações majoritariamente tergiversadas, é um mar de meias verdades.  

    Além do mais, os jornalistas de araque não têm um pingo de vergonha na cara, quando a Selic estava na casa dos 8% berravam que era um absurdo, baixa demais, agora em 13% berram ao contrário, está alta demais. 

    A onda do "centro da meta" serve para o andar de cima, sempre ele o privilegiado, agora "obrigado" a botar no bolso cerca de 7% aa limpinhos, é o nirvana tupiniquim. Já deve estar começando o estrago patrocinado pela política insana de Joaquim Levy, política de arrocho que não pode ser criticada pela oposição, já que tem a cara da oposição, e nem pelo bloco de situação, que não se sente bem em criticar determinadas atitudes do governo federal.   

  • André Araújo - TECO

    Se a entrevista com o Teco foi assustadora, imagine a segunda parte dela com o segundo neurônio Tico.

  • Nós do BC

    Mas nós do BC havemos de acabar com essa resiliência persistente, desde que mantidos constantes nossos proventos mensais salvo se substituidos por rendimentos substancialmente maiores em cargos equivalentes em corporações bancárias do mercado privado nacional ou, por transferência em matriz no exterior.

    A transferência de renda nacional para os rentistas nacionais e do exterior e para os rentistas nacionais expatriados, deve ser prova suficiente de boa-fé e servir como também eficiente prova curricular para tal feito.

    Ao estender a percepção da resiliência da demanda doméstica que sempre atrelamos à causa primária da inflação, já alinhamos ajustes da taxa SELIC entre 0,25 e 0,50 pontos percentuais até o final de 2016 quanto então com a distensão destes argumentos teremos tempo hábil para novos e sólidos arrazoados convicentes.

    Entretanto, se a banca julgar insuficiente estes argumentos pode apreciar que o propalado rápido ajuste vai ultrapassar o ano de 2015 indo de janeiro desse ano até o final de 2016 (um pouco mais se o mercado propagar permanecer elevado um risco para o centro da meta inflacionária e o BC juntamente com o PIG corroborar essa tese)

    O Copom também avalia que há dados favoráveis à queda da inflação, como início de um processão (processo de tamanho incomensurável) de perda de dinamismo no mercado de trabalho, mas alerta que os salários devem ser mantidos nos níveis mais baixos possíveis para que a cadeia produtiva venda abaixo dos custos necessários para produzir/adquirir seus bens. Alcançada essa situação quimérica o Ministro Levy afirmou que entraremos em um circuito bastante positivo sem inflação e que seria possível até mesmo reduzir os juros da Selic ao mesmo patamar do segundo colocado no ranking mundial. Depois do acesso de risos que durou cerca de quinze minutos os membros do Copom se recompuseram e encerraram a entrevista.

  • Preferências, preferências e

    Preferências, preferências e mais preferências. Isso dita tudo, inluindo o que vai no papel para laurear ou espinafrar. Começou com o colega Alexander Weber. Lembro bem quando ele profetizou que o Brasil iria sentir a falta do Mantega. Claro, claro, claro,= para as preferências ele é "burro", "fraco", e até "cachorro morto".  Percebam que tão besta quanto o mantra de "trazer a inflação para oc entro da meta" era aquele profetizado pelo outro lado, tipo: "políticas anticilicas nãos  servem". Afinal, que diabos são essas políticas anticíclicas? Que política é pró-cícleca e fora contrabalanceada pela equipe do, não custa nada repetir: "fraco Mantega"?

  • Esqueça esses economistas de rádio

    Trazer esse Teco Medina para discussões é inútil. Conheço essas figuras de minha época de GV. Por mais que faculadade se esforçasse em diversificar o curriculum,  esses alunos encabulavam aulas de Keynes e FEB (Formação Econômica Brasileira) e viviam competindo quem faziam as melhores aderência econométricas de carteiras de ações. E só. O mundo desses caras resumia-se a isso. Idolatravam o Armínio, sonhavam em montar uma gestora de investimntos (após estágiarem no Morgan Stanley ou no Goldman Sachs na Faria Lima), e nem tinham noção do que era PAEG ou PND I e II.

    Discursozinho miúdo, cheio de firulas gestuais e parlatórios, e o pior: SE ACHAM PRA CARAMBA. 

  • Burrice ou desonestidade intelectual?

