Forbes e o fracasso de Zelensky antes da guerra, por Luis Nassif

Vários comentaristas de TV brasileiros, herdeiros da guerra fria, sustentam que Vladimir Putin invadiu a Ucrânia para impedir que seu sucesso econômico mostrasse as vantagens da democracia sobre a autocracia soviética.

Que tal uma análise insuspeita sobre seu governo, antes da guerra? É de Kanneth Rapoza, colaborador Senior da Forbes, uma das bíblias do capitalismo americano. É de 16 de fevereiro de 2022, com a guerra já em andamento.

Diz ele:

“Sua vitória (de Zelensky)  foi parte de um movimento global de forasteiros políticos e populistas que venceram as eleições. Ele até superou o comediante italiano Beppe Grillo, que liderou seu Movimento Cinco Estrelas a vitórias eleitorais em 2013 e 2018..”

A Ucrânia precisa de até US $5 bilhões para estabilizar a economia, informou a Bloomberg em 28 de janeiro. A moeda caiu cerca de 11% em relação ao dólar em seu pior mês passado, pior que o rublo russo. Um Hryvnia (UAH) agora lhe dará $ 0,035.

O desinvestimento líquido (fuga de capitais) na Ucrânia em 2020 foi de quase US$ 900 milhões, segundo dados do Relatório de Investimento Mundial da UNCTAD. Já está assim há dois anos. Está ficando pior.

Embora isso não seja tão “romântico” quanto soldados indo para a batalha, a atual política fiscal da Ucrânia e a pressão sobre as empresas são consideradas a razão do fraco investimento e da queda do apoio a Zelensky entre os principais líderes empresariais e a classe média. Nenhum investimento mais nenhum emprego é igual a nenhum suporte.

A frustração aumenta ainda mais porque há uma percepção na Ucrânia de que os aumentos de impostos não se aplicam a todos. Os maiores críticos de Zelensky apontarão que um de seus principais apoiadores, o bilionário Igor Kolomoisky, sob sanções dos EUA, tem recebido apoio do Parlamento para evitar impostos mais altos em suas operações de mineração.

O relacionamento de Zelensky com a empresa de mídia Kolomoisky 1+1 foi objeto das investigações dos Panama Papers sobre as contas offshore dos ricos e poderosos.

A lista de alvos de Zelensky é longa. Inclui a empresa multinacional sueca de laboratórios médicos Synevo; foi alvo do equivalente do IRS da Ucrânia por supostamente não fornecer documentos confirmando as despesas da empresa.

(…) O plano tributário incluía um aumento nas taxas de royalties para a extração de minério de manganês, mas esses membros da Rada (Parlamento) rejeitaram esse aumento. Aqueles que estão irritados com as políticas de Zelensky reclamaram que os parlamentares jogaram um osso carnudo para Kolomoisky enquanto o tiravam de quase todo mundo. Kolomoisky é uma grande parte interessada em plantas de mineração de minério ucranianas.

Enquanto isso, as autoridades ucranianas continuam a sabotar o trabalho das agências anticorrupção, fazendo o país parecer uma rede de velhos, algo que Zelensky foi eleito para derrubar.

Mesmo sem a Rússia, o risco político continua alto para investidores empresariais, estrangeiros e domésticos. Isso é tanto um vento contrário para Zelensky quanto a geopolítica.

Uma pesquisa local sugere que a maioria dos ucranianos (55%) duvida que Zelenksy tenha controle da situação com os russos, nem é visto pela maioria como capaz de enfrentar uma guerra em grande escala como comandante-chefe, informou a CNN.