    Tenho sérias dúvidas se estes economistas são realmente burros ou apenas intelectualmente desonestos. Fico com a segunda opção. Tenho certeza que a maioria sabe perfeitamente bem que esta política economica de buscar o centro da meta, usando só  a elevação de juros como ferramenta, não tem a menor eficácia e  ainda destrói a economia produtiva. Eles estão aí para isso mesmo, destruir a economia produtiva e garantir o seu butim e de seus verdadeiros patrões, o Capital Financeiro (Inter)Nacional.

    Burros de verdade são os coitados da classe média(alta) que, na ilusão de um dia chegarem a classe dominante, acredtiam piamente nos dogmas inventados pelos economistas para justificar o saque da economia real e a destruição/submissão de países ao grande capital.

     

  • Rarara!

    Eh que a CBN quer Tecos assim mesmo, que confirme a ortodoxia que sempre pregam para a economia brasileira. Desemprego? Não estão nem ai. O importante é ganharem muito com juros altos. Se o Tico estivesse la, como alguém lembrou, ai sim, teria sido uma entrevista daquelas inesqueciveis!

  • Qual seria a meta na verdade?

    Só gostaria de entender o porquê de se fixar arbitrariarmente um valor para meta de inflação alheia aos cenários econômicos?

    Aconteça ao que acontecer, deve-se ser desta forma.

     

  • http://www.independent.co.uk/

    http://www.independent.co.uk/news/business/analysis-and-features/john-maynard-keynes-new-biography-reveals-shocking-details-about-the-economists-sex-life-10101971.html

    Na nova biografia de Keynes, por Richard Davenport Hines, há uma frase antologica do grande economista: " a cada quinze anos é precisa jogar fora o pensamento economico anterior e criar outro" que ilustra a insensatez de viver por dogmas de escola em contextos complicados de grandes paises. Essa tambem foi a lição de Alan Greenspan, lia todos os dias as estatisticas de emprego, telhados, automoveis, geladeiras, fogoões, café e partir dai manobrava a economia. SER FLEXIVEL é o nome do jogo de Keynes, Greenspan e mais 15 Nobel de economia que não rezam pelo monetarismo.

    Meta de inflação é o OPOSTO do economista flexivel que o mundo precisa.

    A proposito, essa biografia de Keynes trata de sua vida pessoal, tambem bastante flexivel.

    • Heterodoxia do Greenspan

      Mesmo não rezando pela cartilha monetarista, a heterodoxia do Greenspan e dos BCs está muito longe do keynesianismo. Keynes já sabia que afrouxar a politica monetaria é inutil para recuperar a economia se não há demanda forte e incentivo para investir.

      O que os Bcs estão fazendo é inundar a economia com trilhões em papel pintado que os bancos usam para adquirir ativos reais dos endividados globais. Chamam isso de "estímulo" e os anti-keynesianos de "estímulo keynesiano".

      Mas é apenas transferencia de riqueza disfarçada de politica econômica.

       

      • No receiturario do New Deal

        No receiturario do New Deal Keynes recomendou a Roosevelt a criação de demanda através de recrutamento de jovens sem trabalho para o Civilian Conservation Corps, a quem se pagava um salario modesto para limpar estradas e parques. Seis milhões foam recrutados, criando demanda nova. Keynes fez ironia dizendo "nem que seja para eles levarem pedras de um lado da estrada para outro e no dia seguinte fazer o contrario". Criou-se tambem demanda nova por grandes obras de infra estrutura, como o aproveitamento hidro eletrico do Rio Tennessee.

        Demanda se cria facilmente se aceitar-se alguma inflação, a melhor demanda criada é a de obras publicas.

        • Isso é politica fiscal

          Gasto público, obras públicas, investimento público são instrumentos de politica fiscal, acionados quando a demanda e o investimento privado são insuficientes para impulsionar um novo ciclo de expansão na economia.

          Só que a preocupação no EUA é justamente oposta, estão preocupados com o déficit, não estão aumentando o gasto. 

          Nesse sentido não estão sendo nada keynesianos. Nem pelo lado fiscal, nem pelo lado monetário.

           

    • Hummm. O Greenspan "só"

      Hummm. O Greenspan "só" despercebeu (?) a bolha e especulação mobiliária (credito sub-prime). Acho que não lia dia a dia esse quesito.

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